01/06/2021 às 06h41min - Atualizada em 01/06/2021 às 06h41min

Com ânimos acirrados por Copa América, CPI da Covid ouve Nise Yamaguchi

Senadores da comissão querem convocar presidente da CBF e antecipar depoimento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga

Com os ânimos acirrados após a Conmebol anunciar o Brasil como país-sede da Copa América 2021, a CPI da Covid entra no segundo mês de trabalho ouvindo, nesta terça-feira (1°/6), a médica Nise Yamagushi, defensora da cloroquina – medicamento sem comprovação de eficácia para o tratamento da Covid-19.

Convidada pelo presidente Jair Bolsonaro a integrar comitê de crise ainda na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta na Saúde, Nise chegou a ser cotada para assumir o cargo quando Nelson Teich, sucessor de Mandetta, deixou a pasta. A médica é apontada como integrante do “ministério paralelo” de aconselhamento a Bolsonaro durante a pandemia.

Além disso, o diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, afirmou, em depoimento à CPI, no último dia 11 de maio, que Nise propôs a alteração da bula da cloroquina para indicar o fármaco ao tratamento da Covid-19, em reunião no Palácio do Planalto.

“E sobre a preocupação com essa postura negacionista, que não quer a prescrição de medicamentos que não tenham indicativos na bula para a Covid-19. Nenhum medicamento tem. Se continuarmos aguardando esse indicativo, vamos continuar perdendo muitas vidas”, acrescenta Marcos Rogério.

A sessão, contudo, não vai se limitar ao “gabinete paralelo” ou à cloroquina. A possível realização da Copa América no Brasil gerou clima de indignação entre senadores da comissão, que viu o presidente dobrar a aposta em relação à pandemia no país, que já soma quase 463 mil mortes pela Covid-19.

Copa América
Os senadores vão usar a Copa América para tentar desgastar ainda mais o governo, ao demarcar a diferença de tratamento de Bolsonaro entre a negociação para o evento esportivo e a busca por vacinação.

Para além dos discursos indignados, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou requerimento a fim de convocar o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, a prestar depoimento à comissão da Covid.

Outro efeito prático deve ser a antecipação do novo depoimento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para antes do início do evento, que está previsto para 11 de junho.
O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), chamou a Copa América de “campeonato da morte” e classificou a atitude como “escárnio”.

“Não existe nenhuma lógica em aceitar a realização da Copa América em plena pandemia, com risco de terceira onda. A estupidez realmente não tem ideologia”, frisou o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

A Conmebol anunciou, na manhã da última segunda-feira (31/5), o Brasil como sede, após a desistência da Argentina por causa da situação da pandemia da Covid-19 e da Colômbia, em virtude da instabilidade política.

Diante da repercussão negativa, o governo recuou: o ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, disse, no início da noite dessa segunda-feira, que o evento esportivo ainda não estava confirmado no Brasil.
“Quase secretária”
Nesta quarta-feira (2/6), a comissão previa ouvir especialistas a favor e contra o chamado “tratamento precoce”. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), informou, no entanto, que nesta terça (1º/6) deverá ser aprovado o requerimento para que os senadores ouçam o depoimento da infectologista Luana Araújo.
A médica foi anunciada como titular da recém-criada Secretaria de Enfrentamento à Covid no Ministério da Saúde, mas desistiu do cargo nove dias depois, sem chegar a assumi-lo oficialmente.

Os senadores da CPI querem questionar a infectologista sobre os motivos que impediram a nomeação dela. A desconfiança é de que o nome de Luana enfrentou resistência do Planalto, pelo fato de a médica ser publicamente contra o chamado tratamento precoce.

A CPI da Covid tem o objetivo de investigar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia, e, em especial, no agravamento da crise sanitária no Amazonas com a ausência de oxigênio, além de apurar possíveis irregularidades em repasses federais a estados e municípios.

 
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