O ataque planejado por um grupo de jovens a uma escola pública do Distrito Federal, e frustrado por policiais civis da
Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), em 21 de maio, foi arquitetado friamente pelos suspeitos, entre eles uma jovem de 19 anos moradora do Recanto das Emas.
Após ser alvo de busca e apreensão, a mulher foi internada compulsoriamente em uma instituição psiquiátrica do DF. Em tom de deboche, um dos suspeitos chegou a afirmar que haveria “muitos corpinhos” pelo chão após as execuções.
As conversas trocadas pela internet, por meio de um aplicativo, revelam detalhes sobre o plano macabro que seria posto em prática após o retorno das aulas presenciais na rede pública de ensino da capital do país.
Estavam na mira, estudantes e servidores de um colégio no Recanto das Emas. Em mensagens no grupo, às quais o
Metrópoles teve acesso, a jovem alvo da Operação Shield comenta com outros dois homens que não pisava na instituição de ensino há muito tempo e precisaria fazer o reconhecimento e um mapa da área.
Como resposta, um dos suspeitos lembra que seria necessário quebrar as câmeras do circuito interno de segurança, caso os equipamentos estivessem em pleno funcionamento. O terceiro interlocutor, que participa ativamente do plano, sugere matar os funcionários da escola num primeiro momento, a fim de evitar que eles acionassem a polícia quando o massacre tivesse início.
Leia a transcrição:
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Esfaqueamento
O mesmo suspeito lembrou aos comparsas que o ideal seria “assassinar os servidores a facadas”, sem usar armas de fogo para não alertar alunos e professores com o barulho dos disparos. “Não! A gente não pode fazer barulho ainda. A gente tem que cercar eles lá em cima”, disse, no grupo do aplicativo.
O outro integrante discorda do comparsa e defende que todos na escola deveriam ser fuzilados. “Ia matar um por um.” A jovem alvo da operação da PCDF emenda lembrando ao grupo que tinha o desejo de manter pelo menos três vítimas vivas. “Eu e você mataríamos todos, exceto três garotos, que a gente deixaria sobreviver para contar o que aconteceu”, ressaltou.
O jovem que comenta em seguida garante que, se o plano fosse executado da maneira correta, pelo menos 300 pessoas poderiam ser mortas no massacre. No final da conversa, a jovem brasiliense revela o desejo de “fazer pelo menos
30 kills” (mortes). “Mas foda-se, vou morrer mesmo. Se me matarem, estão me fazendo um favor”, disse a jovem, na época.
Os três ainda não foram indiciados porque as investigações policiais de outras unidades da Federação estão em andamento. Assim, terão os nomes preservados nesta reportagem.
Operação Shield
A operação da DRCC que neutralizou o plano de ataque ocorreu em parceria com a Adidância da Polícia de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos. O massacre aconteceria quando as aulas presenciais fossem retomadas, uma vez que, devido à pandemia do novo coronavírus, os alunos estão estudando remotamente.
O coordenador do Laboratório de Operações Cibernéticas, da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Alessandro Barreto, explicou que a participação da polícia norte-americana, por meio da Homeland Security Investigations, deve-se a uma parceria entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos (EUA).
“Temos essa parceria vinculada à Embaixada dos EUA no Brasil. Estamos fazemos um trabalho preventivo de forma permanente para antecipar e neutralizar o planejamento de ataques como esse que ocorreria na escola de Brasília”, explicou.
Goiás, Rio de Janeiro e Pará
A parceria entre o Ministério da Justiça e os órgãos americanos como a Agência de Investigação de Segurança Interna (Homeland Security Investigations) ajudou a neutralizar planejamentos de massacres em sequência, em várias unidades da Federação. Jovens foram alvos de mandado de busca e apreensão em Goiás, Rio de Janeiro e Pará, apenas em maio deste ano.
Segundo o delegado federal Alfredo Carrijo, que comanda a Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do MJSP, a aquisição de ferramentas e equipamentos que aumentam o poder de monitoramento do universo cibernético é fundamental para identificar e neutralizar ameaças. “É como um jogo de gato e rato. Enquanto suspeitos tentam executar qualquer tipo de planejamento no cyber espaço, nós trabalhamos para evitar que planos sejam colocados em prática”, afirmou.
Alessandro Barreto, que coordena o laboratório, ressaltou que a presença de mulheres e jovens entre 12 e 19 anos integrando bandos flagrados na internet elaborando ataques a escolas aumentou muito. “A exemplo do que ocorreu no DF, em outros estados, nós já conseguimos perceber essa tendência de mulheres exercendo papéis de destaque nos grupos”, explicou
Massacre em creche
O
ataque ocorrido em uma creche de Saudades, no oeste de Santa Catarina, abalou o país. No dia 4 de maio, um jovem de 18 anos invadiu a instituição e, com uma espada, matou três crianças, todas com menos de 2 anos, uma professora e uma agente educadora. A polícia continua investigando para descobrir o que motivou esse crime brutal.
De acordo com testemunhas, o autor invadiu a Escola Infantil Pró-Infância Aquarela por volta das 9h30 e atacou a professora na entrada da unidade. Ele teria, então, corrido para a sala onde estavam quatro crianças, todas menores de 2 anos, e atacado as vítimas. Além delas, o jovem atingiu uma agente educadora.
A PM relatou ter recebido “diversos chamados” enquanto o jovem “golpeava alunos e professores”. Forças de segurança e de salvamento do oeste, incluindo o helicóptero Arcanjo, foram mobilizadas para atender a ocorrência.