Apontado como um dos chefes do Comboio do Cão, a maior facção do Distrito Federal, Ruan Rodrigues de Souza, de 27 anos, foi preso, neste domingo (14/11), pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). R7, como é conhecido na organização criminosa, é acusado de matar a namorada, Ana Carolina de Lima Araújo, 21, no motel Play Time de Taguatinga, na madrugada de 31 de outubro.
Ruan foi preso durante uma festa em Samambaia. A operação, coordenada pela 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul), contou com o apoio da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor) e da Divisão de Operações Especiais (DOE). Durante a ação, outras sete pessoas que estavam participando do evento também foram detidas e autuadas por porte de drogas e liberadas após assinatura do Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO).
Outro envolvido no feminicídio é José de Alencar Fernandes Filho, vulgo “Filhote”. Ele também é integrante do Comboio do Cão e foi preso em um esconderijo em Samambaia. O terceiro, Pedro Henrique Sampaio, o “Zoio”, já estava preso. Segundo a PCDF, a proprietária da casa onde ocorria a festa foi autuada pelo crime de favorecimento pessoal. Os presos foram encaminhados à carceragem da PCDF.
"Foi cumprido mandado de busca e apreensão obtido junto ao plantão judiciário, e no local foi localizado o autor do feminicídio e o indivíduo suspeito de ser o comparsa na companhia de mais cinco pessoas, que estavam em uma festa consumindo drogas desde a noite de ontem (sábado). Entre essas pessoas se encontrava a proprietária da residência, que vinha dando abrigo aos dois foragidos da Justiça", detalhou o delegado-titular da Decor/Draco, Adriano Valente.
VIDEO
Vídeo obtido com exclusividade pelo Correio mostrou R7 ostentando armas de grosso calibre e várias munições. Em uma das filmagens, ele mostra uma pistola prata e ameaça: “Onde ‘nós’ pegar tá ligado. Onde ‘nós’ pegar, é mal. Daquele ‘modelão”, disse.
Fontes policiais informaram ao Correio que Ruan tem alto poder aquisitivo e é um dos chefes do Comboio do Cão. Seria ele, também, o responsável por alugar armas para outras pessoas cometerem crimes. Em um outro vídeo, ele mostra ao menos cinco armas, inclusive algumas com seletor de rajada, vários cartuchos e caixas de munições em cima de uma cama.
Dois dias depois do assassinato de Ana Carolina, Ruan gravou um vídeo ameaçando um suposto rival morador do Guará 1. Na filmagem, o criminoso aparece com outros dois homens em um carro. O ocupante da frente carrega duas armas no colo, enquanto o outro está no banco de trás.
O vídeo circulou pelas redes sociais. Se intitulando como R7, o suspeito diz: “Parceiro, nós ‘tá’ dominando. [...] ‘Tamo’ armado e os cabra ‘tão’ tudo morrendo. Tem um ali no Guará para nós matar. Tem um ali que tentou contra nós, no Guará 1. Declarou ‘cabuloso’ contra o Comboio (referindo-se à facção)”, falou.
O crime
No dia do crime, os três acusados e uma mulher ingeriam bebida alcoólica quando decidiram, na madrugada, irem ao motel. O grupo acionou um motorista de transporte de aplicativo para ir ao estabelecimento. Eles chegaram por volta das 1h50 e às 4h11 pediram a conta.
Câmeras do circuito interno de segurança registraram o momento em que três pessoas saíram a pé por uma porta lateral. Quando funcionários foram fazer a vistoria na suíte encontraram o corpo de Ana Carolina com uma marca causada supostamente por tiro. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a Polícia Militar do DF (PMDF) foram acionados, mas a vítima estava sem vida. A perícia da PCDF compareceu ao local e constatou que a jovem morreu com um disparo causado por arma de fogo na nuca.
Crime x investigação
Pedro Henrique é apontado como o responsável por efetuar o disparo de arma de fogo. Segundo as investigações, Ana Carolina mantinha um relacionamento com Ruan. O criminoso teria descoberto uma traição da jovem dias antes do crime. Não se sabe, no entanto, se essa seria a real motivação do feminicídio.
Ruan tem uma passagem criminal de 2015 pelo crime de roubo. Com um simulacro de arma de fogo, ele e um adolescente abordaram uma mulher em via pública, na QSF 16 de Taguatinga. Sob grave ameaça, a dupla anunciou o assalto no momento em que a vítima chegava em casa de carro. Ao parar para abrir o portão eletrônico, a mulher foi enquadrada pelos dois criminosos.
Ruan disse à mulher que a mataria, caso não abrisse a porta, ligasse o carro e o conduzisse imediatamente. Como consta na denúncia do Ministério Público do DF, o adolescente abriu a porta do passageiro e entrou no veículo. Assustada, a vítima saiu do automóvel e Ruan tomou a chave e fugiu com o menor no Siena.
Os dois foram detidos pouco tempo depois do crime pela polícia, após a vítima gritar por socorro e acionar os militares que passavam pelo local. A dupla chegou a abandonar o carro e tentaram fugir a pé, mas foram alcançados e presos.
À época, Ruan teve o mandado de prisão flagrante convertido em preventiva. Ele foi condenado a uma pena de mais de 10 anos, mas teve a liberdade provisória concedida pela Justiça