Em fevereiro, o Cidadania, em reunião do diretório nacional do partido, aprovou a federação do partido com o PSDB. O resultado, porém, esteve longe de ser bem recebido por todos os integrantes do partido, que eram contra a federação ou preferiam outras siglas aos tucanos.
Um dos filiados que se opôs ao acordo, o senador Alessandro Vieira, do Sergipe, externou em entrevista A IMPRENSA ter preocupação com os moldes de como ocorrerá a associação para as eleições de 2022.
O congressista avaliou que, caso confirmada, a federação poderá ser prejudicial para os dois partidos. “É preciso separar o projeto de Brasil do projeto do partido. Se o objetivo do partido é ter acesso a recursos públicos, estabilidade de comando, uma vasta bancada, a federação atinge esses objetivos. Mas o projeto de Brasil passa por outras coisas”, disse.
Para Vieira, a federação partidária entre as legendas pode acabar sendo “um passo maior que a perna”. “Acredito que uma coligação partidária já seria suficiente, a fusão seria suficiente. Atuação de federação sem regras fica muito esquisito e pode ser muito prejudicial”, criticou o senador.
“Sou contra o instituto da federação no formato como estamos fazendo, sem ter regras claras, com um vínculo verticalizado. Não tenho preocupação com a minha situação específica porque ela não se altera tanto. Sempre estarei em boas condições”, completou.
Mesmo descontente com o resultado, Vieira defende que a votação para decidir se a legenda apoiará ou não a federação com os tucanos ocorreu de maneira democrática. “Ainda que se tenha parlamentares antes afastados do partido e que retornaram só para participar dessa federação. Mesmo assim, reconheço o resultado e temos que trabalhar para que ela se viabilize”, ressaltou.
Concorrência
O PSDB não foi o único partido que esteve no radar do Cidadania para uma eventual federação. PDT e Podemos também estiveram próximos de se juntarem à sigla que hoje é presidida por Roberto Freire.
A discussão, no entanto, encerrou-se no segundo turno de votação. A possibilidade de aliança entre Cidadania e PDT teve 47 votos, enquanto a tese do PSDB recebeu 56. Uma aliança com os pedetistas era desejo dos diretórios do partido do Ceará e Rio de Janeiro e do Ceará.
“Não tenho nenhum tipo de veto ou preferencia. Eu tenho boas relações com todos eles [os partidos]. Busquei um acordo que gere o máximo possível de energia, pois precisamos sair dessa armadilha do Lula contra Bolsonaro”, explicou.
Disputa ao Planalto
Vieira é o pré-candidato do Cidadania à Presidência da República, enquanto no PSDB, o nome para o Palácio do Planalto é o do atual governador de São Paulo, João Doria.
Interlocutores das bancadas afirmam que a federação entre as legendas pode ter sido o primeiro passo para viabilizar uma candidatura única da chamada terceira via, que se vende como alternativa ao ex-presidente Lula e ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Outra possibilidade em pauta é de que a líder da bancada feminina no Senado, a senadora Eliziane Gama, eleita pelo Maranhão, saia como vice de Doria.
Apesar da concorrência, o senador afirma que estaria disposto a abdicar da disputa: “Não tenho vaidade de ser ‘O Salvador da Pátria’, tenho ideias e posicionamentos que ajudam neste momento”.
“É algo que tem que ser definido com essa federação. Nós temos dois pré-candidatos e é preciso estabelecer um critério, desde que este seja muito transparente. Seguiremos na caminhada sem problemas e sem dificuldades. Espero que a gente consiga atravessar esse momento e o partido se mantenha fortalecido“, finalizou o presidenciável.