12/10/2021 às 06h43min - Atualizada em 12/10/2021 às 06h43min

Bolsonaristas atacam Flávia Arruda por citação a Simone de Beauvoir

Influenciadores bolsonaristas radicais resgataram postagem feita há quase dois meses pela ministra para fazer coro com Malafaia em ataques

 

Ícone do feminismo, a escritora, ativista e filósofa francesa Simone de Beauvoir, que morreu em 1986, tornou-se um dos assuntos mais comentados entre os bolsonaristas radicais nesta segunda-feira (11/10). Influenciadores que defendem o governo e têm centenas de milhares de seguidores nas redes sociais, como Leandro Ruschel, Paula Marisa e Silvio Grimaldo, resgataram uma postagem citando a intelectual feita há quase dois meses pela ministra da Secretaria de Governo da Presidência da República, Flávia Arruda, para atacá-la. O movimento já alcança milhares de interações no Twitter, Facebook e Instagram.
 
Alçada ao primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) em março deste ano, como parte de um acordo do presidente com partidos do Centrão para melhorar a governabilidade, a parlamentar do PL do Distrito Federal nunca ganhou a simpatia do bolsonarismo mais ideológico. O movimento afirma que Flávia simboliza, junto ao ministro Ciro Nogueira, da Casa Civil, a submissão do chefe do Executivo a acertos com a “velha política” que ele prometeu – desde a campanha – que não faria.
 
Alvo de ataques marcados pela misoginia em algumas ocasiões, a ministra usou sua conta no Twitter no último dia 18 de agosto para defender os direitos das mulheres citando uma frase de Beauvoir. Veja:
 
O contexto temporal da postagem da ministra era a tomada do poder no Afeganistão pelos militantes radicais do Talibã, conhecidos por negar direitos às mulheres.
 
A citação a Beauvoir já causou a ira de alguns bolsonaristas na época, mas nada perto do volume de críticas que estão aparecendo neste início de semana. Muitas das postagens atacando a ministra usam como base uma publicação de novembro de 2019 do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que questionava que havia alguém com “saudades de Enem com questões sobre feminismo ideológico (Simone de Beauvoir) ou dicionário de travestis”.
 
As razões do ódio a Simone de Beauvoir
A militância de Simone de Beauvoir pela emancipação da mulher e contra o machismo e a misoginia fazem dela uma das intelectuais mais odiadas pela extrema-direita no mundo. A presença de uma questão sobre a obra da escritora no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2015, ainda sob o governo Dilma Rousseff (PT), foi outro evento que mobilizou a militância de direita radical no Brasil, ainda antes da ascensão do bolsonarismo.
 
Além de atacá-la por suas obras e opiniões, os críticos, como é possível ver nas postagens acima, acusam a francesa, que foi companheira afetiva e intelectual do filósofo Jean-Paul Sartre, de ter sido pedófila e de ter colaborado com o nazismo.
 
O que baseia a acusação é a escritora ter assinado, em 1977, junto a outros intelectuais franceses, como Michael Focault e o próprio Sartre, uma petição que defendia a abolição da idade de consentimento para o sexo, que era de 15 anos na França na época.
 
Em entrevista à BBC Brasil em 2015, a filósofa brasileira Djamila Ribeiro, que pesquisa a vida e a obra da francesa, chamou de “desonesto” classificá-la como defensora da pedofilia e do nazismo. “Não há nada comprovado. Ela assumiu posições políticas muito fortes contra o nazismo, por exemplo. Esse assunto nem entra nas discussões acadêmicas travadas sobre Simone. Também é um absurdo dizer que ela fazia apologia à pedofilia. Para isso, seria necessário comprovar que ela abusou de crianças, mas só podemos dizer que ela assinou um documento. Pessoalmente, discordo da posição dela, mas isso é diferente de dizer que ela era pedófila”, disse Ribeiro, lembrando ainda que dezenas de outros intelectuais assinaram a mesma petição e “ninguém os chama de pedófilos”.
 
Ataque de Silas Malafaia
Os influenciadores bolsonaristas mais ideológicos nunca chegaram a se engajar na defesa da ida do ex-ministro André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF). Essa é uma pauta defendida por outra ala de apoiadores do presidente, os evangélicos. Nesta segunda, porém, os dois grupos estão unidos nos ataques à ministra Flávia Arruda.
 
Mais cedo, o pastor Silas Malafaia, um dos apoiadores mais próximos de Bolsonaro no setor evangélico, publicou um vídeo cobrando a ministra e dois colegas de Esplanada (Ciro Nogueira e Fábio Faria, das Comunicações), por supostamente estarem trabalhando contra a indicação de Mendonça.


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