Muito além da insatisfação com o resultado desastroso em cirurgias plásticas mal sucedidas, 17 pacientes do Distrito Federal atendidos pela Dra. Milena Carvalho, da clínica Lapitat, no Lago Sul, sentiram medo de possíveis sequelas permanentes após os procedimentos. Foi o caso de *Manoela, 40 anos, que, já em casa – após tomar um medicamento para dor – acordou sem a visão. “Vou ficar cega”, disse ela, em desespero, a familiares.
Manoela foi uma das vítimas ouvidas pelo Metrópoles, que revelou o caso nesta semana. As denúncias são investigadas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
A cirurgia de Manoela ocorreu em 15 de abril deste ano. O objetivo dela era colocar prótese e fazer uma lipoescultura no corpo inteiro. Após um longo processo de exames pré-operatórios, chegou o grande dia, tão esperado pela estudante de medicina. Onze dias após o procedimento, ainda sob medicamentos, a paciente viveu o pior dia de sua vida: ela acordou, abriu os olhos e não enxergou absolutamente nada em sua frente.
Os efeitos começaram após o medicamento anticoagulante acabar e a paciente ligar para a Dra. Milena que lhe receitou o uso de dipirona. A paciente tomou o medicamento e resolveu tirar um cochilo. Quando acordou, na companhia de familiares, notou que havia perdido a visão. “Fui esquecendo as coisas, perdendo os sentidos”, relembra.
Apavorada, a família de Manoela correu com ela para o hospital e, lá, foi explicada toda a situação aos médicos de plantão. A estudante apresentava sinais de “trombose aguda dos seios transverso e sigmóide e da veia jugular interna à direita, associado a sinais de infarto venoso hemorrágico do lobo temporal direito”. Com o diagnóstico em mãos, ela ligou para a médica que comandou a mamoplastia e lipoescultura. “Ela me disse: ‘Você resolve com o seu neurologista e vê como vai fazer'”, teria dito a especialista.
Responsabilizando o anestesista que participou do procedimento cirúrgico, Milena teria, então, encaminhado o contato do profissional para Manoela, aconselhando que ela o procurasse diretamente. “Foi desesperador”, disse a estudante.
Após uma longa investigação, que contou com diversas consultas e exames com neurologistas, Manoela começou a recuperar a visão gradativamente. “Foi um mês mais ou menos. [A visão] Foi voltando gradativamente”, relembra.
Diante de tantas complicações, Manoela solicitou acesso aos prontuários médicos e descobriu que teria precisado de 21 frascos de adrenalina durante a cirurgia, porém, sem detalhamento do porquê. Assustada com a falta de transparência dos registros médicos, a estudante resolveu registrar boletim de ocorrência na PCDF, que investiga o caso.
Sete meses após a cirurgia, Manoela ainda trata a perda parcial dos movimentos do braço e da perna direitos, além de uma paralisia em parte do rosto. A mulher passa por consultas regulares com neurologistas, terapeutas e precisa de incontáveis sessões de fisioterapia. “Ainda estou na fase de tentar digerir que a culpa não foi minha. Eu só quero viver a vida que eu tinha antes”, lamenta.
Uma semana sem banho
Outra paciente da Dra. Milena Carvalho morava em Pires do Rio (GO) à época do procedimento. *Marlene veio a Brasília para realizar uma mamoplastia com prótese, em janeiro deste ano. Ela conta que, apesar de ter seguido toda a recomendação pós-cirúrgica prescrita pela médica, os pontos da mama direita começaram a abrir poucos dias depois.
Marlene, então, viajou do município goiano – localizado a 250km da capital federal – ao Lago Sul, para refazer os pontos, no seio. Mal ela sabia que precisaria fazer o percurso toda semana, durante três meses. “Decidi me mudar para Brasília, para cuidar da minha saúde. Cheguei a vir duas vezes por semana”, disse.
