A força-tarefa da Lava jato no Rio de Janeiro fez mais uma denúncia contra o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e outras nove pessoas. Eles são acusados de receber quase R$ 47 milhões de propina da Carioca Engenharia em troca de fraudes em licitações e superfaturamento de obras públicas. Essa é a nona denúncia da Lava Jato contra Cabral, que está preso desde novembro, quando foi alvo da primeira acusação, na Operação Calicute.
A GloboNews teve acesso, em primeira mão, à denúncia do Ministério Público Federal (MPF). Segundo os procuradores, a Carioca Engenharia pagou propina, por meio de caixa 2, à organização criminosa chefiada por Cabral em pelo menos três grandes obras:
reurbanização da comunidade da Rocinha, parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das favelas;
construção do Arco Metropolitano, rodovia que corta várias cidades do Grande Rio;
construção da Linha 4 do metrô, que liga a Zona Sul à Zona Oeste da capital, inaugurada pouco antes da Olimpíada, no ano passado.
Os investigadores afirmam que, em todas essas obras, houve formação de cartel, fraude na licitação e lavagem de dinheiro. Segundo o MPF, Cabral, seu então secretário de governo Wilson Carlos e os operadores Carlos Miranda e Carlos Bezerra receberam propina de 5% do valor das obras.
As propinas, diz a denúncia, eram pagas mensalmente, entre março de 2008 e abril de 2014. Foram pelo menos 73 pagamentos, que somam R$ 39 milhões. Os procuradores afirmam que Cabral recebia uma mesada de até 500 mil.
De acordo com a força-tarefa, também era cobrada da Carioca Engenharia uma propina de 1% apelidada de taxa de oxigênio.
Além de Cabral e Wilson Carlos, recebiam essa taxa Hudson Braga, secretário de obras de Cabral, Wagner Jordão e José Orlando Rabelo, apontados como operadores do esquema. O pagamento dessa taxa chegou a R$ 4,5 milhões.
O MPF afirma também que Luiz Carlos Velloso, subsecretário de transportes do governo Cabral, recebeu R$ 2 milhões de suborno pela construção da linha 4 do metrô. E, pela mesma obra, Heitor Lopes de Sousa Júnior, diretor de engenharia da Rio Trilhos, a Companhia de Transportes sobre Trilhos, embolsou mais de R$ 1 milhão em propina.
Provas e denunciados
Os pagamentos – que somam quase R$ 47 milhões â foram comprovados por documentos apreendidos, como e-mails, quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico dos envolvidos e registros de entrada no prédio da Carioca Engenharia.
Sérgio Cabral, Wilson Carlos, Hudson Braga, os quatro operadores do esquema de corrupção, além de Luiz Carlos Velloso e Heitor Lopes foram denunciados por corrupção passiva.
Luiz Carlos Velloso e Heitor Lopes também vão responder por organização criminosa. Os outros já respondem por esse crime, mas em outro processo.
Todos estão presos, menos o décimo denunciado, Ricardo Pernambuco, um dos donos da Carioca Engenharia, que assinou acordo de delação premiada.
Ele foi denunciado pelos crimes de corrupção ativa e de pertencer à organização criminosa.
Denúncia no Paraná contra Cabral
O MPF no Paraná apresentou também nesta semana outra denúncia contra Cabral. O MPF pediu a condenação do ex-governador do Rio pelos crimes de corrupção passiva e 114 atos de lavagem de dinheiro. A acusação aponta que ele recebeu propina da Andrade Gutierrez em troca de contratos para obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).