São Paulo – Um policial militar vazava informações privilegiadas, de operações e chamadas ao 190, para o contraventor Geomá Pereira de Almeida, conhecido como “Pereira”, tratado em investigações da Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo como o “maior responsável pelos caça-níquéis de São Paulo”.
Embora absolvido no inquérito da Justiça Militar por falta de provas, o agente foi expulso da corporação na sexta-feira (15/10) em decorrência de processo disciplinar por causa dos vazamentos.
O contraventor, que teria sido beneficiado, responde a processos criminais pela acusação de manter um esquema de operação de bingos clandestinos, pelo qual praticou operações de lavagem de dinheiro de pelo menos R$ 4,2 milhões, de acordo com estimativas do Ministério Público de São Paulo.
Pereira também é investigado pela suspeita de manter uma rede de corrupção policial, pela qual subornaria policiais civis e policiais militares para manter suas empresas clandestinas em atividade.
O vazamento de informações foi constatado em análise de magistrados, de promotores e da Corregedoria da PM. Embora a participação de outros policiais no esquema tenha sido citada em documentos judiciais, até o momento apenas o sub-tenente foi processado por envolvimento com a quadrilha do contraventor.
Esse agente foi identificado em investigações da Operação Trevo da Sorte, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo e da Corregedoria da Polícia Militar. Ele chegou a ser preso em outubro de 2019, com outras 13 pessoas envolvidas no esquema, quando foram cumpridos 101 mandados de busca e apreensão contra a organização criminosa chefiada por Pereira, de acordo com a promotoria.
A Corregedoria da PM identificou que a senha de acesso desse sub-tenente tinha sido usada para obter e vazar, ao contraventor, informações reservadas do sistema do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), pelo qual policiais são informados de operações, ocorrências e denúncias ao 190.
Só em um mês, de 1º de novembro de 2018 a 1º de dezembro de 2018, a senha do sub-tenente foi usada para consultar 28 ocorrências abertas em endereços de casas de jogos clandestinas controladas pela quadrilha do contraventor.
Os investigadores suspeitam que as informações privilegiadas serviam para a quadrilha esconder material ilícito e negociar vantagens com policiais.
Não foi identificado, no entanto, contato direto do sub-tenente com o contraventor ou com outro integrante da quadrilha. Mas os investigadores apuraram que uma ex-soldado da PM recebia os mesmos dados vazados com a senha do sub-tenente e posteriormente repassava essas informações para o contraventor.
Em uma das mensagens enviadas ao contraventor por WhatsApp, a ex-policial chegou a anexar foto da tela de uma ocorrência registrada no sistema do Copom. Naquele dia (16 de março de 2017) e horário (20h04), essa ocorrência envolvendo uma casa de bingo tinha sido acessada com a senha do sub-tenente da 1ª Cia do 2º Batalhão de Polícia Militar da região metropolitana.
À Justiça, o sub-tenente alegou que deixava sempre sua senha aberta no computador do batalhão e que não foi ele o responsável por consultar as ocorrências repassadas à quadrilha.
Ele disse ainda que consultava o sistema da PM mesmo quando estava em casa, pois queria monitorar quais foram os chamados policiais para a sua região. A versão convenceu os juízes militares da 1ª Auditoria Militar de São Paulo, que votaram pela sua absolvição por 3 votos a 2.
No entanto, o sub-tenente acabou expulso da Polícia Militar por decisão de processo disciplinar a que respondeu na corporação. Procurada, a Polícia Militar não informou se identificou ou responsabilizou outros policiais militares envolvidos com a quadrilha.