Goiânia – Figura popular da Igreja Católica em Goiás, o padre Robson de Oliveira Pereira, de 47 anos, quebrou o silêncio ao aparecer nas redes sociais, no início da noite de domingo (19/12). O religioso ficou um ano e quatro meses sem publicar em seus perfis. Isso ocorreu desde que ele passou a ser investigado por suspeitas de crimes praticados supostamente com desvio de dinheiro proveniente de doação de fiéis.
“Por vezes, acabamos não compreendendo os desígnios de Deus em nossa vida! Muitas vezes, ficamos até perdidos diante dos acontecimentos e dos fatos que não compreendemos, que não entendemos. É preciso aprender com São José a submissão a Deus na oração e no silêncio da escuta”, escreveu o padre Robson, em publicação de “benção da noite”, no Instagram e no Facebook. O post também está no YouTube, com a voz do padre pregando.
São José é conhecido por ser um dos santos mais populares da Igreja. Ele é o protetor da Igreja Católica, o padroeiro dos trabalhadores e das famílias.
A postagem foi comemorada por muitos seguidores que se manifestaram no perfil do religioso no Instagram. A grande maioria das pessoas disse ter saudade das pregações do religioso. Outras pediram para não julgarem o padre, mas também houve críticas, ressaltando, por exemplo, que o brasileiro tem memória curta.
Arquivamento
Padre Robson, que disse em áudio ser “chefe da quadrilha”, quebrou o silêncio ao aparecer nas redes sociais cinco dias depois de a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manter decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) que mandou arquivar as investigações contra ele. O religioso chegou a ser alvo de pedido de prisão por parte da Polícia Federal (PF) por corrupção em novembro.
Para evitar ainda mais desgaste de sua imagem, padre Robson se manteve reservado, em paradeiro não divulgado, assim que o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) deflagrou a Operação Vendilhões, em agosto de 2020. Logo em seguida, ele foi afastado, pela Igreja, do Santuário Basílica de Trindade, do qual era representante, e proibido de realizar missas.
O MPGO ainda tentará recorrer da mais recente decisão do STJ, mas a defesa já pediu à Corte superior para certificar o trânsito em julgado, que é o encerramento das possibilidades de recurso, com arquivamento definitivo das investigações.
Afipe
Padre Robson é investigado por suspeita de desviar recursos doados por fiéis para Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), que ele presidiu até ser afastado do cargo após o início da operação do MPGO. O dinheiro deveria ser destinado à construção do novo Santuário Basílica de Trindade, na cidade conhecida como a capital da fé em Goiás, na região metropolitana de Goiânia.
O local é conhecido nacionalmente por atrair milhares de pessoas por ano, em especial durante a Festa do Divino Pai Eterno, comemorada entre o final de junho e início de julho. Apesar de ser tradição do século 19, Padre Robson foi, durante anos, figura central da festividade e responsável por impulsioná-la. Ele também foi marcante para criar uma estrutura potente para a Igreja Católica no município.
A Afipe, na época em que foi presidida pelo padre, era responsável por administrar cerca de R$ 2 bilhões recebidos para a construção do novo Santuário Basílica de Trindade, segundo o MPGO. O Ministério Público estadual investigou o religioso por falsidade ideológica, corrupção de policiais, lavagem de dinheiro, apropriação indébita e crimes tributários, entre outros.
Além disso, padre Robson e mais cinco pessoas também foram alvos de pedido de prisão solicitado pela Polícia Federal em novembro. Segundo a defesa, não houve decisão sobre essa solicitação.
O processo judicial que teria tido uma decisão comprada pelo padre Robson de Oliveira Pereira, a principal razão do pedido de prisão feito pela PF, segue tramitando no Judiciário goiano, em duas instâncias.
O religioso é investigado por supostamente ter pagado R$ 750 mil como propina para três magistrados do TJGO para que uma decisão proferida em novembro de 2019 fosse favorável à entidade presidida por ele na época, a Afipe.
O TJGO disse que não tem conhecimento sobre o pedido da Polícia Federal e, por essa razão, não se pronunciará sobre o assunto. Além disso, não divulgou detalhes da sindicância que instaurou, no início do ano, para investigar possível propina a magistrados.
A Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego) informou que a sindicância instaurada pelo TJGO, a pedido dos próprios magistrados, já foi concluída. Segundo a entidade, a investigação não constatou nenhuma irregularidade.