Goiânia – Em segundos, o silêncio engole a voz embargada de choro do pai do dono de cartório assassinado com 17 tiros e mãos algemadas para trás, supostamente a mando da viúva, em Goiás, há 13 dias. “O ódio fez ela matar meu filho”, desabafa o produtor rural João de Deus Chaves Aguiar, de 61:
“Nem o demônio faria o que ela fez”, disse o pai.
Primeiro dos quatro filhos de João de Deus com Maria de Lourdes Alves Chaves, de 58, Luiz Fernando Alves Chaves, de 40, foi sequestrado, em casa, em Rubiataba, no centro goiano, e morto, em seguida, em um canavial, na zona rural da cidade, por volta das 19h30 de 28 de dezembro. A polícia encontrou o corpo, na madrugada seguinte, no mesmo local.
O produtor rural conta que está revoltado com o fato de a viúva de seu filho, Alyssa Martins de Carvalho, de 32, ser supostamente a mandante do crime. Ela e outras quatro pessoas estão presas, inclusive uma mulher apontada como amante dela, por possível envolvimento na morte de Luiz Fernando. “A gente não pretende revidar nem vingar”.
“Medo de tudo”
O pai de Luiz Fernando afirma estar espantado com o crime. “Estou perplexo e com medo de tudo por pensar em até que ponto as coisas chegaram”, diz ele, que serviu de inspiração para o filho por ter sido cartorário, durante 38 anos, em Trindade, onde mora com a esposa, na região metropolitana de Goiânia.
Ex-presidente da Câmara Municipal de Trindade, João de Deus disse que soube que seu filho foi morto minutos depois do crime, assim que a polícia ligou para ele do celular de sua nora, a qual, até então, ainda não era suspeita de ser a mandante do crime. Ela estava na igreja, com os três filhos do casal, no momento em que o esposo foi sequestrado e morto.
“Fiquei sabendo às 20h10. O sargento ligou do celular dela, eu nem sabia que era o dela porque não tinha mais o número salvo. Na hora, ela disse ‘meu sogro, vem aqui para casa’. Até hoje não consigo entender”, lamenta o produtor rural, ressaltando a situação de sua esposa. “Ela está em choque”, diz.
“Único motivo”
João de Deus conta que, assim que soube do crime, ligou para comandantes da Polícia Militar (PM) na região, que, segundo ele, tomaram providências para localizar o corpo de seu filho e prender os suspeitos. Ele não acredita que o crime foi praticado por interesse da nora no dinheiro do seguro de vida do filho dele.
“O único motivo foi o ódio”, ressalta.
O pai da vítima afirma que também pediu ajuda do senador Luiz Carlos do Carmo (MDB), de quem é amigo e que lhe disse ter ligado, em seguida, para o governador Ronaldo Caiado (DEM) para solicitar agilidade na investigação. Segundo ele, Alyssa sempre foi muito bem tratada pelo seu filho e por toda a sua família.
O produtor rural afirma que recebeu ligação de seu filho cerca de três horas antes do crime. “Ele me ligou às 15h40 da tarde, conversamos até depois das 16 horas. Foi mais de meia-hora. Depois trocamos mensagens no WhatsApp. A última mensagem foi, às 18h58, sobre negociação particular de permuta de imóvel”, diz.
Guarda provisória
Para tentar amenizar a dor do luto, João de Deus conta que tem passado o maior tempo possível com os três netos frutos do casamento de Alyssa com Luiz Fernando. Por determinação da Justiça, os avós paternos conseguiram a guarda provisória das crianças: um casal de gêmeos, de 5, e a caçula, de 3.
“A vida deles [netos] vai ser melhor em tudo. A criação aqui vai ser cristã, falando em Deus, levando para o lado do bem. Nunca imaginava que nós todos passaríamos por isso. O cartório dele estava rendendo muito dinheiro. Ela usou o dinheiro dele para matá-lo”, afirma o produtor rural. Em interrogatório, a mulher admitiu que encomendou o crime por R$ 100 mil.
De acordo com João de Deus, os netos não sabem do crime. “Os meninos perguntam por ele [Luiz Fernando], e a gente fala que ele está no céu. Perguntam pela mãe, e a gente fala que ela está viajando. É uma dor imensurável”, relata o avô das crianças.
O produtor rural diz desconhecer que seu filho e sua nora tinham relação aberta, conforme ela disse em interrogatório, ou que ele mantivesse relacionamentos homoafetivos. “Negócio de relação aberta é loucura”, afirma.
“Se eu soubesse de relação aberta, falaria para ele separar. Não sabia que ele tinha envolvimento sexual. Se algum filho meu fosse [gay], também não teria problema porque não tenho homofobia”, diz. “Não quero um machão morto, queria meu filho vivo. O que o matou foi a crueldade, o ódio”, lamenta.
Presos
Veja a lista de pessoas presas pelo crime praticado contra o dono do cartório.
• Alyssa Martins de Carvalho, de 32 anos: viúva do dono do cartório, é investigada por ser mandante do crime. Tem três filhos com Luiz Fernando, com quem se casou em 22 de julho de 2013. Ela trabalhava no cartório como escrevente substituta. A família vivia em Rubiataba.
• Ana Claudia Silva Rosa, 33 anos: comerciante e apontada como amante de Alyssa, com quem teria planejado o crime contra o dono do cartório e feito interlocução para contratação dos matadores.
• André Luiz Silva, de 30 anos: dono de garagens de veículos em Anápolis e Campo Limpo de Goiás, onde mora há sete meses, é agiota e investigado por recrutar comparsas para roubar a camionete Toyota SW-4 branca do dono do cartório e matá-lo.
• Edvan Batista Pereira, de 23 anos: ligado a criminosos do PCC em Goiás, é investigado por ser autor dos 17 disparos contra o cartorário. Ele, que mora em Pirenópolis (GO), disse à polícia que conheceu André no presídio de Anápolis e que aceitou a proposta dele para quitar uma dívida de R$ 2,5 mil, além de receber mais R$ 2,5 mil. Outros R$ 5 mil deveriam ser repassados a outro comparsa.
• Laurindo Lucas Gouveia dos Santos, de 21 anos: Também é morador de Pirenópolis (GO) e disse à polícia que se envolveu no crime após receber mensagens por WhatsApp e ligação de Edvan para levá-lo de carro até Rubiataba e deixá-lo na cidade. No entanto, afirmou que, no percurso, foi surpreendido pela informação de que teria de participar do roubo e do assassinato.
A equipe de investigação ainda procura Luzimar Francisco Neves, que é citado pelos presos como “Chefe” e investigado por supostamente iniciar a rede de contatos da associação criminosa, a mando da viúva. Ele tem mandado de prisão temporária em aberto.
Defesa
O advogado Roberto Rodrigues, que representa Ana Claudia, disse ao Metrópoles que deve pedir ao Judiciário a revogação da prisão de sua cliente, presa em Goiânia. Segundo ele, depois do crime, ela havia ido para a capital goiana por sofrer supostas ameaças.
A advogada Fabiana dos Santos Alves Castro, que representa a viúva, disse que pediu a revogação da prisão de sua cliente, o que foi indeferido pelo Judiciário. Alyssa e Ana Claudia estão no presídio de Barro Alto de Goiás..