19/05/2017 às 08h27min - Atualizada em 19/05/2017 às 08h27min

Operação Patmos: Conexão brasiliense

O advogado Willer Tomaz, preso ontem por desdobramentos da Operação Lava-Jato, é suspeito de cooptar procurador da República durante jantar ocorrido em 3 de maio, em Brasília. Encontro foi registrado por Joesley Batista, dono da JBS.

Correio Braziliense
 

O advogado Willer Tomaz (E) e o procurador da República Ângelo Goulart Villela: segundo as investigações, Ângelo passou informações sigilosas da PGR também a Joesley Batista

 

O escândalo que estremeceu a República e colocou em risco o cargo do presidente Michel Temer tem uma conexão brasiliense. Conhecido nos bastidores da política, o advogado Willer Tomaz foi um dos presos ontem, durante a Operação Patmos, deflagrada pela Polícia Federal e pela Procuradoria-Geral da República, como desdobramento da Lava-Jato. Willer atua na capital federal e no Espírito Santo, mas defende poderosos de todo o Brasil. Na cidade, representou figuras envolvidas em grandes operações, como a Pandora e a Miquéias. De acordo com investigações da PF e da PGR, o advogado teria ajudado a cooptar o procurador da República Ângelo Goulart Villela, acusado de vazar informações sigilosas a representantes da JBS.

 

Uma fotografia de Willer ao lado de Ângelo, tirada pelo empresário Joesley Batista durante um jantar na casa do advogado, foi usada como elemento para embasar a delação premiada do dono da JBS. O ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, relator da Lava-Jato na Corte, homologou a colaboração do empresário ontem. O encontro registrado em imagens por Joesley ocorreu no último dia 3 e, de acordo com as investigações, o procurador da República teria repassado dados confidenciais de trabalhos da PGR a Joesley e a Willer nessa data.

 

Com uma década de carreira, o jovem advogado ganhou relevância no concorrido mundo jurídico da capital há poucos anos. Ele era presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF). Por causa da relação de Willer com a entidade, o atual presidente, Juliano Costa Couto, chegou a ser citado em meio às denúncias de ontem. Mas Costa Couto garante que nunca atuou como advogado do grupo JBS ou de empresas ligadas ao conglomerado.

 

Segundo Juliano Costa Couto, ele teria sido procurado em busca de indicações de um advogado que atuasse em defesa do grupo empresarial. O presidente da OAB explicou que, como seu escritório não atua em causas penais complexas, indicou Willer para o serviço. “É comum advogados serem procurados para indicação de profissionais que trabalhem em áreas específicas, distintas de seu foco de atuação, como ocorreu no caso”, esclareceu o presidente da entidade (leia Quatro perguntas para).

 

O site da revista Veja divulgou, na tarde de ontem, um documento da Eldorado Brasil Celulose S.A., ligada à JBS, em que a empresa revogava um instrumento de mandato — procuração dada ao advogado para que ele possa ter legitimidade na petição inicial ou processo. O ofício retiraria poderes de Willer Tomaz e Costa Couto.

 

O presidente da OAB-DF rebateu as informações e argumentou que o documento teria feito menção ao seu nome à revelia. Ele requisitou ontem ao Ministério Público Federal (MPF) a emissão de uma certidão que ateste não ter atuado nos autos do processo e a inexistência de procurações em seu nome. “Volto a dizer que não tenho ligação com a JBS”, sustentou.

 

Rádio

 

Willer Tomaz ainda é sócio da empresa Canal de Ideias, arrendatária, desde maio de 2016, da Rádio JK FM. O empreendimento é de propriedade do ex-vice-governador Paulo Octávio, que afirma não ser próximo a Willer. “Eu o conheci em um evento da OAB. Contudo, com relação aos assuntos da rádio, sempre debati diretamente com o outro sócio da Canal, Anderson Carlos”, detalhou o empresário.

 

O advogado tem relações com políticos, principalmente no Distrito Federal e no Espírito Santo, onde atua. Willer doou R$ 30 mil ao PMDB nas eleições de 2014. Os recursos foram direcionados à candidata ao Senado Rose de Freitas, eleita pelo Espírito Santo.

 

Graças às suas conexões nos bastidores da política na capital, Willer chegou a ser cotado para ocupar uma vaga no Conselho Nacional do Ministério Público, em 2015. Alguns deputados defenderam o nome dele para o órgão, responsável por fiscalizar as atividades de promotores e procuradores de todo o Brasil. Mas o escolhido para o posto foi Gustavo do Vale Rocha, que havia advogado para o PMDB e representado o ex-deputado federal Eduardo Cunha, preso na Operação Lava-Jato.

