A nota do ministro da Defesa Walter Braga Netto, em conjunto com os comandantes das três Forças Armadas, atacando o presidente da CPI da Covid-19, Omar Aziz (PSD-AM), provocou reações acaloradas entre senadores na noite desta quarta-feira (7/7). Houve tensão entre o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e Aziz, apoiado por outros integrantes da comissão.
O presidente do Senado, ao falar da reação dos militares em discurso no plenário do Senado, rendeu homenagens às Forças Armadas e pediu aos senadores respeito aos mortos pela pandemia e um ambiente mais pacificado entre os senadores neste momento.
“Nós estamos perdendo a oportunidade, talvez a única que esta pandemia poderia dar ao Brasil, que é de ter solidariedade mútua e recíproca entre nós e entre todos os brasileiros. Então, o acirramento, a intolerância e o desrespeito à divergência são coisas que não calham em lugar algum e em momento algum da quadra histórica do Brasil, muito menos num momento como este, de sofrimento da vida nacional, em que as pessoas querem uma coisa de nós: que nós possamos transmitir a elas esperança, a esperança de que a gente possa ter uma nação verdadeiramente constituída em bases sólidas e constitucionais”, disse Pacheco.
“Portanto, eu tenho, até pelas privações próprias da pandemia, falado pouco a esse respeito, mas eu gostaria que pudéssemos fazer essa reflexão sobre a necessidade que nós temos de uma união maior entre nós senadores para o enfrentamento de um inimigo comum, que não é só um inimigo, mas vários que se apresentam, que são, repito, a fome, o desemprego, a inflação, a doença, que ainda não curou e que precisa realmente dessa união nossa”, disse Pacheco.
Omar Aziz (PSDB-AN),citado especificamente na nota, considerou o discurso de Pacheco “moderado demais” para quem, em sua opinião, não deveria aceitar intimidação ao trabalho de qualquer parlamentar.
“E a minha fala hoje foi pontual, não foi generalizada. E vou afirmar aqui o que eu disse lá na CPI, novamente: podem fazer 50 notas contra mim; só não me intimidem, porque, quando estão me intimidando, e vossa excelência não falou isto –, estão intimidando esta Casa aqui. Vossa excelência não se referiu à intimidação que foi feita pela nota das Forças Armadas”, reclamou o presidente da CPI.
“Ninguém teve uma relação melhor que eu, como governador, com as Forças Armadas no meu estado. Mas convivi com grandes generais, como o general Villas Bôas, grande comandante do Exército Brasileiro. Grande comandante! O que eu disse foi pontual, que há muito tempo membros das Forças Armadas, e alguns reformados, não se falava um ai das Forças Armadas, e hoje um ex-sargento da Aeronáutica foi depor e foi preso, porque mentiu, foi o que pediu US$ 1 por vacina, presidente. O coronel Elcio, que está lá hoje, foi o homem da Covaxin”, acusou Aziz, que também usou suas redes sociais para se manifestar sobre o assunto.
Antes, o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues, também havia considerado a nota “desproporcional” e com caráter de intimidar os senadores e o trabalho da CPI.
“Não acredito, não quero acreditar em nenhuma vã tentativa de buscar politizar as Forças Armadas, em especial, contra a condução das investigações que estão em curso nesta Comissão Parlamentar de Inquérito”, disse o senador.
“Eu confio que a lealdade das Forças Armadas, eu confio que a lealdade, inclusive, do senhor ministro da Defesa, do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, é ao Estado brasileiro, é à Constituição, e não a qualquer inquilino de plantão do Palácio do Planalto”, enfatizou.
A nota oficial divulgada fez ataques ataques duríssimos ao presidente da CPI da Covid-19 senador Omara Aziz (PSDB-AM), na noite desta quarta-feira (7/7).
“O ministro de Estado da Defesa e os Comandantes da Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira repudiam veemente as declarações do Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Senador Omar Aziz, no dia 07 de julho de 2021, desrespeitando as Forças Armadas e generalizando esquemas de corrupção. Essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável”, assinala o texto.
O documento é finalizado com a declaração de que “as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”.
Durante o depoimento do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, nesta quarta, Aziz afirmou, entre outras coisas, que “fazia muito tempo que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo”. Ele se referia à citação de vários militares como suspeitos de negociatas na compra de vacinas contra a Covid-19.