A irmã mais velha de Shirlene Ferreira da Silva, que foi morta aos 38 anos em um córrego do Sol Nascente, nunca se sentiu tão impotente como quando a polícia fazia as buscas pela grávida e a sobrinha, de 14 anos. “Queria ter feito alguma coisa, ter ido atrás delas, na minha cabeça podiam estar vivas”, lamenta Shirlei Vieira da Silva, 39.
A irmã mais nova estava grávida de 4 meses e desapareceu em 9 de dezembro junto à filha, Tauane Rebeca da Silva. As duas foram encontradas mortas nessa segunda-feira (20/12).
Mãe e filha encontradas mortas foram esfaqueadas.
Quando questionada sobre a personalidade de Shirlene, a irmã é categórica, afirma que a mulher vivia sua melhor fase. “Ela nunca esteve tão calma, tão serena, vivia para os filhos, tinha parado de brigar com o marido”, relembra
As duas nasceram no município de São Caetano do Sul (SP), mas se mudaram com cerca de 1 ano de idade para o Maranhão.
“Quando eu tinha 12 e ela 11, mudamos pra Brasília, minha mãe corria atrás de oportunidades de emprego”, explica Shirlei.
A irmã mais velha conta que os primeiros anos no DF foram difíceis, a família precisava se mudar constantemente, o que forçava as duas a cancelarem as matrículas nas escolas e, consequentemente, as motivou a abandonarem os estudos – além da gravidez.
“Nessa época, nós duas acabamos engravidando e viramos donas de casa”, narra Shirlei. “Nessa época, minha irmã tinha muitos amigos, brincava com todo mundo”, lembra. A familiar conta que a personalidade da irmã mais nova só mudou em 2013, quando a mãe das duas faleceu.
“Minha mãe acabou morrendo num acidente de trânsito e a Shirlene estava no carro, isso mudou ela pra sempre”, diz a irmã. Depois disso, Shirlene virou evangélica e passou a frequentar a Congregação Cristã Igreja do Véu. “Desde então, era de casa pra igreja e da igreja pra casa”, assegura Shirlei. Apesar de não ser religiosa, a irmã mais velha conta que a conversão não atrapalhou a relação das duas.
Na imagem colorida, bombeiros com uniforme alaranjado se aglomeram
“Ela vinha na minha casa, passava o dia aqui e depois o marido vinha buscar. Nunca esteve tão bem, parou de brigar com o marido por ciúmes e estava muito feliz de que teria o quarto filho”, conta a familiar. “Ela fazia tudo pelos meninos, se eles pediam pra ir no parque, ela levava, nem pensava muito”, exemplifica.
Foi em um dos passeios com os filhos que Shirlene perdeu a vida. Ao levar a filha Tauane, de 14 anos, ao Córrego da Coruja, a fim de tomarem banho, ambas desapareceram.
A adolescente era tida como alguém muito apegada à família e carinhosa, além de esperta e desenrolada. “Cara… Minha filha era tudo cara… Não tem explicação… Minha filha era tudo. Era muito apegada comigo. Se tinha alguma coisa, ela me falava. Eu amo meus três filhos, todos somos muito apegados”, afirmou o pai de Tauane e marido de Shirlene, Antônio Wagner Batista da Silva, 41.
Nessa terça (22), a escola que a adolescente frequentava fez uma homenagem a ela. A comunidade escolar afirmou que está de luto pela morte da aluna do 7° ano C e sua mãe.
“É uma tragédia perdermos uma menina assim. Estávamos apreensivos com o desaparecimento e ontem (segunda-feira), infelizmente, recebemos a notícia e já ficamos sentidos e pesarosos. Alguns alunos e colegas delas vieram para a escola hoje e nós fizemos a homenagem”, ressaltou a vice-diretora da escola, Eliane Fernandes.
Investigação
A última descoberta da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) sobre o crime cometido contra Shirlene e Tauane foi a de que ambas sofreram golpes com faca. A informação foi confirmada pelo delegado Gustavo Araújo, da 19ª Delegacia de Polícia (P Norte – Ceilândia).
“O laudo sai daqui a 10 dias, por enquanto a única coisa que temos é que a causa morte foi por objeto perfurocortante, facada. A mãe [levou a facada] na região torácica e a filha no pescoço”, revelou Araújo.
Os agentes trabalham com a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte). A principal evidência é que a mochila com os pertences que as duas levavam para o córrego não foi encontrada.
Com o fim das buscas e o final trágico que ceifou a vida de três vítimas – a mãe, o bebê e a filha de 14 anos -, agora os investigadores querem saber quem tirou a vida das vítimas, como e por quê.
O Instituto Médico Legal (IML) vai analisar se há vestígios de DNA nas unhas ou roupas que possam levar à identificação do autor do crime bárbaro.