A apresentadora e ativista transexual Scarlety Vasconcelos, 27 anos, ficou com o rosto ensanguentado e desfigurado após ser agredida por um homem e três mulheres em São Sebastião, no Distrito Federal. O crime ocorreu entre a noite de domingo (14/11) e a madrugada desta segunda-feira (15/11).
Scarlety contou que foi para um bar com amigos, na região do Morro da Cruz. Ao sair do estabelecimento, um homem desconhecido perguntou se ela tinha drogas, mas ela negou. Em seguida, as agressões começaram.
“Eu falei que não mexia com drogas. Quando virei as costas, ele me deu uma rasteira, seguida de porrada no rosto. Eu tentei me defender. Ele estava me socando e, não satisfeito, começou a pegar minha cabeça e batê-la no meio-fio. Junto com ele, três mulheres vieram me agredir”, relata.
Scarlety tentou se desvencilhar dos agressores enquanto pedia socorro. Pouco depois, amigos viram a situação e socorreram a vítima. “Foi muita agressão e xingamento. Me bateram, minha roupa ficou toda suja e eu fiquei toda ensanguentada”, relata.
A apresentadora conta que não conhecia o homem nem as mulheres. Scarlety acredita que ele iniciou as agressões porque tentou flertar com ela: “Ele passou por mim, me queimou com cigarro, pediu desculpa e eu falei tudo bem. Bem seca, sem dar moral para ele. Acho que ele se sentiu desvalorizado”.
Amigo de Scarlety, Fábio Martins da Silva, 33, afirma à coluna que estava dentro do bar dançando forró quando a irmã o alertou sobre a agressão que ocorria do lado de fora. “Eu estava dançando com minhas amigas e, de repente, a minha irmã me puxa pela blusa desesperada, falando que tinha três mulheres e um rapaz em cima da Scarlety, agredindo-a. Eu saí correndo imediatamente, fui atrás do rapaz para tirá-lo de cima da Scarlety”, conta.
Silva diz que também foi agredido e ficou com a mão machucada. “O homem me deu um empurrão, e eu caí. Nesse momento, ele veio para cima de mim, e começamos a rolar no chão. Quando eu vi que a Scarlety estava derramando em sangue, fiquei desesperado e comecei a gritar falando que chamaria a polícia e o homem foi embora”, detalha.
Delegacia e hospital
Depois que os agressores fugiram, Scarlety e Fábio procuraram a 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião), mas não conseguiram registrar ocorrência. Segundo a apresentadora, ela foi informada de que deveria ter o laudo médico em mãos para fazer a denúncia. Scarlety procurou a UPA de São Sebastião, mas diz que também não foi atendida na unidade de saúde, por falta de profissional.
“Chegando à UPA, também não fui atendida. Fizeram o maior descaso, falaram que eu tinha de ir a outro lugar porque não tinha atendimento para isso. Eu, que sofri com várias pancadas na minha cabeça, precisava passar por algum exame”, reclama.
Fábio contou que o grupo voltou para a delegacia, mas desistiu após esperar por cerca de duas horas.
“Fomos à delegacia, ficaram rindo da gente, parecia que a gente era palhaço, e, depois, mandaram a gente ir para a UPA. Lá foi pior ainda, porque falaram que não tinha médico. Voltamos à delegacia, pediram para aguardar e a amiga não estava aguentando mais de dor. Minha irmã comprou remédios e viemos para casa.”
Tanto Scarlety quanto o amigo pedem mais visibilidade e apoio às vítimas de crimes como a transfobia. “Eu passei por isso hoje, posso passar por isso depois, mas não temos ninguém que olhe pela gente”, critica a apresentadora.
O amigo acrescenta: “Fiquei traumatizado com tudo isso”.
A apresentadora denunciou o caso nas redes sociais e tem recebido mensagens de apoio e incentivo. “Sofri, pela primeira vez, homofobia. Não podia escapar dessa, sendo trans. Me agrediram muito. Vi a morte, realmente. Sou grata a Deus por ter me dado força e muito obrigada àquelas pessoas ali que, se não tivessem visto, o menino teria me matado porque estava socando minha cabeça no meio-fio”, conta.
O outro lado
A Divisão de Comunicação da Polícia Civil do Distrito Federal informou à coluna que encaminhou o caso para conhecimento da autoridade policial da 30ª DP.
O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF), responsável pelas UPAs no DF, não retornou contato da reportagem até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto a eventuais manifestações.