 

Nos tribunais, Willer Tomaz representou dezenas de poderosos encrencados com a Justiça. No Distrito Federal, ele atuou em defesa de Roberto Giffoni, ex-corregedor-geral do DF e réu da Operação Caixa de Pandora. Também representou a delegada Sandra Maria da Silveira, acusada de corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Miquéias. Ela foi absolvida, em fevereiro deste ano.

 

Judiciário

 

O advogado preso ontem também defendeu os interesses do governador de Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), em causas no Supremo Tribunal Federal, assim como os do senador Magno Malta (PR-ES). Atuou, ainda, em outras causas polêmicas, como a defesa do pastor Marcos Pereira da Silva, acusado de estuprar fiéis. No mundo jurídico, Willer representou o juiz federal Macário Ramos Neto e o desembargador do Tocantins Bernardino Lima Luz, ambos aposentados compulsoriamente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

 

O escritório de Willer Tomaz divulgou ontem uma nota de esclarecimento sobre o episódio. “A advocacia é uma profissão que visa a proteger o estado de direito e, por estar relacionada com combate para assegurar garantias individuais dos cidadãos, está sujeita a acusações injustas. Os fatos noticiados serão devidamente esclarecidos no curso das investigações”, afirmou a nota da firma.

 

R$ 30 mil

Valor doado pelo advogado Willer Tomaz ao PMDB nas eleições de 2014

 

 

"Nunca advoguei para a JBS nem para nenhuma outra empresa do grupo. Não existe procuração em meu nome"

 

 

Quatro perguntas para 

Juliano Costa Couto, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no DF

 

Quem procurou o senhor para tratar de 

assuntos relacionados à empresa JBS?

Um cliente, Andre Vieira, amigo de Joesley Batista, solicitou informações sobre criminalistas em Brasília.

 

Quais qualidades de Willer Tomaz levaram o 

senhor a indicá-lo aos representantes do frigorífico 

para atuar no caso da Operação Greenfield?

O doutor Willer Tomaz advoga para diversas autoridades e políticos, em operações criminais de grande repercussão, no DF e em outras unidades da Federação.

 

O senhor advogou em nome da JBS ou de empresas 

controladas pela companhia? Por que existe uma 

procuração no nome do senhor?

Nunca advoguei para a JBS nem para nenhuma outra empresa do grupo. Não existe procuração em meu nome, inclusive já tenho um pedido de emissão de certidão que ateste esse fato ao MP (Federal).

 

Quando representantes da JBS procuraram o senhor, 

houve algum indício de que o caso envolveria a compra de um procurador?

Em momento algum tomei conhecimento desse fato, a não ser após a divulgação das delações.

 

 

O advogado Willer Tomaz (E) e o procurador da República Ângelo Goulart Villela: segundo as investigações, Ângelo passou informações sigilosas da PGR também a Joesley Batista

 

O escândalo que estremeceu a República e colocou em risco o cargo do presidente Michel Temer tem uma conexão brasiliense. Conhecido nos bastidores da política, o advogado Willer Tomaz foi um dos presos ontem, durante a Operação Patmos, deflagrada pela Polícia Federal e pela Procuradoria-Geral da República, como desdobramento da Lava-Jato. Willer atua na capital federal e no Espírito Santo, mas defende poderosos de todo o Brasil. Na cidade, representou figuras envolvidas em grandes operações, como a Pandora e a Miquéias. De acordo com investigações da PF e da PGR, o advogado teria ajudado a cooptar o procurador da República Ângelo Goulart Villela, acusado de vazar informações sigilosas a representantes da JBS.

 

Uma fotografia de Willer ao lado de Ângelo, tirada pelo empresário Joesley Batista durante um jantar na casa do advogado, foi usada como elemento para embasar a delação premiada do dono da JBS. O ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, relator da Lava-Jato na Corte, homologou a colaboração do empresário ontem. O encontro registrado em imagens por Joesley ocorreu no último dia 3 e, de acordo com as investigações, o procurador da República teria repassado dados confidenciais de trabalhos da PGR a Joesley e a Willer nessa data.

 

Com uma década de carreira, o jovem advogado ganhou relevância no concorrido mundo jurídico da capital há poucos anos. Ele era presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF). Por causa da relação de Willer com a entidade, o atual presidente, Juliano Costa Couto, chegou a ser citado em meio às denúncias de ontem. Mas Costa Couto garante que nunca atuou como advogado do grupo JBS ou de empresas ligadas ao conglomerado.

 

Segundo Juliano Costa Couto, ele teria sido procurado em busca de indicações de um advogado que atuasse em defesa do grupo empresarial. O presidente da OAB explicou que, como seu escritório não atua em causas penais complexas, indicou Willer para o serviço. “É comum advogados serem procurados para indicação de profissionais que trabalhem em áreas específicas, distintas de seu foco de atuação, como ocorreu no caso”, esclareceu o presidente da entidade (leia Quatro perguntas para).

