23/09/2021 às 06h54min - Atualizada em 23/09/2021 às 06h54min

Apaixonado por matemática, estudante vítima de latrocínio sonhava estudar na UnB

Jovem foi morto com tiro no peito por dupla de assaltantes que levou o celular da vítima. O adolescente, que estava a alguns metros da escola esperando o pai que o levaria para casa, não resistiu

Apaixonado por matemática, Geoffrey Stony Oliveira do Nascimento, 16 anos, traçava planos para ingressar na Universidade de Brasília (UnB). Cursando o 1º ano do ensino médio, o estudante se dedicava para fazer a prova do Programa de Avaliação Seriada (PAS). A trajetória do adolescente foi interrompida no final da manhã dessa quarta-feira (22/9), quando ele saía de mais um dia de aula, no Centro Educacional 11 de Ceilândia, para esperar o pai na calçada de uma casa, na QNP 5 do Conjunto D. De uniforme e mochila nas costas, Geoffrey morreu ao ser baleado no peito durante um assalto. Até a última atualização deste texto, ninguém havia sido preso.
 
Discreto, meigo, esforçado e dedicado. Assim definem os familiares e vizinhos do adolescente. Ele e o irmão mais velho, de 17 anos, chegaram com os pais à Ceilândia ainda pequenos. “Todos o conheciam aqui na comunidade. Era um menino que nunca se envolveu com coisas erradas. Sempre ia de casa para a escola. No máximo, eu só o via sentado na calçada às vezes, mas sem contatos com ninguém estranho”, disse uma vizinha, que preferiu manter anonimato.
 
Há poucos dias, a família do adolescente resolveu se mudar para outra casa na Guariroba, mas mantiveram a residência em Ceilândia. Geoffrey começou os estudos no CED 11 no 5º ano do ensino fundamental. Como de costume, após as aulas, o garoto esperava o pai todos os dias na rua do Conjunto D, da QNP 5. O genitor é servidor público da Secretaria de Educação (SEDF) e trabalha na área administrativa da mesma escola à tarde e à noite.
 
Nessa quarta-feira (22/9), o jovem saiu da escola por volta das 10h45 e caminhou por cerca de 200 metros até o local onde esperaria o pai buscá-lo. Enquanto estava em pé, dois homens armados em bicicletas abordaram Geoffrey, anunciaram o assalto e atiraram no peito do adolescente. O delegado-adjunto da 19ª Delegacia de Polícia (P Norte) levanta a hipótese de que o estudante provavelmente reagiu ao assalto. “Momentos antes de tirar a vida da vítima, os suspeitos cometeram um outro assalto na mesma região. Estamos em diligências para capturá-los o mais rápido possível”, frisou.
 
Em entrevista ao Correio, um dos tios de Geoffrey, que também preferiu não se identificar por medo, contou que a família está estarrecida e diz não acreditar no que aconteceu. “Minha irmã me ligou e disse que não tinha uma boa notícia para me dar. Não sabemos o que fazer, mas queremos Justiça. É difícil acreditar que um menino do bem sai da escola e morre nas mãos de marginais que ficam nesse horário procurando gente para assaltar”, desabafou.
 
Destaque na escola
“Ele passava pelo mural dos alunos aprovados na UnB e sempre dizia que um dia a foto dele estaria estampada ali”, disse, emocionado, o diretor do CED 11, Francisco Gadelha. O gestor suspendeu as aulas presenciais de hoje em razão do crime contra o estudante. Em um comunicado enviado aos pais, a instituição lamentou o falecimento de Geoffrey. "Desejamos pêsames aos familiares e amigos, inclusive ao pai que é funcionário da nossa secretaria. Que Deus conforte a dor de todos”, diz a nota, que também ressalta a importância do reforço do policiamento na área.
 
Os professores reconhecem o potencial interrompido de Geoffrey, que possuía boas notas nas disciplinas. “Ele e o pai dele são parecidos, em termos de passar alegria para todo mundo e animar o ambiente. Nós, da comunidade acadêmica, estamos tristes e revoltados com toda essa situação”, afirmou Francisco.
 
O diretor estava de licença-paternidade, pois a mulher ganhou bebê há 15 dias. O gestor tinha uma consulta marcada para quarta-feira (22/9), quando recebeu um áudio desesperador do pai de Geoffrey. Na mensagem de voz, o genitor chora absurdamente e diz: “Oi, gente, só estou passando aqui para dizer que não tenho condições de trabalhar. Nem sei quando vou conseguir trabalhar, porque o meu filho foi assassinado. Obrigada a todos”, declarou. O áudio chocou a todos os docentes, que manifestaram pesar ao funcionário.
 
Imagens das câmeras do circuito de segurança da rua onde aconteceu o latrocínio mostram os dois suspeitos, cada um em uma bicicleta, pedalando após o crime. O vídeo foi registrado às 10h54 de quarta-feira (22/9), praticamente o mesmo horário do crime. Policiais estão nas ruas para localizar os criminosos, que seguem foragidos.
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