Goiânia – Preso por suspeita de violação sexual mediante fraude, o médico Nicodemos Júnio Estanislau Morais, de 41 anos, é investigado por uma força-tarefa da Polícia Civil de Goiás, em caráter multidisciplinar, composta apenas por mulheres. De acordo com a corporação, o número de vítimas pode chegar a 100, incluindo pessoas de outros estados.
A delegada que está à frente do caso, Isabella Joy, da Delegacia da Mulher de Anápolis, disse ao Metrópoles que o número de vítimas pode chegar a 100, a partir do momento que o caso ganha projeção. Ela afirma que é importante que as mulheres que identificarem o médico e se sentiram, de alguma maneira, vítimas de abuso, procurem a Polícia Civil.
Conforme o que foi apurado até agora, os crimes aconteciam durante consultas e por aplicativos de mensagens. A polícia já recebeu ligações de mulheres de Pirenópolis, Goiânia, Abadiânia e até do Pará. Ao todo, 41 vítimas já formalizaram denúncia contra Nicodemos.
O médico é investigado por importunação sexual, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável. Ele foi detido em seu consultório no município de Anápolis, a cerca de 55 km da capital goiana, e está preso preventivamente desde a última quarta-feira (29/9).
“Posso testar?”
Uma conversa atribuída a uma paciente e o ginecologista, revela uma insinuação do homem, que fez comentários com cunho sexual enquanto a mulher tirava dúvidas sobre um método contraceptivo.
De acordo com a Polícia Civil, a conversa teria acontecido no mês de julho de 2020, após uma consulta. Na conversa que teve com a paciente, após uma consulta, ela pergunta se o uso do anel vaginal não atrapalharia a relação sexual. “Bom, minha namorada já usou e eu não percebi diferença alguma. Posso testar kkk. Brincadeira”, responde o médico.
Clitóris
Vítimas relatam que, durante exames ginecológicos, o médico tentava manipular o clitóris, que é o órgão feminino relacionado ao prazer sexual. Isso teria ocorrido inclusive durante o exame de pré-natal em grávidas.
“Ele tocava de forma não ginecológica as vítimas, fazia com que a vítima tocasse no órgão genital dele. Era o mesmo modus operandi”, explica a delegada Isabella Joy.
A investigadora conta que os depoimentos das vítimas são muito parecidos e algumas frases atribuídas ao suspeito são as mesmas para diferentes momentos de violação. A maior parte das vítimas é de Goiás, mas também há mulheres de outras unidades da Federação, como Pará e Distrito Federal (onde ele foi condenado por crime parecido).
Além dos encontros presenciais, o médico mandaria mensagens de cunho sexual para as pacientes. Ele indicaria, por exemplo, livros de conteúdo sexual em “tom de brincadeira”.
A aromaterapeuta Kethleen Carneiro, hoje com 20 anos, prestou depoimento nesta quinta-feira (30/9). A jovem relatou que quando tinha 12 anos o ginecologista ficou falando sobre “ponto G” e chegou a mostrar um quadrinho pornográfico para ela.
Audiência de custódia
Nicodemos foi preso em seu consultório, após a denúncia de três pacientes. Ele deve passar por audiência de custódia nesta sexta-feira para definir se ele permanecerá detido. O caso está em segredo de Justiça.
A defesa do ginecologista informou que, até o momento, só teve acesso a algumas peças do inquérito policial. Nesses documentos, só haveria o simples exercício profissional, segundo o advogado Carlos Eduardo Gonçalves Martins.
“O médico em nenhum momento realizou qualquer tipo de procedimento médico com cunho sexual”, diz nota da defesa.
O advogado também afirmou que vários pacientes de Nicodemos ligaram para familiares do médico, assustados com a prisão, e se prontificaram a prestar depoimento em favor do ginecologista.