 

O site da revista Veja divulgou, na tarde de ontem, um documento da Eldorado Brasil Celulose S.A., ligada à JBS, em que a empresa revogava um instrumento de mandato — procuração dada ao advogado para que ele possa ter legitimidade na petição inicial ou processo. O ofício retiraria poderes de Willer Tomaz e Costa Couto.

 

O presidente da OAB-DF rebateu as informações e argumentou que o documento teria feito menção ao seu nome à revelia. Ele requisitou ontem ao Ministério Público Federal (MPF) a emissão de uma certidão que ateste não ter atuado nos autos do processo e a inexistência de procurações em seu nome. “Volto a dizer que não tenho ligação com a JBS”, sustentou.

 

Rádio

 

Willer Tomaz ainda é sócio da empresa Canal de Ideias, arrendatária, desde maio de 2016, da Rádio JK FM. O empreendimento é de propriedade do ex-vice-governador Paulo Octávio, que afirma não ser próximo a Willer. “Eu o conheci em um evento da OAB. Contudo, com relação aos assuntos da rádio, sempre debati diretamente com o outro sócio da Canal, Anderson Carlos”, detalhou o empresário.

 

O advogado tem relações com políticos, principalmente no Distrito Federal e no Espírito Santo, onde atua. Willer doou R$ 30 mil ao PMDB nas eleições de 2014. Os recursos foram direcionados à candidata ao Senado Rose de Freitas, eleita pelo Espírito Santo.

 

Graças às suas conexões nos bastidores da política na capital, Willer chegou a ser cotado para ocupar uma vaga no Conselho Nacional do Ministério Público, em 2015. Alguns deputados defenderam o nome dele para o órgão, responsável por fiscalizar as atividades de promotores e procuradores de todo o Brasil. Mas o escolhido para o posto foi Gustavo do Vale Rocha, que havia advogado para o PMDB e representado o ex-deputado federal Eduardo Cunha, preso na Operação Lava-Jato.

 

Nos tribunais, Willer Tomaz representou dezenas de poderosos encrencados com a Justiça. No Distrito Federal, ele atuou em defesa de Roberto Giffoni, ex-corregedor-geral do DF e réu da Operação Caixa de Pandora. Também representou a delegada Sandra Maria da Silveira, acusada de corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Miquéias. Ela foi absolvida, em fevereiro deste ano.

 

Judiciário

 

O advogado preso ontem também defendeu os interesses do governador de Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), em causas no Supremo Tribunal Federal, assim como os do senador Magno Malta (PR-ES). Atuou, ainda, em outras causas polêmicas, como a defesa do pastor Marcos Pereira da Silva, acusado de estuprar fiéis. No mundo jurídico, Willer representou o juiz federal Macário Ramos Neto e o desembargador do Tocantins Bernardino Lima Luz, ambos aposentados compulsoriamente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

 

O escritório de Willer Tomaz divulgou ontem uma nota de esclarecimento sobre o episódio. “A advocacia é uma profissão que visa a proteger o estado de direito e, por estar relacionada com combate para assegurar garantias individuais dos cidadãos, está sujeita a acusações injustas. Os fatos noticiados serão devidamente esclarecidos no curso das investigações”, afirmou a nota da firma.

 

R$ 30 mil

Valor doado pelo advogado Willer Tomaz ao PMDB nas eleições de 2014

 

 

"Nunca advoguei para a JBS nem para nenhuma outra empresa do grupo. Não existe procuração em meu nome"

 

 

Quatro perguntas para 

Juliano Costa Couto, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no DF

 

Quem procurou o senhor para tratar de 

assuntos relacionados à empresa JBS?

Um cliente, Andre Vieira, amigo de Joesley Batista, solicitou informações sobre criminalistas em Brasília.

 

Quais qualidades de Willer Tomaz levaram o 

senhor a indicá-lo aos representantes do frigorífico 

para atuar no caso da Operação Greenfield?

O doutor Willer Tomaz advoga para diversas autoridades e políticos, em operações criminais de grande repercussão, no DF e em outras unidades da Federação.

 

O senhor advogou em nome da JBS ou de empresas 

controladas pela companhia? Por que existe uma 

procuração no nome do senhor?

Nunca advoguei para a JBS nem para nenhuma outra empresa do grupo. Não existe procuração em meu nome, inclusive já tenho um pedido de emissão de certidão que ateste esse fato ao MP (Federal).

 

Quando representantes da JBS procuraram o senhor, 

houve algum indício de que o caso envolveria a compra de um procurador?

Em momento algum tomei conhecimento desse fato, a não ser após a divulgação das delações.


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