Só que, para a equipe que faz as análises de risco do tribunal, a data que preocupa mais é outra: o dia da diplomação da chapa vencedora. Nos cenários projetados dentro do tribunal para os meses até a posse do próximo presidente, essa data é tratada como uma espécie de “dia D” do processo eleitoral.
“O dia da eleição não vai ser o maior risco, já que essa data não mobiliza ninguém”, avalia um integrante do TSE. O raciocínio leva em conta que, no primeiro turno, os políticos estão em seus currais eleitorais, preocupados com as eleições locais.
O intervalo de quase dois meses entre as eleições (em outubro) e a diplomação (que deve ocorrer até o dia 19 de dezembro) abre brecha para que militantes derrotados nas urnas se mobilizem nas redes sociais para carreatas, protestos antidemocráticos e até ameaças de invasão de prédios públicos.
A diplomação ocorrerá no edifício-sede do TSE, um prédio suntuoso do arquiteto Oscar Niemeyer, rodeado por outros tribunais e uma extensa área verde. Durante a apuração dos votos de 2018, a área externa do tribunal foi facilmente isolada e a totalização ocorreu sem transtornos.
Após aquela eleição, vencida por Bolsonaro no segundo turno, não houve incidentes durante a diplomação. A cerimônia mobilizou a classe política e reuniu em um mesmo espaço cerca de 500 pessoas, entre elas autoridades de todos os poderes e comandantes das Forças Armadas.
Dentro da Corte, há preocupações com extremismos, seja da direita ou da esquerda. Além dos ataques rotineiros desferidos por Bolsonaro e sua estridente militância, causou preocupação dentro do TSE uma declaração da deputada petista Erika Kokay (DF), aliada de Lula.
“Bolsonaro não seria presidente se as eleições de 2018 não tivessem sido fraudadas. Nós não aceitaremos mais nenhum tipo de golpe contra a democracia neste país”, escreveu Kokay no Twitter, em 29 de maio.
O cenário considerado mais tenso, porém, é o de uma eventual vitória de Lula, favorito nas pesquisas de intenção de voto. Nos Estados Unidos, a invasão do Capitólio por extremistas insuflados por Donald Trump, após a derrota nas urnas, ocorreu durante a sessão do Congresso que confirmaria a vitória do democrata Joe Biden no pleito.
“A violência cometida contra o Congresso norte-americano deve colocar em alerta a democracia brasileira”, disse o atual presidente do TSE, ministro Edson Fachin, logo após a invasão.
O episódio também estimula a imaginação de bolsonaristas. O próprio presidente da República já afirmou que “se nós não tivermos voto impresso em 2022, uma maneira de auditar voto, vamos ter um problema pior que os Estados Unidos”.
Nesta semana, Bolsonaro intensificou os ataques às urnas após a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ter mantido a cassação imposta pelo TSE ao bolsonarista Fernando Francischini (União Brasil-PR) por disseminar fake news contra as urnas eletrônicas.
O chefe do Executivo repetiu as mesmas acusações infundadas contra o sistema eletrônico de votação que levaram à cassação de Francischini.
Nesta quinta-feira (9), ao cumprir agenda nos EUA ao lado do presidente Joe Biden, Bolsonaro voltou a lançar suspeitas sobre as eleições brasileiras. “Queremos, sim, eleições limpas, confiáveis e auditáveis. Para que não reste nenhuma dúvida após o pleito”, afirmou.
A preocupação com segurança não se resume a eventuais atentados contra as instalações do TSE. Conforme revelou a coluna, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu reforçar a segurança de todos os seus integrantes, inclusive a dos ministros substitutos.
Um dos maiores temores da área de segurança do tribunal é com possíveis ataques inesperados dos chamados “lobos solitários” em um ambiente marcado pela forte radicalização política