05/05/2021 às 17h33min - Atualizada em 05/05/2021 às 17h33min

PCDF manda oficiar deputada Júlia após fala sobre “esquema na polícia”

Sindicato dos Delegados também informou ter recebido com "estranheza" declaração sobre supostos favorecimentos dentro da instituição

Caio Barbieri
METRÓPOLES
A Corregedoria-Geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) informou, nesta quarta-feira (5/5), que decidiu oficiar a deputada Júlia Lucy (Novo, foto em destaque), para que ela esclareça um suposto “esquema”, dentro da instituição, referente a cobrança de propinas por servidores públicos.

Em outra frente, o Sindicato dos Delegados do Distrito Federal (Sindepo-DF)
 também afirmou ter recebido “com estranheza” as declarações da parlamentar acerca de supostos favorecimentos pessoais, dentro da polícia, para acobertar casos envolvendo pessoas com “contato político”.

Os posicionamentos ocorrem um dia após o Metrópoles revelar que o vídeo 
com as afirmações ter sido alvo de representação para perda de mandato da distrital na Câmara Legislativa, por quebra de decoro.

“A Corregedoria-Geral da PCDF informa que vai oficiar a referida deputada para que informe eventuais casos de irregularidades que tenha conhecimento para que sejam devidamente apurados. Até porque, como autoridade pública, é seu dever fazê-lo. A Polícia Civil do DF, por fim, reitera o seu compromisso com a ética, a legalidade e a transparência, valores esses que pautam nossas atividades e consolidam a nossa credibilidade como orga

 

Da mesma forma, o Sindepo ressaltou que a PCDF é referência nacional em polícia judiciária, além de ser uma instituição de Estado, formada por profissionais que “oferecem trabalho de excelência à população e tem demonstrado ao longo dos anos que investiga fatos, e não pessoas, não perseguindo e não protegendo quem quer que seja”, conforme frisou a entidade.

De acordo com o sindicato, as declarações têm o claro objetivo de desqualificar o trabalho dos policiais “que se dedicam dia e noite a servir à população do DF”.

“Caso a deputada tenha ciência de algum desvio de conduta por parte de qualquer policial da corporação, seu dever é trazer a público os fatos para uma investigação rigorosa e isenta. O Sindepo permanecerá atento e não vai admitir que afirmações infundadas sejam impunemente divulgadas contra a PCDF.”

Após a publicação da matéria, a deputada Júlia Lucy encaminhou uma nota para a coluna sobre as repercussões do vídeo compartilhado nas redes sociais.

“Tenho uma longa e profícua relação de respeito e de admiração pelas forças policiais, tanto é que pertenci aos quadros da Polícia Federal por anos e durante meu mandato tenho encaminhado emendas parlamentares e trabalhado firme para assegurar a saúde e os direitos dos agentes de segurança. Em nenhum momento do vídeo menciono a Polícia Civil ou qualquer Polícia de forma nominal. O que fiz foi apenas consternar uma indignação geral contra agentes públicos corruptos e o mal que a corrupção traz para a sociedade – sem citar nenhum órgão ou corporação”, argumentou.

Entenda o caso

A Mesa Diretora da Câmara Legislativa (CLDF) recebeu, na última terça-feira (4/5), representação por quebra de decoro contra a deputada Júlia Lucy (Novo), por incitar, durante uma transmissão ao vivo, a violência contra servidores públicos que cobrarem propina. O documento é assinado por Cleider Paiva, chefe de gabinete da Administração Tegional do Gama. Ele pede a perda do mandato da distrital.

No vídeo, a parlamentar cita o caso de Paiva, também conhecido na região como “Pudim”, que foi agredido com uma série de socos desferidos por dois homens ainda não identificados. Nas declarações, ela dá a entender que o servidor apanhou por ter cobrado suborno. O material foi divulgado, primeiramente, pelo jornalista Chico Sant’Anna.

“Vocês viram aquela notícia que o chefe de gabinete da Administração do Gama apanhou? Essa história está sendo investigada. Vamos esperar um pouquinho, mas vou adiantar para vocês: o que eu ouvi é que tem a ver com cobrança de propina. Então, chegou alguém para cobrar propina, desce porrada no cara. Desce o cacete! Quero ver continuar fazendo isso”, afirmou a deputada em vídeo.

