Goiânia – A Justiça de Goiás determinou, nesta sexta-feira (10/12), a prisão preventiva dos policiais militares acusados de agredir e, como consequência, matar um jovem que tinha câncer nos ossos havia 10 anos. As agressões teriam ocorrido durante uma abordagem na capital goiana. Eles se tornaram réus pelo crime de homicídio qualificado.
Na decisão, o juiz Eduardo Pio Mascarenhas considerou que existem “indícios de autoria e prova da materialidade delitiva” contra os policiais Bruno Rafael da Silva e Wilson Luiz Pereira de Brito Júnior. Eles são acusados pela morte de Chris Wallace da Silva, de 24 anos, após agressões durante abordagem policial no dia 10 de novembro.
Testemunhas contaram terem visto os militares agredindo o jovem com golpes de cassetete e, também, batendo a cabeça dele contra um muro com chapiscos. O jovem chegou a ser internado, mas morreu seis dias depois da abordagem policial.
Gravidade
De acordo com a decisão, a liberdade dos policiais “atenta contra a ordem pública e repercute de maneira danosa e prejudicial ao meio social em que vivemos, haja vista a gravidade do crime combinada com o modus operandi, tendo em vista que a vítima foi espancada em via pública, no período noturno”.
Familiares contaram que o jovem chegou à casa dele muito machucado, vomitando sangue e com convulsões.
De acordo com o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), além de materializada a autoria do crime e a necessidade de garantia da ordem pública, causou preocupação o fato de que o policial Bruno tenha entrado em contato por telefone com a irmã da vítima, manifestando intenção de falar com ela sobre a ocorrência.
Segundo a investigação, “a conduta que poderia ter prejudicado a obtenção de informações”. “Ressalva-se a existência nos autos de vários testemunhos sigilosos, expediente decorrente do temor de represálias por parte dos representados, potencializado por integrarem a força policial”, escreveu o delegado Ernane de Oliveira Cázer, adjunto da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH) e responsável pelo caso.
Laudo de exame cadavérico, produzido pelo Instituto Médico Legal (IML), atesta que Chris morreu por causa de um traumatismo cranioencefálico causado por ação contundente, o que, segundo a investigação, condiz com o relato de testemunhas que viram o jovem ter a cabeça prensada com força em um muro pelos policiais. A vítima também apresentava ferimentos pelo corpo, principalmente na mão, no quadril e no peito.
Câncer
Desde os 14 anos, Chris sofria com um mieloma múltiplo, um tipo de câncer caracterizado principalmente por fraturas ósseas agravadas diante de esforços físicos. A mãe dele, Vanderlete Leite, disse que, desde a infância, ele conviveu com fortes dores e crises que o impediram de concluir o ensino e de ter muitas atividades cotidianas.
“Eu tinha o maior cuidado com meu filho para ele não se quebrar, cuidava e me dispunha de tudo na minha vida por ele. Se meu filho tivesse morrido por causa do mieloma eu estaria mais conformada”, disse à época.