14/11/2021 às 15h15min - Atualizada em 14/11/2021 às 15h15min

Sem memória, homem vive há 200 dias no maior hospital do DF

Profissionais de saúde ainda não conseguiram qualquer informação concreta para descobrir a identidade do paciente no Hospital de Base

Ele não sabe dizer o próprio nome. É incapaz de contar a sua história. Não consegue lembrar nomes de familiares, muito menos quantos anos tem. Sofre de uma doença crônica psiquiátrica. Identifica-se apenas como Camelo. Há, aproximadamente, 200 dias está internado no Hospital de Base do Distrito Federal.
 
Camelo vagava por Brasília. Em 5 de maio, após passar por uma crise psiquiátrica, chegou ao Base para tratamento pelo programa Consultório da Rua. Os profissionais de saúde estabilizaram o quadro do paciente, mas não descobriram sua identidade. As impressões digitais dele não constam no cadastro da Polícia Civil do DF (PCDF).
 
Para a equipe do Base, trata-se de um caso desafiador. O discurso de Camelo é desconexo. Dificilmente consegue elaborar sentenças completas. As falas são incompreensíveis. Durante algumas conversas, ele chegou a dizer que se chamava Camelo Dias Prado ou Camelo Prado Dias. Mas não foi encontrado registro de uma pessoa com esse nome.
 
Em outra tentativa de diálogo, Camelo mencionou ter sido caminhoneiro em Mato Grosso. No entanto, as informações não foram comprovadas novamente. Os profissionais de saúde do Base começaram a buscar a identidade de Camelo em cada unidade da Federação. Mas até este domingo (14/11) não tiveram êxito.
 
 
Segundo a assistente social da Enfermaria da Psiquiatria do Hospital de Base Amanda Ricardo de Pinho, 31 anos, mesmo com a medicação, ele dificilmente conseguirá superar o discurso desconexo a curto ou médio prazo. “Mas ele consegue comer sozinho, ter autocuidado, toma banho”, relata a profissional.
 
“Ele não socializa porque não dá conta de conversar. Mas fica com os demais pacientes, participa das outras atividades, faz fisioterapia, caminha”, pontua Amanda. Camelo e os demais pacientes recebem atendimento psiquiátrico, de enfermagem, serviço social, psicologia, terapia ocupacional e outras atividades.
Cidadão
 
“É um cidadão brasileiro. Ele tem direitos. E sem a documentação, ele fica prejudicado. A gente espera encontrar as informações dele. Para que a gente possa identificá-lo. Saber a sua história. Saber como ele chegou a esse ponto que a gente o encontrou”, assinala a assistente social.
 
De acordo com diagnóstico do chefe do Serviço de Psiquiatria do Base, Sérgio Cabral Filho, 30, Camelo tem plenas condições de deixar o hospital. Além disso, o homem, que aparenta ter meia-idade, se encontra estável, mas convive com pacientes que enfrentam crises ou instabilidade, o que pode comprometer a melhora dele.
 
“Ele foi para a unidade por alteração de comportamento. Recebeu atendimento. Está estável. Não tem apresentado momento de agressividade ou violência. Se ele tivesse algum tipo de suporte ou local, poderia receber alta. Do ponto de vista psiquiátrico, fazendo o uso dos medicamentos, ele está de alta”, afirma Sérgio.
Humanizado
 
Segundo a assistente social Amanda, o Base oferece atendimento humanizado e personalizado para cada paciente. “Como o Camelo tem essa questão cognitiva, ele gosta de ficar quieto.” O homem sempre participa das atividades quando convidado, a exemplo de passeios no jardim do hospital. Ele precisa de estímulo para interagir.
 
“Como assistente social, nunca tinha me deparado com um paciente com zero dado. Se a busca em todos os estados não surtir efeito, talvez em próximo momento a gente vai ter de criar novo registro para ele”, salienta. Nesse caso, será preciso acionar a Defensoria Pública do DF (DPDF). Entretanto, o objetivo da equipe é descobrir a identidade de Camelo.
Alta
 
“A grande questão é que, aqui, ele está em uma situação que está morando em um hospital. Porém, é um hospital. Não tem as condições ideais para uma pessoa ficar a longo prazo. O ideal é que as pessoas venham para um hospital, se tratem, melhorem, recebam alta e voltem para a sua residência”, sintetiza a assistente social.
 
A residente Isadora Gondim Peixoto atua na Psiquiatria do Base. Ela cuida de Camelo diariamente. “A gente tenta buscar informações, mas vê que ele ainda se encontra muito desorganizado, sem conseguir lembrar de muitos aspectos da história dele”, pontua. Em nenhum momento, o paciente foi agressivo.
 
“Ele é paciente que se dá bem com todo mundo. Nunca teve nenhum tipo de problema”, resume. Camelo nunca perguntou pela família. Mas, por outro lado, questionou por que ainda está no hospital e pediu para deixar o local. “Ele pede alta. Ele fala: ‘Já tá bom já. Quero minha alta'”, relata Isadora.
Serviço
 
Quem tiver informações ou dicas da identidade e/ou do passado de Camelo pode entrar em contato com a equipe do Base pelo telefone (61) 3550-8900, no ramal 9026 ou 9027.


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