A mulher desenvolveu uma infecção bacteriana, o que acabou deformando a aréola na mama direita. Quando menos esperava, a mama esquerda de Marlene, até então sem nenhuma complicação, começou a expelir seroma. Segundo ela, a avaliação da médica era sempre a mesma: “Não tem nada”. A especialista teria sugerido que a paciente deixasse o próprio organismo absorver a substância, ou que a autorizasse a retirar o líquido com uma agulha.
“Eu sentia muita dor e não conseguia dormir. Não estava conseguindo fazer nada. Tive que contratar uma funcionária para poder ajudar a gente em casa. Eu passava uma semana sem tomar banho para não molhar os pontos. Ficava deitada 24 horas por dia”, recorda.
Após 6 meses, Marlene resolveu retirar os implantes do seio, pensando que seria o fim de seu sofrimento. Porém, seis dias após a remoção das próteses, os novos pontos também estouraram. “Eu sentia como se tivesse alguma coisa andando na ferida. Ela coçava”, descreve.
Marlene foi submetida a novos exames, dessa vez com outro profissional da saúde, que pediu a realização de uma biópsia. O resultado foi a infecção da ferida pela bactéria Pseudomona, comuns em ambientes hospitalares.
Para Marlene, o maior problema da cirurgiã foi não ter se comunicado corretamente. “Ela não pediu nenhum exame para saber o que estava acontecendo”, lamenta.
O outro lado
Procurada novamente pelo Metrópoles, a médica Milena Carvalho não quis dar entrevista e respondeu, por meio de nota, que “repudia veementemente as acusações anônimas de não ter prestado apoio pós-operatório a qualquer paciente que ela tenha atendido e diz que está abalada com as acusações anônimas e infundadas”. Confira a nota na íntegra:
A médica afirma que segue rígidos protocolos de cuidados e que acompanha seus pacientes antes, durante e depois dos procedimentos. Mesmos naqueles casos em que os pacientes não cumpriram o necessário protocolo, ela sempre esteve inteiramente à disposição para atender e solucionar qualquer situação que tenha ocorrido.
Todos os pacientes em pós-operatório são acompanhados de forma rigorosa pela médica. Já no pré-operatório todos têm acesso ao celular pessoal da Dra. e podem contatá-la dia ou noite, 7 dias por semana, 24 horas por dia. A médica fica sempre à disposição para as suas pacientes, bem como a sua equipe.
Os retornos pós-operatórios seguem um protocolo rígido e são orientados a serem realizados na sua clínica semanalmente no primeiro mês, após 3 meses, 6 meses e 1 ano, ou em qualquer outro tempo/ocasião se fizer necessário. Nos retornos são procedidas avaliações presenciais, curativos, realizadas fotografias de registro e orientações.
Somente em 2021, a médica realizou mais 200 cirurgias com absoluto zelo e profissionalismo.
A grande maioria dos pacientes está totalmente satisfeita com o resultado dos procedimentos.
Importante destacar que a médica é reconhecida, respeitada e referência para importantes publicações na imprensa sobre a temática de especialidade dela.
A médica afirma ter sido procurada por pacientes que de forma insistente tentaram fazer com que fosse realizado um acordo financeiro, mas não aceitou por não ter nada a temer, uma vez que os fatos narrados são inerentes às cirurgias e a Dra Milena prestou, durante todo o processo, atendimento às pacientes que seguiram com ela.
A médica está abalada com as acusações anônimas e infundadas e teme as consequências desse massacre midiático para sua vida, já que hoje ela se encontra grávida de 4 semanas e enfrenta uma gestação de risco.
A Dra. se coloca à disposição das autoridades para prestar qualquer esclarecimento, reforça que os fatos narrados são infundados e que não há qualquer comprovação ou condenação contra ela na justiça por irregularidade em sua conduta como médica”.
*Nomes fictícios, para preservar a identidade das vítimas