10/03/2022 às 06h50min - Atualizada em 10/03/2022 às 06h50min

TJGO: desembargador ataca Globo por “enaltecer” homossexuais.

Durante julgamento transmitido no YouTube, Jairo Ferreira Júnior criticou Rede Globo por "enaltecer homem com homem se beijando"

Cleomar Almeida
METRÓPOLES

Goiânia – Em sessão da Corte do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), um desembargador fez, na tarde desta quarta-feira (9/3), um discurso no qual criticou a TV Globo por abordar a homossexualidade. O caso em análise era a investigação disciplinar sobre um juiz que, em decisão, lamentou que “se relacionar com putas” não é mais “fato de boa reputação” e que ironizou o Supremo Tribunal Federal (STF), o PSol e o ex-deputado Jean Wyllys.

O desembargador Jairo Ferreira Júnior proferiu voto em defesa do juiz Thiago Brandão Boghi, da comarca de Santa Helena de Goiás. Por maioria dos votos (12 a 6), Thiago virou alvo de procedimento administrativo disciplinar (PAD) por registrar as declarações na decisão de um processo oriundo de queixa-crime de um homem contra uma mulher que o acusou de usar drogas e “estar com putas”, como mostrou o Metrópoles em setembro de 2021.

“Os senhores e senhoras já viram a coisa mais perniciosa e vulgar que é a Globo? De mostrar, propagar e enaltecer o homossexualismo [sic]. Mulher com mulher se beijando lá, homem com homem se beijando. Perniciosa”, disse o desembargador Jairo Ferreira Júnior nesta quarta.

 “Perversão”
A sessão, que teve início às 13h, foi transmitida pelo canal do TJGO no YouTube. Em seguida, o desembargador continuou suas críticas, mas tentou amenizar mesmo depois de usar “homossexualismo”, e não homossexualidade, para se referir a pessoas que se relacionam com outras do mesmo sexo.

“Nós temos que aderir simplesmente porque houve uma evolução no aspecto dos costumes sexuais. Não vou dizer que a coisa ficou pervertida porque antigamente a perversão existia e, talvez, até mais que hoje, mas era escondida”, afirmou o magistrado, enquanto era ouvido pelos demais colegas de toga.
Ainda durante o seu discurso, o desembargador voltou a usar expressões consideradas machistas. “O cara que era homossexual não saía do guarda-roupa. Hoje sai, pronto e acabou. Sai de mão dada lá no shopping center, de mão dada um com o outro companheiro, e ninguém tá [sic] nem aí”, afirmou Jairo.

 “Não extrapolou”
“A gente vê bate-boca dos próprios ministros do Supremo. A gente vê deputado chamando ex-governador de ladrão e a gente rejeita a queixa-crime”, disse o desembargador, antes de concluir seu voto em defesa do juiz alvo do PAD.

Na avaliação de Jairo, Thiago não extrapolou sua conduta ético-disciplinar. “O doutor Thiago não extrapolou a conduta ética, não extrapolou o exercício da judicatura. Acho que sequer ele merecia um puxão de orelha ou advertência verbal. Existem coisas piores. Isso, para mim, é uma poeira, um vento”, ressaltou.
O Metrópoles não obteve retorno do TJGO e da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego) sobre as declarações do desembargador até o momento em que publicou esta reportagem. O portal também não conseguiu falar com os magistrados citados, mas o espaço segue aberto para manifestações.

Decisão cita putas
O portal teve acesso à decisão do juiz Thiago, publicada pelo TJGO no dia 24 de setembro de 2021. No que diz respeito a relacionamentos com putas, ele afirma, também, que “o sujeito que praticava fazia questão de se gabar e contar para todos os amigos e era enaltecido por isso”.

“Lamentável como os tempos mudaram! Agora virou ofensa! Tempos sombrios!”, escreveu o magistrado, que decidiu em favor da ré, dizendo que os fatos narrados não constituíam crime.

Segundo os autos, o autor do processo acusou a ré de calúnia, injúria e difamação, afirmando que ela havia dito “abre esse portão, eu sei que o X [inicial trocada] está aí, e vocês tão com puta, cheirando pó e usando droga” na frente da casa dele. Ele também anexou transcrição de mensagens de áudio que a ré teria enviado para a namorada dele, acusando-o de “estar com putas” e “cheirando pó”.

Ao lembrar que a prostituição é a mais antiga das profissões, reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil desde o ano de 2002, o juiz também afirmou, na decisão, que existe um projeto de lei para regulamentar a profissão de prostituta “apresentado pelo ex-deputado federal Jean ‘Wyllys’ – o queridinho da Globo – pelo todo poderoso PSol, o queridinho do STF”.



 
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