03/01/2022 às 06h44min - Atualizada em 03/01/2022 às 06h44min

Presidente do BC justificará inflação com crise hídrica, dizem analistas

No último relatório Focus, economistas projetaram que o IPCA encerre 2021 em 10,02%. A meta perseguida pela autarquia era de 3,75%

 

Quando o ano se encerra com a inflação acima do teto estabelecido pelo governo, o presidente do Banco Central precisa justificar as razões em carta aberta. Na próxima semana, Roberto Campos Neto será o sexto chefe da história da autarquia a escrever o documento. A entrega, endereçada ao ministro Paulo Guedes (Economia), ocorrerá logo após a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro pelo IBGE – prevista para o dia 11 de janeiro.

De acordo com analistas, o presidente justificará que a pandemia da Covid-19 e a crise hídrica foram as principais causadoras das altas dos preços.

Nos últimos 91 anos, o país nunca havia enfrentado uma seca tão cruel. A falta de chuvas causou o desabastecimento dos principais reservatórios hídricos, o que obrigou o governo a acionar as usinas termelétricas para evitar um possível apagão. No entanto, esse modo de geração de energia é mais caro, o que puxou a alta na conta de luz, impactando o comércio, a indústria e o setor de habitações.

Em razão disso, os consumidores foram taxados pela bandeira de escassez hídrica, que adicionou um custo extra de R$ 14,20 a cada 100 kWh na tarifa dos brasileiros. Puxada por esse e outros fatores, o BC admitiu que a probabilidade da inflação estourar o teto da meta é de 100%.

No ano passado, a meta perseguida pela instituição era de 3,75%, mas segundo a regra vigente, há tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, sendo considerado cumprido se chegar até o máximo de 5,25%. Ocorre que, em novembro, O IPCA acumulado em 12 meses já encostava nos 10,74%.
No último relatório Focus do BC, em que mais de 100 economistas realizam projeções sobre os mais importantes indicadores econômicos, a expectativa é que o IPCA encerre 2021 em 10,02%.

Como argumento, o presidente do BC deve citar que a Selic [taxa reguladora dos juros] foi elevada para até 9,25% ao ano – a maior dos últimos quatro anos – para tentar atenuar a disparada da inflação. De acordo com economistas, no entanto, os efeitos disso serão sentidos apenas à longo prazo.

“As mudanças demoram até afetar a economia. A Selic mais alta desestimula a economia pelo canal de crédito e de expectativa. Se um comerciante, por exemplo, não acredita que aquela alta é temporária, ele regula seus preços pensando nisso. Existe uma ancoragem das expectativas”, afirmou ao Metrópoles a chefe de Economia da Rico Investimentos, Rachel de Sá.

Desde a implementação do regime da justificativa por cartas, outros documentos foram escritos em 2018, 2015, 2003, 2002 e 2001. Até agora, Henrique Meirelles foi o único a ter que escrever duas cartas ao longo de seu mandato, de janeiro 2003 a dezembro de 2010.

Entenda como funciona a escolha da Selic

A cada 45 dias, o Copom reúne-se para decidir se a Selic deve ser alterada. A Selic é conhecida como a taxa básica de juros e é utilizada pelo BC para tentar conter a inflação – quando está alta, a Selic costuma ser elevada; quando a inflação está dentro do previsto, ela é reduzida.

Quando a tarifa aumenta, os juros acompanham seu valor. Isso deixa o custo de pagamentos no crédito mais caros, tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas, o que desestimula o consumo e ajuda a controlar os preços. Além disso, é importante perceber também que essa taxa é uma referência para a linha de qualquer crédito: empréstimos, financiamentos imobiliários e cartões.


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