Goiânia – A Polícia Civil de Goiás (PCGO) concluiu que houve negligência médica por parte do médico Wilson Moisés Oliveira Martins e o indiciou por homicídio culposo pela morte da adolescente Milleny Lopes Costa, 17 anos. A jovem teve o intestino perfurado durante um procedimento cirúrgico em um hospital particular da capital goiana.
Milleny morreu no dia 6 de setembro de 2020, por choque séptico abdominal, após um quadro de infecção generalizada. Segundo a família, a adolescente ficou vários dias internada e passou por três cirurgias.
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) aponta que a morte da adolescente se deu em decorrência de um procedimento chamado Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE), o que teria causado a perfuração intestinal.
Conforme a perícia, o procedimento apresenta o risco de furar o intestino, no entanto, o documento descreve que o diagnóstico precoce e tratamento adequado poderiam diminuir os riscos. O laudo concluiu ainda que houve falta de assistência médica após a cirurgia.
A conclusão do inquérito é da delegada Marcela Orçai. O documento foi finalizado no último dia 15 de junho e enviado à Justiça. De acordo com o Ministério Público de Goiás (MPGO), a 64ª Promotoria de Justiça de Goiânia analisa o caso para definir as medidas a serem adotadas.
Históricos hospitalar
Ao G1, a mãe da adolescente, Ruth Lopes Vieira, 50 anos, relatou que Milleny foi submetida a uma cirurgia para a retirada da vesícula no dia 20 de agosto de 2020. O procedimento foi feito por um médico amigo da família no hospital Goiânia Leste. A jovem recebeu alta médica no dia seguinte.
Duas semanas depois, a jovem se queixou de dores abdominais e voltou ao mesmo hospital, onde foi internada no dia 4 de setembro. Na data, ela passou por um novo procedimento cirúrgico, este realizado pelo dr. Wilson, pois o médico amigo da família não estava disponível.
“A gente estava até planejando viajar no dia seguinte, quando ela passou mal. Ela estava gritando de dor. Foi quase desmaiando para o hospital”, disse a mãe.
A família conta que o médico não informou o procedimento que seria realizado na jovem. “A cirurgia foi feita às 11h e o médico só apareceu às 20h. Ela suava de tanta dor. Quando ele [o médico] chegou, à noite, ele falou que nós estávamos descontroladas, que estava tudo bem com ela. A gente sabia que não estava”, disse a mãe. De acordo com o inquérito policial, neste dia foi realizada a CPRE.
Ainda ao portal, Ruth disse que no dia seguinte à cirurgia, quando chegou para visitar a filha, o médico estava realizando outro procedimento no próprio quarto e, novamente, sem informar à família sobre do que se tratava.
“O médico estava dentro do quarto como se fosse um centro cirúrgico, com todos os equipamentos e bandeja com instrumentos. Ele estava cortando a Milleny na altura do pescoço, e não me informou nada. Quando terminou, ele não me explicou”, revelou a mãe.
Agravamento do quadro e morte
A mãe da jovem disse que depois do terceiro procedimento, no quarto, entrou em contato com uma médica conhecida e contou que estava com medo de a filha morrer no local. Com isso, a jovem foi transferida para o Hospital do Coração, também em Goiânia, onde chegou em estado grave e foi internada em uma unidade de terapia intensiva (UTI).
Já no novo hospital, a adolescente passou por novos exames e a família foi informada de que a jovem precisaria de uma nova cirurgia, na qual foi constatada a perfuração no intestino. A equipe médica verificou que o órgão estava perfurado há dois dias e o líquido já estava espalhado pelo corpo. O quadro agravado levou a uma infecção generalizada, e Milleny morreu no dia seguinte.
Pedido por justiça
Ruth declarou que espera por justiça. Segundo ela, a intenção é evitar que outras famílias passem pela mesma situação. “A gente quer que ele [o médico] seja condenado por essa negligência. Isso não vai minimizar a dor da falta da minha filha. O que a gente também quer é honrar a memória dela que tinha uma vida toda pela frente”, disse a mãe.
A defesa da família informou ainda que vai ingressar com pedido de suspensão do CRM do profissional indiciado, além de pedir liminarmente o fechamento da unidade de saúde.