O senador Alvaro Dias (Podemos) reconheceu a dificuldade em quebrar a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual chefe do Executivo federal, Jair Bolsonaro (sem partido). Para o parlamentar, os dois têm inclusive incentivado a dualidade no cenário político-eleitoral, e que apenas “fatos novos” podem alterar a realidade para o pleito de 2022. Candidato à Presidência em 2018, Dias conversou com Rachel Sheherazade, no Metrópoles Entrevista, e considerou como cenário ideal “para ambos” essa polarização entre o petista e o mandatário do país:
“Meu compromisso é sempre com a sinceridade, então tenho de dizer que é difícil, mas não impossível. Fato novo em política é rotina. Nós podemos ter fatos novos que alterem a realidade do momento, que é da polarização. É evidente que essa polarização tem sido estimulada por lideranças políticas, evidentemente, que têm interesse, tanto da esquerda quanto da direita. É o melhor dos mundos para ambos, Lula e Bolsonaro”.
A receita para quebrar a “dicotomia”, de acordo com o parlamentar, é unir em um único ponto as diversas vias que têm surgido no cenário político nacional. “São várias as correntes do pensamento político brasileiro, e elas não podem ser ignoradas. O que deve ocorrer agora é um esforço de convergências em torno de um projeto de nação em primeiro lugar. Se nós chegarmos a um projeto de nação, estabelecendo a convergência dessas forças do centro democrático, certamente nós reunimos condições de quebrar essa dicotomia”, disse o senador, que aponta a suposta polarização entre Lula e Jair Bolsonaro como “difícil” de ser superada.
Ainda de acordo com Dias, o país passa por uma implosão das instituições nas mãos do atual titular do Planalto. “Não há iniciativas, não há criatividade, não há solução para os problemas, não há reformas. O Brasil continua sendo uma nação à espera das reformas, e nós, que anunciamos a hipótese da refundação da República, hoje estamos vendo a ‘afundação’ da República, porque há um governo inoperante, absolutamente destrambelhado, nervoso, inconsistente. Comprometendo, enfim, o futuro do nosso país”, declarou.
Impeachment: “Eu devo vender ilusões?”
O congressista, perguntado a respeito de um possível processo de impedimento contra Bolsonaro, tergiversou. Não falou sobre ter assinado uma carta do partido, o Podemos, contra o impeachment do presidente, embora critique duramente o chefe do Executivo federal.
“Eu devo vender ilusões, devo me transformar num vendedor de ilusões? Já temos demais no país encantadores de serpentes. Eu creio que não. Eu não acredito na hipótese da instauração do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados, em razão do esquema que foi arquitetado e montado com muito dinheiro público. Eu não acredito na instauração do processo de impeachment, e, por isso, não quero frustrar ainda mais aqueles que acreditam na hipótese.”
Na quarta-feira (8/9), após os atos convocados pelo próprio titular do Palácio do Planalto, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, subiu o tom frente às ameaças de Bolsonaro e chegou a falar em “crime de responsabilidade”. Em Brasília e em São Paulo, o presidente da República teceu críticas à cúpula do Judiciário e ameaçou não mais cumprir as decisões do ministro Alexandre de Moraes.
Dias fez coro às palavras de Fux e considerou “terrivelmente antidemocrática” a pauta das manifestações favoráveis ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) no aniversário da Independência. Embora defenda as manifestações, de qualquer lado, o ex-candidato à Presidência em 2018 lamentou o que chamou de “pretexto ridículo” para os atos:
“Foi uma pauta terrivelmente antidemocrática. É óbvio que nós gostamos da festa cívica, é evidente. Grandes movimentos populares, grandes concentrações populares. Tivemos, historicamente, incríveis concentrações populares. Por exemplo, a campanha das Diretas Já. Eu tive a primazia de ser o organizador do primeiro grande comício pró-Diretas Já. Neste caso, esse pretexto de defender liberdade de expressão condenando a democracia, afrontando as instituições democráticas, não passa de um pretexto ridículo”.
Candidato à Presidência em 2018, o parlamentar encerra o terceiro mandato consecutivo no Senado Federal ao fim de 2022. Estaria, portanto, desimpedido para assumir o desafio como cabeça de chapa – mas não se põe no tabuleiro. “Não se trata de pretender, de ter a ambição. Confesso a você que as minhas convicções ficaram lá atrás. Hoje, tenho uma postura de não reivindicar, de não postular, mas de servir, de contribuir. Acho que tenho esse dever com a população, não só do meu estado, com as pessoas que acreditam nesse comportamento, de vários anos de história na política, e merecem o nosso respeito”, adiantou.