Médiuns do Vale do Amanhecer, em Planaltina, a cerca de 45 km do Plano Piloto, votarão a destituição do líder espiritual no próximo domingo (23/1). Raul Zelaya é acusado pela comunidade religiosa de criar um racha entre o corpo mediúnico, em novembro do ano passado, após mudar rituais considerados “fundamentais” para a doutrina.
A assembleia geral extraordinária ocorrerá, às 9h, no Centro Esportivo Vale do Sol, localizado próximo ao Templo Mãe.
A iniciativa é liderada pelo Movimento Renovação do Amanhecer (MRA), um grupo de membros da doutrina que luta pela unificação do corpo mediúnico, segundo os ensinamentos deixados pela fundadora do movimento, Tia Neiva.
Um dos objetivos da reunião também é aprovar uma série de reformas no estatuto do movimento religioso. Alguns pontos já vêm desagradando os médiuns há algum tempo, como o fato do cargo de presidente das Obras Sociais da Ordem Espiritualista Cristã (Osoec) – administradora sem fins lucrativos do templo – ser vitalício. Atualmente a cadeira é ocupada por Raul Zelaya, filho da antiga líder espiritual, e centro das reclamações.
Entenda
Boa parte da comunidade anda insatisfeita com mudanças e proibições determinadas por Raul Zelaya. Segundo os fiéis, quem não obedecer às novas regras está proibido de realizar trabalhos espirituais no Templo Sagrado.
As novidades trouxeram insegurança e acabaram gerando um racha no Vale do Amanhecer. Seguidores da religião dizem que Raul Zelaya alterou uma das leis deixadas por Tia Neiva – fundadora da doutrina em 1969 – onde trabalhos espirituais poderiam ser conduzidos por médiuns mais experientes.
Eles contaram que, agora, a função é exercida exclusivamente por Zelaya e a medida tem causado enorme mal-estar. Em contrapartida, a assessoria jurídica do líder religioso nega qualquer tipo de censura.
Proibição
Para o fiel Ricardo*, o líder religioso tocou “em um ponto máximo” da doutrina. No começo da prática, a chamada Emissão é pronunciada pelo doutrinador, que inicia o trabalho mediúnico em questão, e que também é responsável por realizar o contato com o plano espiritual e assegurar o bom andamento do ritual.
“É como se fosse uma chave para abrir a fechadura do mundo espiritual. Não se muda um segredo de chave, porque não se tem mais o acesso à fechadura. Nossa revolta é porque não temos mais esse acesso”, protesta o veterano da doutrina.
A reclamação central dos fiéis é a de que a alteração nos ritos iniciais de cada trabalho para uma prática determinada por Raul, sem maiores explicações, é o que causa o esvaziamento do templo, tanto por pacientes, quanto por médiuns.
“Os pacientes não estão vindo porque as pessoas não estão se doando pro trabalho (espiritual). Nós fomos muito permissivos [ao longo dos anos] até a hora que nós tomamos essa porrada grande. Chegou num ponto que está insustentável”, avalia Ricardo*.
Outras acusações
Raul Zelaya também é acusado de expulsar fiéis do templo e coagir os que permanecem. Também de acordo com seguidores da prática religiosa, o presidente da Osoec passou a retirar frequentadores do templo desde a sua posse, em 2009.
“Ocorreu [expulsão] porque não concordamos com a atual administração. O Vale do Amanhecer tornou-se associação. Só podem trabalhar lá os que baixam a cabeça e concordam com ele (Raul)”, lamenta outro frequentador, também sob condição de anonimato.
Diante dos desentendimentos, os veteranos que não concordam com as novas práticas no Vale do Amanhecer anunciaram um levante a fim de “destronar” Raul. “Se a gente não correr atrás do que a gente quer, nossos mentores (entidades) não vão fazer nada”, avalia Alberto*, outro antigo seguidor da doutrina.