Na sequência, Júlia Lucy também sinaliza existir algum tipo de “esquema” dentro da polícia para acobertar casos denunciados. “A pessoa pode ser até inocentada na Justiça, podem até passar o pano para ele na polícia, se ele tiver esquema e se tiver contato político, mas desce o cacete nele, igual fizeram lá com o chefe de gabinete do Gama”, continuou.

No documento, Cleider Paiva afirma que a parlamentar o acusa, sem provas, e promove um linchamento público contra ele. “Como se vê, a deputada ofendeu a honra do peticionante, acusando, sem provas, de que as agressões por mim sofridas envolvem cobrança de propina (corrupção passiva). A acusação não tem qualquer fundamento e apenas demonstra seu total desconhecimento da realidade de violência e extremismo que hoje assola o país”, escreveu.

“Mais que isso, a deputada humilhou publicamente a pessoa que foi brutal e injustamente agredida. Além de toda a exposição pública decorrente da publicação das imagens, também tem que suportar o julgamento coletivo pelas acusações levianas da deputada. Demonstrou completa falta de empatia, de bom senso e de preocupação com o resultado de suas ações. Além disso, a deputada incitou a prática de crimes, sugerindo a agressão de pessoas por ela acusadas sem prova. Utilizou a sua influência pública de maneira ilícita para promover o ‘justiçamento’, a caçada de pessoas, ignorando o Estado Democrático de Direito”, emendou.

Representação

De acordo com o regimento interno da Câmara Legislativa, após ser protocolada, a representação será analisada pelos integrantes da Mesa Diretora da Casa, composta pelo presidente, vice e secretários. Não há previsão para que o colegiado delibere sobre o pedido.

Caso a representação seja aceita, a Mesa Direciona despacha o documento para a Corregedoria da CLDF, a qual fica responsável de identificar os possíveis crimes cometidos pela parlamentar.

Se o parecer do corregedor admitir a existência da quebra de decoro, o processo passará a ser analisado pela Comissão de Ética e Decoro Parlamentar antes de seguir, se referendada, para a análise do plenário.

Contatada pelo Metrópoles, Júlia Lucy se manifestou por meio de nota. Veja, na íntegra:

Só irei me manifestar sobre qualquer representação depois que eu for intimada e se houver representação e puder ler o teor do que será dito. Mas o que posso adiantar em relação a isso é que minha consciência está tranquila, porque não fiz nenhuma acusação e sei que a minha indignação em relação a quem pede e a quem oferece propina é unânime entre todos os cidadãos que encontro nas ruas.

O que eu disse sobre os envolvimentos de agentes públicos em atos de corrupção já é sabido e comprovado em diversos casos tanto no DF quanto no Brasil. Infelizmente, nosso país ainda vive em um mar de corrupção e é espantoso que quando o assunto venha à tona ele seja tratado como se fosse algo inédito, em uma verdadeira inversão de valores.

Espancamento

O chefe de gabinete da Administração Regional do Gama, Cleider Paivam conhecido na região como pudim, foi agredido com uma série de socos  desferidos por dois homens ainda não identificados. O ataque aconteceu em 27 de abril, em uma lanchonete da Quadra 13 da cidade.

Imagens obtidas pelo Metrópoles mostram o momento em que os dois agressores chegam ao local e um terceiro homem filma a movimentação. Nas cenas, é possível ver Paiva de camiseta azul, conversando com outra pessoa.

Em seguida, os homens com camisetas branca e vermelha se aproximam, e a vítima leva a primeira bofetada. Cleider foge para dentro da lanchonete, mas é perseguido. Dentro do estabelecimento, as agressões continuam.

As câmeras internas mostram ele levando uma série de socos. Em dado momento, os homens param e parecem ameaçar o chefe de gabinete. “Eu não consegui escutar o que eles disseram, não sei quem são nem por que fizeram isso”, disse Cleider ao Metrópoles.

Cleider procurou a 14ª Delegacia de Polícia (Gama Centro) na noite do mesmo dia, onde registrou ocorrência. Em seguida, foi ao Instituto Médico Legal (IML).

 


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