Com camisa camuflada, calça de bolsos laterais e mochila cheia de mantimentos,
Lázaro Barbosa de Sousa, 32 anos, suspeito do triplo homicídio no DF, se preparou para passar pelo menos uma semana em mata fechada. Os detalhes de como o criminoso se organizou para fugir da região do Incra 9 foram contados por uma das vítimas do roubo com restrição de liberdade ocorrido nessa quinta-feira (10/6).
Silvia Campos, 40 anos, foi a mulher obrigada a cozinhar para o suspeito. “Ele estava com fome e mandou que fizesse algo para comer. A todo momento falava para eu não tentar nenhuma gracinha nem fugir, como a outra mulher fez”, contou. A vítima percebeu que Lázaro pegou uma mochila, um facão e começou a separar mantimentos.
O criminoso pegou peças de queijo, latas de alimentos em conserva, pacotes de biscoito, bandejas de frios e latas de doce de leite. “Ele separou tudo que podia ser consumido na mata com facilidade. Ele ainda usava um tênis de trilha e um chapéu de pescador que não tirou da cabeça em momento algum”, lembrou.
A chacareira contou que o suspeito do triplo homicídio ainda pegou dois aparelhos celulares antes de fugir, mas que um deles foi jogado fora. “Ainda encontramos as pegadas que ele deixou em uma região onde o solo era cheio de barro. Ele foi preparado para se esconder durante muito tempo”, disse.
Silvia falou ainda que o criminoso tinha porções de maconha que foram enroladas em forma de dois cigarros. Ela e um dos filhos dos caseiros que trabalham na propriedade foram obrigados a consumirem a droga após serem ameaçados.
Lázaro Barbosa está sendo caçado em Goiás, para onde a polícia acha que ele fugiu na noite de quinta, com a ajuda de um comparsa. Ele é conhecido pela polícia goiana, e é procurado por tentativa de latrocínio desde o ano passado.
Em abril de 2020, ele invadiu uma chácara, fez quatro idosos reféns, os agrediu e acertou a cabeça de um dele com o machado.
No DF, Lázaro é apontado pela Polícia Civil do Distrito Federal (
PCDF) como o assassino três pessoas (um pai e dois filhos)
na Fazenda Vidal, no Incra 9, na madrugada de quarta (9).
Buscas
Forte aparato policial foi montado para localizar o criminoso. Uma das vítimas da família Vidal segue desaparecida. Trata-se de Cleonice Marques, 43 anos. Lázaro Sousa matou Cláudio Vidal de Oliveira, 48; Gustavo Marques Vidal, 21; e Carlos Eduardo Marques Vidal, 15, marido e filhos de Cleonice.
O
triplo homicídio chocou o Distrito Federal. Os corpos estavam em um quarto, um deles sobre a cama, e os outros dois, no chão. As vítimas foram encontradas
com marcas de tiro e facadas.
A mulher foi levada pelo criminoso após o assassinato da família e continua desaparecida. A Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS) presta apoio às investigações.
Cleonice conseguiu ligar para a família pedindo socorro ao ver que a porta da casa seria arrombada. Eles chegaram rapidamente ao local, 10 minutos depois. No entanto, Cleonice havia sido levada. Cláudio Vidal ainda estava vivo. Ele conseguiu informar que a esposa havia sido sequestrada, mas ele não sobreviveu.
Uma das hipóteses é de que Lázaro tenha invadido a casa para roubar os pertences da família. No entanto, ao ver que Cleonice pedia socorro pelo telefone, ele se apressou em deixar o local do crime.
O delegado-chefe da 24ª Delegacia de Polícia (Setor O), Raphael Seixas, disse que a digital de Lázaro foi identificada na cena do crime. Segundo o policial, celulares das vítimas estavam em casa. Porções de dinheiro também foram encontradas. Não há indícios de que algo foi levado da residência.
Personalidade violenta
Laudo psicológico feito no âmbito de um dos processos contra Lázaro constatou que o homem tem características de personalidade violenta, como agressividade, ausência de mecanismos de controle, dependência emocional, impulsividade e instabilidade emocional.
Ainda de acordo com os psicólogos que assinam o documento,o criminoso tem possibilidade de “ruptura do equilíbrio, preocupações sexuais e sentimentos de angústia”.
O autor, segundo os especialistas, teve o desenvolvimento psicossocial prejudicado devido a agressões familiares, uso abusivo de álcool e drogas, falecimento familiar, abandono das atividades escolares, trabalho infantil e situação financeira precária.
“Não foi só eu”
Horas após sair da casa da família Vidal, Lázaro ignorou o cerco policial na região e teria invadido duas outras propriedades. Na primeira, ele teria chegado por volta das 4h de quinta-feira (10/6). Segundo Sílvia Campos de Oliveira, 40, o assaltante falou que teria participado do triplo homicídio
na Fazenda Vidal. Ela disse que o homem tem os mesmos traços de Lázaro.
“Ele perguntou se eu estava acompanhando o caso do triplo homicídio. E depois disse: ‘Aquele crime lá eu tava junto, mas não foi só eu’”, contou a mulher. Sílvia completou: “Falou que se a gente reagisse, faria o mesmo que fez com a outra família, que ele matou no Incra. Mandou a gente não fugir”.
Durante a fuga, ele invadiu outra chácara. Ao entrar na residência, Lázaro determinou que todos ficassem juntos, três adultos e três crianças, de 10, 6 e 3 anos. O assaltante perguntou se havia algum quarto com chave e mandou que todos se fossem para lá.
Lázaro, então, levou o veículo, um Fiat Pálio, além de cartões do banco e R$ 100 em espécie. Momentos depois, as vitimas foram informadas de que o veículo havia sido encontrado queimado.
Possuído
Segundo a Polícia Militar de Goiás (PMGO),
Lázaro Barbosa de Sousa alega estar possuído por um espírito. Ele também teria dito que “vai levar o tanto de gente que puder”. Conforme o tenente Gerson de Paula, Lázaro seria integrante de uma seita.
As informações teriam sido dadas pelo próprio suspeito a vítimas de um outro assalto que ele realizou em Goiás, no mês passado, segundo o tenente. Na ocasião, levou armas e celulares. A PMGO reuniu uma força-tarefa nesta sexta-feira (11/6) para fazer varreduras em busca de Lázaro na região de Cocalzinho, Entorno do DF.
“Ele trabalhou em chácara, conhece muito a região. Se criou no mato”, afirma o tenente. “Acreditamos que ele ainda está por aqui”. A força local conta com 80 homens e 40 viaturas para a busca.
A corporação acredita, também, que o suspeito age com apoio. De acordo com o tenente Gerson, comandante do batalhão local, uma pessoa teria ido buscar Lázaro na região do Incra 8, nessa quinta (10), logo após ele incendiar um Palio roubado.
Outros crimes
O suspeito é investigado na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) 2 pelo crime de roubo seguido de estupro. Em 26 de abril, ele teria abordado uma mulher no Sol Nascente e a estuprou.
Segundo a polícia, ele morou no Sol Nascente e em Águas Lindas (GO), no Entorno do DF, mas atualmente não tem endereço fixo e trabalha como carroceiro. A polícia investiga se há participação de outras pessoas no triplo homicídio.
Há mandado de prisão contra ele na Bahia por homicídio e três condenatórios na Justiça do DF: dois roubos e um estupro.
Em 17 de maio, Lázaro invadiu outra casa da região, próxima ao local do crime da madrugada de quarta-feira. O modus operandi foi semelhante: ele entrou na casa com revólver e faca, amarrou a família e tirou as roupas deles. Só que, daquela vez, ninguém ficou ferido.