18/04/2022 às 08h05min - Atualizada em 18/04/2022 às 08h05min

Equipe de Ciro vê campanha digital com otimismo e estratégia se firma

Ex-ministro tem imprimido marca pessoal própria na campanha pelas redes. Enquanto isso, Lula ainda patina para se firmar no ambiente virtual

Com presença digital marcante e busca por ações que promovam engajamento, o pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) tem tido êxito nessa estratégia e vem imprimindo uma marca pessoal nas redes. Sob orientação do ex-marqueteiro do PT João Santana, Ciro tem lançado uma série de programas com identidade visual própria.
 
O presidenciável tenta se solidificar como possível nome para unir a chamada terceira via. Em todas as pesquisas recentes de intenção de voto, ele aparece como terceiro colocado, à frente do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) e da senadora Simone Tebet (MDB-MS), mas ainda pontua menos que 10%.
 
Entre os projetos, está o “Ciro Games”, uma live realizada às terças-feiras à noite; o “React do Cirão”, vídeos nos quais reage a falas de políticos e autoridades; e o mais recente: o “Waze do Cirão”, uma versão do aplicativo de trânsito Waze com a voz dele. Nesse último, os usuários podem ouvir Ciro dar instruções como: “Entre à direita, mas fora Bolsonaro” e “Vire à esquerda, mas não essa de goela”.
 
Procurada pela reportagem, a equipe de comunicação de Ciro explicou que a estratégia atual é: “Interagir de forma segmentada com vários setores da sociedade, com temas do interesses específicos e linguagem moderna e atraente. Oferecer produtos audiovisuais de qualidade e em quantidade constante. Explorar, ao máximo, as características próprias de cada rede social e, muito especial, a capacidade de expressão de Ciro”.
 
A assessoria do ex-governador vê com otimismo os resultados da ação digital. “Somos, hoje, a pré-candidatura que mais cresce em termos proporcionais e absolutos nas redes sociais”, comemora.
 
“No YouTube, como tem sido assinalado por especialistas, já superamos a marca fabulosa de mais de 50 milhões de visualizações, superando, de longe, Lula e todos os outros candidatos, com exceção de Bolsonaro”, completa.
 
“Estamos atuando fortemente nas demais redes para tentar compensar a distância provocada pela presença histórica dos outros candidatos — que utilizam as redes há muito mais tempo — e outros fatores, como nível de conhecimento e intenção de votos, que repercutem fortemente na audiência. Estamos bem otimistas com os resultados”, continua.
 
Como revelado, uma das principais estratégias do marqueteiro de Ciro é admitir que ele é “rebelde”, como o ex-governador costuma ser conhecido pelo seu jeito falastrão e espontâneo. Alguns vídeos já têm apresentado o pedetista como “rebelde com causa”.
 
Essa estratégia busca moderar a personalidade explosiva de Ciro, buscando equilíbrio e até mesmo certa dose de serenidade e descontração, explica a cientista política Noemi Araújo, coidealizadora da Representativa, consultoria de formação de lideranças.
 
“Agora ele é ‘o rebelde’, buscando fazer a conexão com o seu tema de campanha: a rebeldia da esperança. Assim como em 2018, houve um movimento muito grande encabeçado pela juventude nas redes sociais buscando virar o voto para Ciro, ele continua nessa estratégia, mas agora de forma mais ativa e ainda mais visual, a fim de se conectar e fidelizar o eleitorado mais jovem”, analisa Noemi.
 
A equipe de Ciro informou que a ação digital não está exclusivamente voltada para os jovens, ainda que eles façam parte de um grupo “especial de interesse”. “A linguagem, temas e formatos utilizados estão voltados para públicos bem diversificados e temos obtido excelentes respostas. Na verdade, nossa segmentação estratégica é mais por faixas socioeconômicas do que por franjas etárias”, explica.
 
Outra estratégia em que Ciro tem apostado é se colocar como alternativa viável ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que lideram todas as pesquisas eleitorais. Suas publicações têm sido relativamente equilibradas em atacar ora Lula, ora Bolsonaro.
 
Outro detalhe ressaltado pela analista é que Ciro tem tentado se posicionar de forma natural, usando moletom, casacão, fone de ouvido, diferentemente do agora ex-presidenciável Sergio Moro (União Brasil), por exemplo, que tentou jogar em um fliperama trajando terno.
 
Lula ainda patina
Enquanto isso, Lula ainda patina para firmar sua comunicação digital, que não possui marca própria. Analistas observam que falta ao petista modernizar o formato da comunicação, que conta com produções sofisticadas, mas afastadas do eleitorado popular.
 
A colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, informou que o PT está insatisfeito com as inserções de Lula em rádio e TV e o partido avalia rever o contrato com a agência MPB Estratégia & Comunicação. A avaliação é que as peças apresentaram um Lula muito racional e com um discurso que o eleitor mais simples não entende. Essa linguagem amarrada também se reflete nas redes.
 
Apesar disso, Lula se mantém na dianteira nas redes sociais em termos de alcance e números. Ambos, Ciro e Lula, seguem, porém, distantes de Bolsonaro, que iniciou sua forte presença nas mídias ainda em 2018.
 
Há quatro anos, Bolsonaro contava com poucos recursos e tempo de exposição em rádio e televisão. A aposta foi então nas redes sociais. Com o sucesso, as mídias seguiram exploradas ao longo de todo o mandato e são as ferramentas preferenciais para divulgação de ações governamentais.
 
A equipe de comunicação do chefe do Executivo federal faz postagens frequentes, cultiva perfis em mais plataformas do que outros presidenciáveis, investe em posts diferentes aproveitando as características de cada uma e cria tradições, como a live semanal das quintas-feiras, que já faz parte da agenda política brasileira.
 
Rei das redes
Como resultado, o mandatário do país ostenta mais seguidores do que a soma dos apoiadores dos seus cinco potenciais rivais mais bem posicionados nas pesquisas.
 
“Bolsonaro se consolidou como ‘o rei das redes’. É inegável como ele tem vantagem numérica expressiva diante de seus adversários, principalmente, no Telegram, Twitter e Instagram. Só no Instagram, em comparação a Lula, 15 milhões de seguidores a mais; Com Ciro, a diferença chega a 18 milhões de seguidores. Então o segredo é seguir aquilo que tem dado certo. Por isso também a estratégia de Ciro de usar ferramentas como react e games. Isso é o que conversa com o público engajado”, ressalta Noemi Araújo.
 
“Comunicação digital é indispensável, é onde conseguimos potencializar o alcance das mensagens a serem passadas, muito mais do que o corpo a corpo e a militância ‘nas ruas’, ainda mais depois de um contexto de pandemia. Não dá para minimizar o impacto virtual, principalmente, com a juventude que não tem a tradição dos movimentos sociais e partidários”, prossegue.
 
Apesar de ainda possuir uma comunicação mais analógica, Lula tem crescido em todas as plataformas. De acordo com dados da plataforma Social Blade, no Twitter, principal rede de comunicação política, Lula ganhou 109 mil seguidores nos últimos 30 dias, patamar semelhante ao de Bolsonaro, que conquistou 119 mil. Já Ciro ganhou 11 mil seguidores apenas.
 
“Ainda tem muito chão, ou melhor, algoritmos, para que os candidatos de esquerda alcancem a influência dos de direita. Seja do presidente a deputados federais e vereadores. Mas não se pode desistir: é onde as narrativas tem sido construídas, disseminadas e, até mesmo, combatidas”, conclui a analista.


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