04/04/2022 às 08h43min - Atualizada em 04/04/2022 às 08h43min

Marina Silva: “Não se deve subestimar o bolsonarismo e Bolsonaro”

Em entrevista, ex-ministra considera candidatura ao Congresso em 2022: "Estou refletindo com muito senso de responsabilidade"

São Paulo – Ex-ministra do Meio Ambiente, ex-senadora e ex-candidata à Presidência da República, Marina Silva (Rede) classificou de “empobrecimento da política” o atual momento do país, que se aproxima da corrida eleitoral: “Não adianta fazer uma despolitização já no primeiro turno, com uma guerra entre o bem e o mal”.
 
A poucos meses das eleições, Marina afirmou que o país vive um cenário político em que não se deve subestimar o bolsonarismo.
 
“PT e PSDB ficaram tanto tempo no poder e não ampliaram e aprofundaram nossa democracia, e o que aparece [como resultado disso] é Bolsonaro. Não fomos capazes de institucionalizar políticas públicas para que elas não ficassem ao bel-prazer de quem está de ‘plantão’ no Palácio do Planalto”, frisou.
 
Neste ano, a sigla de Marina, a Rede Sustentabilidade, aprovou a formação de uma federação partidária com o PSol. Na prática, a união irá permitir que as siglas juntem os resultados obtidos na eleição para superar a cláusula de barreira, que permite acesso ao Fundo Partidário eleitoral e tempo de televisão e rádio.
 
“A Rede e o PSol são partidos programáticos que têm pontos muito diferentes em termos de percepção. Trabalhamos com a ideia de que somos necessários na democracia para alcançar determinados objetivos em benefícios do país”, analisou.
 
Apesar da movimentação de algumas lideranças para apoiar a candidatura da ex-ministra, Marina ainda não tem uma resposta sobre se vai concorrer no próximo pleito. “Estou fazendo uma reflexão que não é fácil. Eu não tinha no meu horizonte retornar ao Congresso Nacional, mas estou refletindo com muito senso de responsabilidade.”
 
Leia a entrevista:
Como analisa o atual cenário político?
Está claro que a polarização, que tomou conta da política brasileira, não gera bons frutos e não é vantajosa para a democracia. Ela só foi mudando de nome, antes era PT e PSDB, já foi também Arena e MDB, e agora PT e Bolsonaro. Infelizmente, isso é algo trabalhado, os polos têm como estratégia achar quem é o seu adversário predileto.
 
A outra realidade atual é que não se deve subestimar o bolsonarismo e Bolsonaro. Houve essa subestimação em 2018 por muitos agentes políticos, inclusive eu, que no início achava que ele não chegaria ao segundo turno. Não temos o direito de errar duas vezes. Agora é compreender que vivemos uma ameaça às instituições e à democracia, mais do que em qualquer outro momento após a redemocratização.
 
Em um possível cenário de 2º turno com Bolsonaro e Lula, qual seria seu posicionamento?
Qualquer pessoa sabe que derrotar Bolsonaro é uma questão de legítima defesa. Defesa da democracia, do meio ambiente, dos direitos humanos, das políticas de combate às desigualdades sociais. Não é uma questão apenas de como derrotar Bolsonaro, e sim de como derrotar democraticamente o bolsonarismo. Não adianta fazer uma despolitização já no primeiro turno, com uma guerra entre o bem e o mal, isso é um empobrecimento da política.
 
É o momento de dar oportunidade para que candidatos do campo democrático digam o que estão apoiando e com que estão se comprometendo. É importante observar que eles estão reconhecendo erros do passado e, nesse caso, digo PT e PSDB, que ficaram tanto tempo no poder e não ampliaram e aprofundaram a nossa democracia, e o que apareceu [como resultado disso] foi Bolsonaro.
 
De onde acredita que vêm as disputas internas que vemos dentro do PSDB?
Os problemas internos do PSDB foram ficando mais rarefeitos daquele PSDB histórico, onde havia as lideranças históricas. O partido também é vítima da própria polarização que cultivou. Acredito, inclusive, que vai passar por um rearranjo. Todo esse tensionamento que foi criado, que levou a uma denúncia do Doria, vai fazer a sigla enfrentar uma reconfiguração política.
 
Muitos partidos podem ter problemas para superar a cláusula de barreira nas eleições deste ano. Foi pensando nisso que o Psol e a Rede acertaram a federação?
Houve uma reconfiguração no sistema político brasileiro que não permite que se tenha profusão de partidos. Criou-se um monte de mecanismos, com o argumento correto, de que não se pode existir sigla de aluguel, mas não se pensou nos partidos programáticos e que não são siglas de aluguel. As legendas que alugavam foram beneficiadas cada vez mais com o fundo partidário altamente gordo e com mais centralização do poder e menos transparência em relação ao uso dos recursos públicos. É correto que se tenha uma reconfiguração para evitar os oportunistas, mas também não é correto que se crie um sistema em que somente aqueles já estabelecidos podem existir.
 
A Rede e o Psol são partidos programáticos que têm pontos muito diferentes em termos de percepção. Como somos dois partidos diferentes, nós trabalhamos com a ideia de que somos necessários na democracia para alcançar determinados objetivos em benefício do país. No programa da federação, a Rede e o Psol vão ter o espaço para anunciar quem são, não é uma fusão.
 
O que podemos esperar em relação a uma possível candidatura sua em 22?
Existe uma discussão que vem sendo feita na Rede e fora também, por pessoas e lideranças políticas, de que em função de tudo o que está acontecendo no Brasil, eu deveria voltar para o Congresso. Estou fazendo uma reflexão que não é fácil, eu não tinha no meu horizonte retornar ao Congresso Nacional, mas estou refletindo com muito senso de responsabilidade. O meu desejo é de continuar contribuindo na política institucional ou ainda sem mandato.


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