22/06/2021 às 18h58min - Atualizada em 22/06/2021 às 18h58min

Impeachment ‘vai resolver o quê?’; a CPI ‘é um erro’, afirma o presidente da Câmara

Aliado do Planalto nega demora do governo na compra de vacinas, critica trabalho da CPI instalada no Senado e diz que não vê espaço fora da polarização em 2022

Incomodado com o trabalho da CPI da Covid no Congresso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defende que não houve atraso na compra de vacinas da Pfizer. Caso o governo Bolsonaro tenha adquirido os imunizantes antes, diz Lira, “não teria resolvido o problema da pandemia”. O parlamentar lamenta as mais de 500 mil mortes por Covid-19 no Brasil, mas alega que essa tragédia não é motivo para instaurar um processo de impeachment contra o presidente da República. De acordo com Lira, falta uma circunstância política. O presidente da Câmara ainda afirma que a reforma administrativa deve ser votada neste ano, mas promete que o texto final não vai afetar a vida dos servidores atuais. Sobre a disputa eleitoral em 2022, com Bolsonaro e Lula no páreo, ele não acredita na possibilidade de uma terceira via.

A CPI da Covid no Senado tem ganhado protagonismo na agenda do Congresso. Qual a sua opinião sobre o trabalho da comissão?

Neste momento, um CPI é um erro. A guerra está no meio. Como é que você vai apurar o crime da guerra no meio da guerra? Como vai dizer qual é o certo? Até dois meses atrás, o Chile era nossa referência. Como está hoje? Por que está desse jeito se já vacinou 60%, 70%? No combate à pandemia, não tem receita de bolo pronta. Você não sabe qual variante (predomina), se fica ou sai de bloqueio . A CPI polarizou politicamente e não vai trazer o efeito algum, a não ser que pegar alguma coisa.

O senhor não acredita que a CPI estabeleça caminhos importantes?

Não. Participei das conversas com a Pfizer, numa reunião em fevereiro com o Rodrigo Pacheco, o (Paulo) Guedes, o geral (Luiz Eduardo) Ramos e o presidente Bolsonaro. Naquela época, não tinha permissão da Anvisa e achavam que o contrato era leonino. O que dissemos? Se tem dinheiro, se tem empenho, se o mundo todo está assinando esse contrato … Então, faça. Do dia em que a Pfizer propôs ao dia em que o governo fez (o contrato), se não errei as contas, alteraria em três milhões de doses (a mais). É muita dose. Ajudaria muita gente. Mas resolveria o problema da pandemia?

Mas a Pfizer já vinha negociando com o governo desde agosto …

Mas onde ela fechou em agosto, fora dos Estados Unidos e em Israel? Tinha 500 mil doses num canto, 100 mil doses em outro. Não tinha nada grande. Israel tem quantos habitantes? Seis milhões? Um país riquíssimo, com todas as proteções. Num país como Portugal, três milhões de doses vacinam 30% da população. Três milhões de doses no Brasil não vacinam Alagoas.

Mesmo assim seria importante salvar vidas.

Não estou dizendo que não é (importante). Estou dizendo que não é a salvação da pandemia. Qualquer vida é importante. Salvar uma vida é bom demais. Agora, não sou governo. A minha atuação nisso foi fazer com que assinassem.

Há condições para abrir o processo de impeachment contra o presidente?

Não é por aí. A minha função no impeachment é de neutralidade. Não sou eu que faço o impeachment. Você quer dizer que o presidente Bolsonaro não tem voto na Câmara para segurar um pedido de impeachment? Que pedido ele não tem base de apoio popular para se contrapor a um de impeachment? Então, o que é que estão querendo? Que eu desorganize o país, que eu coma uma conflagração de 122 votos que querem contra 347 que não querem? Vocês querem testar? O que a população quer testar? Acha que é o caminho? Vamos testar. O que eu estou dizendo é que o impeachment é feito com circunstâncias, com uma política fiscal desorganizada, uma política econômica troncha. O impeachment é político.

E as 500 mil mortes por Covid não seriam uma justificativa?

499 mil (mortes) seriam. 501 mil seriam. Uma seria. A questão é sobre se tem (circunstâncias). Tem? Ou é uma parte que está pedindo? Vai resolver o quê? É o (vice-presidente Hamilton) Mourão que vai resolver? O que é que vamos fazer com o impeachment? Impeachment tem várias empresas, e venho dizendo isso muito claramente. O (ex-presidente Michel) Temer tinha apenas 3% de aprovação popular, com o Janot (Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República) todo o dia disparando uma flecha. E passou por dois pedidos negados na Câmara. Lula teve o mensalão e não teve pedido de impeachment, com um rebanho de gente solicitando. Fernando Henrique teve. Rodrigo Maia, claramente de reconhecer a Bolsonaro, teve 67 pedidos de impeachment na gaveta. Pautou hum? Porque?


O que falta então para tocar o impeachment?

Falta circunstância. Falta um conjunto de coisas. Enquanto a economia tiver em crescimento … Veja bem, não estou faltando com respeito a vítima vítima. 499 mil, 501 mil, são todas relevantes como uma vida. Pelo amor de Deus! O que estou dizendo é que o impeachment não é feito só disso.

Quais são seus compromissos de pauta de votação?

Tocando como reformas, a administrativa e a tributária. Fizemos a autonomia do Banco Central. Compromisso de votar como privatizações. Quando me candidatei, fui a seis frentes, das mulheres, ruralistas, anticorrupção. E hoje essas publicações estão vindo.

Mas as reformas administrativa e tributária, não.

Mas tudo a seu tempo. Todo mundo ficou pacientemente esperando o relatório (da tributária) por dois anos. O Aguinaldo (Aguinaldo Ribeiro, relator) ficou dois anos, e ninguém via uma linha do relatório dele.

E sobre a reforma administrativa?

Passou na CCJ. Foi uma batalha. Criamos a comissão, abrimos para a participação de todos os partidos, mesmo aqueles que não têm direito regimental. Tem a versão de que vai acabar com a educação, acabar com o funcionalismo. Não vai mexer em um centímetro de direito adquirido, tenho dito isso. Não vamos permitir nada da promulgação para trás. Agora, da promulgação para a frente, é nossa obrigação fazer um Estado mais ágil, mais moderno.

Como o senhor avalia a disputa presidencial em 2022 com Lula no páreo?

Lula é um jogador importante. Presidente duas vezes. O que eu não acredito é em terceira via. Não tem condição. No Brasil, nunca houve isso. Ao menos depois da volta do voto para presidente. Foi Collor e Lula (em 1989), depois anos de Lula contra o PSDB e a Dilma também (contra o PSDB). E, em 2018, o Bolsonaro substitui o PSDB na disputa com o PT. O PT está sempre lá. Por que não estaria nessa?

Na semana passada, a Câmara aprovou a Lei de Improbidade. Qual a opinião do senhor?

Uma lei que vem num momento correto. Não tem essa história de que fui beneficiado. Foi escolhido um relator do PT (Ricardo Zarattini). E foi aprovado com 408 votos no plenário. Tem que mudar. A atual lei está errada. A lei foi feita depois do impeachment do Collor (em 1992), coisa analógica. Hoje, a Polícia Federal tem 800 instrumentos para fiscalizar, o Ministério Púbico outros 500. É tudo digitalizado.

 
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