20/05/2017 às 06h16min - Atualizada em 20/05/2017 às 06h16min

Perícia vê áudios editados e militar prega ordem no País

Notibras

As gravações feitas pelo empresário Joesley Batista com o presidente Michel Temer, foram editadas. Não se sabe se antes ou depois de chegarem à Procuradoria-Geral da República. A suspeita, levantada no final da tarde desta sexta, 19, pelo criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, foram confirmadas à noite por perícia oficial contratada pelo jornal Folha de S.Paulo.

No bojo desse novo lance no jogo da contra-informação, surgiu o comandante do Exército, general Villas-Boas, afirmando que os militares têm por base “os pilares da estabilidade, legalidade e legitimidade”. Nos quartéis, a ordem, literalmente, é manter a ordem.

O comandante do Exército passou cerca de 1h40 minutos com Temer no Palácio do Planalto, em reunião que contou as presenças do ministro da Defesa Raul Jungmann e os comandantes da Marinha e Aeronáutica. Ao final do encontro ficou claro que, se algo tem que mudar, a Constituição será respeitada, nem que seja necessário recorrer ao Artigo 142 da Carta Magna, que trata de uma eventual intervenção das Forças Armadas em tempos de crise.

No laudo feito pelo perito Ricardo Caires dos Santos, foram identificadas ao menos 50 edições, revela a Folha. A gravação tem vícios que joga por terra qualquer prova jurídica, sustenta o profissional, perito oficial do Tribunal de Justiça paulista. A mesma linha de raciocínio é seguida por Maris – amigo pessoal de Temer, e que entrou no jogo da defesa do presidente. “A fita foi editada e isso é gravíssimo”, sentenciou.

Na conversa com Temer no Palácio do Jaburu, em 7 de março, Joesley disse que estava “de bem” com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso pela Lava Jato. “Tem que manter isso, viu?”, respondeu Temer. Em seguida, Joesley acrescentou: “Todo mês”. Parte do diálogo, porém, é inaudível. Baseado nos trechos divulgados pelo Supremo, Mariz disse que “é uma indignidade o que estão fazendo contra o presidente da República e contra o Brasil.”

Questionado se o “corte” de algum trecho da conversa teria sido feito pela Procuradoria-Geral da República, Mariz preferiu a cautela e disse que jamais levantaria suspeitas sem provas. “A perícia vai nos dar indícios tanto sobre a edição quanto sobre a autoria. Quando soubermos, não teremos escrúpulos em denunciar”, declarou o advogado.

Mariz foi convidado na montagem do governo para ser ministro da Justiça, mas não chegou a assumir o cargo porque condenou, em entrevista, os “excessos dos operadores da Lava Jato”. Com a saída de Alexandre de Moraes do comando da Justiça, para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, o criminalista voltou a ser sondado, mas recusou o convite. Temer também insistiu, sem sucesso, para que ele assumisse uma secretaria especial ligada à Presidência, que ficaria responsável por cuidar do sistema penitenciário.

Agora, o presidente será investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de corrupção passiva, obstrução à investigação e participação em organização criminosa. O pedido de abertura de inquérito foi feito pela Procuradoria-Geral da República e autorizado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, contra Temer, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), fotografado com uma mala de dinheiro.

A defesa tenta desqualificar Joesley, sob o argumento de que o empresário se valeu de uma delação falsa com o único objetivo de obter benefícios para ele e sua companhia. “A verdade começou a ser reposta. Há absoluta falta de seriedade nas acusações”, insistiu Mariz.

Entretanto, em seu despacho de abertura do inquérito, Fachin disse não haver ilegalidade nos áudios gravados por Joesley. O ministro escreveu, ainda, que as conversas gravadas foram “ratificadas e elucidadas” pelo empresário em depoimento ao Ministério Público. “O despacho do ministro antecede a notícia que chegou ao governo, vinda de fontes fidedignas, de que a fita foi preparada”, afirmou Mariz. “A gravação em si não é crime, mas não é isso que se está discutindo.”

 

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