Candidatos fora do meio político buscam exemplos como João Dória Jr. e Donald Trump
A desilusão do eleitorado com os políticos tradicionais apontada em diversas pesquisas tem motivado vários candidatos “outsiders” a articular possíveis candidaturas ao Governo do Distrito Federal nas eleições de 2018. Em geral, são empresários ou profissionais liberais bem-sucedidos que, a exemplo do prefeito de São Paulo, João Dória Jr. (PSDB), adotam o discurso de “devolver à cidade tudo o que ela me proporcionou”.
O presidente da Associação Comercial (ACDF), Cléber Pires, que não tem filiação partidária, avisa que não é candidato de si mesmo. Ou seja, precisa ter seu nome chancelado pelos empresários. “O momento clama por um político que não seja de carreira”, pontua. Ele diz que está pronto para pleitear o mandato, desde que tenha o apoio especialmente da classe empresarial.
O ex-presidente da OAB-DF, Ibaneis Rocha, atualmente na Secretaria Geral-Adjunta do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, também sem partido, apesar das críticas que faz à administração pública, afirma não enxergar solução fora da política. “Só que ela tem de ser bem feita”, ressalva. E diz que seu nome está à disposição. E já engrenando o discurso de candidato, acentua que “falta gestão ao DF, pois existem, sim, recursos para tirar Brasília do sufoco”.
Tanto Cléber quanto Ibaneis apontam, de saída, um grave problema da administração pública: gastos maiores do que as receitas. O advogado vê urgência na avaliação “da estrutura do Estado, que consome todos os recursos”. Já o empresário usa termos parecidos: “o poder público inchado não é para o povo”. “O modelo, no mínimo, está equivocado”. Ibaneis destaca que a área da saúde está “em estado de emergência”.
“Outsider” – Embora também se apresente como correndo por fora ― ele prefere o termo em inglês outsider ―, o professor e empresário no ramo de educação Eliseu Kadesh (PTdoB) conta que está sendo estimulado “por amigos e cidadãos insatisfeitos com políticos tradicionais”. Kadesh também não aceita justificativas usuais para a situação. “Acho absurdo a gente passar por dificuldades financeiras no DF, já que nossas principais contas são pagas pela União. Está na cara que tem falta de competência na gestão”.
“Sou um
outsider político verdadeiro e estou me colocando à disposição para concorrer ao Buriti. Parece pretensioso, mas o povo apóia. O povo precisa de uma esperança em algo realmente novo”, propagandeia.
Outro que garante estar no páreo é o locutor e líder comunitário de Ceilândia Goudim Carneiro. Ele já procura um partido que aceite registrar sua candidatura para concorrer ao governo. Até o fechamento desta reportagem, o
Brasília Capital não conseguiu contato com ele.
Como em eleições passadas, os nomes dos que estão fora dos grupos políticos tradicionais tendem a começar a aparecer a partir de agora. Eles têm em comum a perspectiva de que a desilusão do eleitorado com os chamados políticos tradicionais possa favorecê-los na hora de escolher o novo governador. Mas os institutos já detectam que há, sim, espaço para eles na raia da corrida eleitoral do próximo ano.
Sem planos de governo – Os três pré-candidatos ao GDF fora das estruturas partidárias tradicionais, ouvidos pelo
Brasília Capital, têm como foco a valorização da gestão e administração, especialmente dos gastos do dinheiro público. Como falta mais de um ano para as eleições, nenhum deles ainda tem um plano de governo, até porque dependem da consolidação do projeto de candidatura.
Ibaneis Rocha diz que não procurou ainda nenhuma estrutura partidária. “Estou sendo consultado por amigos, empresários e colegas da advocacia”, afirma. Cléber Pires conta que sua possível candidatura nasceu dentro de casa, ao ouvir da família: “Você já ajudou demais. Está na hora de você mesmo fazer”. Eliseu Kadesh apresenta-se como gestor e não político, “capaz de fazer uma melhor aplicação do dinheiro público”.
Cléber cita a situação econômica como resultado de políticas públicas tanto no País quanto no DF. Aqui, ele destaca a quantidade de empresas que fecham as portas, deixando de gerar empregos. “De janeiro a abril deste ano, 6.232 encerraram CNPJ. Apenas 337 iniciaram”, diz, citando dados oficiais, que são fontes de outro dado sublinhando por ele – o de que, em 2016, houve o fechamento de duas empresas por hora no DF.
Ibaneis bate na mesma tecla da dificuldade para que as empresas continuem existindo. Porém, cita o outro lado da moeda: “Não se valoriza o emprego”. Eliseu Kadesh se diz um apaixonado por Brasília e vai mais longe ao dizer que não há governador no DF desde a cassação de José Roberto Arruda, em 2010. “Ter sido deputado ou senador não capacita ninguém para administrar nossa Brasília. Pelo contrário, faz é atrapalhar!”, acrescenta.