15/12/2021 às 04h55min - Atualizada em 15/12/2021 às 04h55min

Projeto na Câmara tira opção de transporte de 2,9 milhões de pessoas

PL pode eliminar até 180 mil empregos ao cancelar autorizações de linhas em funcionamento e ao criar barreiras à entrada de novos operadores

Entrou em pauta na Câmara dos Deputados um projeto de lei vindo do Senado que fecha o mercado de viagens rodoviárias e impede a entrada de novas empresas. O PL 3819/2020, de autoria do senador Marcos Rogério (DEM-RO), beneficia diretamente as empresas de ônibus que detêm há décadas o monopólio do setor.
 
Desde que a abertura de mercado foi iniciada no transporte rodoviário, por força de lei aprovada em 2014, 14 mil novas linhas interestaduais de ônibus foram concedidas a empresas que não estavam antes no mercado, e 480 cidades passaram a ser atendidas pelo transporte interestadual oficial, com ônibus autorizados e seguindo as regras de segurança estabelecidas pela ANTT (Agência Nacional do Transporte Terrestre). O projeto de lei 3819/2020 simplesmente quer anular essas autorizações e deixar a população desassistida.
 
A redução do apagão rodoviário é um dos efeitos colaterais positivos da abertura de mercado, que conta ainda com a chegada de plataformas tecnológicas que trazem opção ao consumidor. Assim, houve uma redução do preço da viagem rodoviária que, em alguns casos, chega a 60% do valor cobrado anteriormente pelas empresas tradicionais.
 
O texto já foi aprovado no Senado. O relator da matéria foi Acir Gurgacz (PDT-RO), proprietário de duas empresas de ônibus, Eucatur e Solimões, viações que atuam no norte do país. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tido como um dos padrinhos do projeto, também é de família que atua no setor: as viações Real e Santa Rita são, atualmente, administradas pelo pai do senador.
 
A expectativa é que, se aprovado, o projeto elimine até 180 mil empregos diretos ao cancelar as autorizações das linhas já em funcionamento e ao criar barreiras à entrada de novos operadores, principalmente pequenas e médias empresas, devido à exigência de capital social mínimo de R$ 2 milhões.
 
Hoje, o mercado de transporte rodoviário no Brasil é concentrado na mão de grandes viações, que há décadas buscam blindar esse oligopólio, dificultando o ingresso de novas empresas. Mais de 60% das linhas são atendidas por apenas uma empresa. A falta de concorrência resulta em serviços de má qualidade e preços altos.


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