No último final de semana, uma fala do ex-presidente Lula agradecendo a Manoel Eduardo Marinho, conhecido como Maninho do PT (foto em destaque), por um episódio de agressão contra um empresário, gerou polêmica.
Após a declaração, o Metrópoles teve acesso a um depoimento de Maninho, colhido em maio deste ano, no processo em que ele é réu por tentativa de homicídio. Durante a oitiva, o ex-vereador diz que gostaria de pedir perdão à vítima, o que não é mais possível, já que ela faleceu em 30 dezembro de 2021, aos 60 anos.
Ao final do depoimento, Maninho afirma ter sido informado sobre o falecimento da vítima e lamenta o episódio. “Tenho um arrependimento enorme de ter acontecido esse fato, ainda mais agora com a morte dele. Eu queria vê-lo e pedir perdão. Eu fui levado pela emoção e tenho um enorme arrependimento de ter acontecido esse fato.”
A família diz que sequelas da agressão contribuíram para o agravamento da saúde de Bettoni nos últimos anos – tese corroborada por laudos médicos aos quais a reportagem teve acesso.
Em abril de 2018, Carlos Alberto Bettoni foi agredido e empurrado contra um caminhão. A violência trouxe consequências graves para a saúde do empresário, que ficou impossibilitado de trabalhar. Sofrendo com crises convulsivas, sequelas neurológicas e nervosas, o empresário foi internado por diversas vezes, primeiramente em um hospital particular.
Com a piora da situação financeira da vítima – que não conseguiu retornar ao trabalho após a agressão -, as últimas internações ocorreram no Sistema Único de Saúde (SUS).
Em dezembro, Bettoni teve uma nova crise convulsiva e precisou ser internado em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Enquanto aguardava a transferência para um hospital, contraiu Covid-19. Mesmo com duas doses de vacina, as comorbidades fizeram a doença se agravar e ele não resistiu.
No último sábado (9/7), Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato à Presidência pelo PT, agradeceu Maninho por “defendê-lo” na ocasião e fez referência ao período em que o ex-vereador ficou preso preventivamente pela tentativa de homicídio.
“Maninho, por me defender, ficou 7 meses preso porque resolveu não permitir que um cara ficasse me xingando. Quero, em teu nome, agradecer à toda solidariedade do povo de Diadema. Obrigado, Maninho. Essa dívida que eu tenho com você, jamais a gente pode pagar em dinheiro”, disse o ex-presidente.
A filha única do empresário, que pediu para não ter o nome divulgado, diz que os anos seguintes à agressão foram de muito sofrimento. “Meu pai tinha a saúde perfeita antes do ocorrido. Eu vi ele decaindo. Foi muito triste e difícil. Ele faleceu em 2021, mas, para mim, a vida dele acabou em abril de 2018”, relatou.
Segundo ela, a repercussão das declarações de Lula trouxeram o trauma de volta: “Me fez reviver essa agressão. Ter que ouvir de novo como se fosse um nada que tivesse acontecido. Não entendo a necessidade e a frieza em dizer isso”.
Mais de 4 anos após o crime, o processo se aproxima do julgamento.
A denúncia do Ministério Público cita agravante na conduta dos acusados. “O crime foi cometido com emprego de meio cruel, os indiciados elegeram para a prática delitiva, meio apto a provocar no ofendido intenso e atroz sofrimento fisico, em contraste com o mais elementar sentimento de piedade humana”, relata o promotor de Justiça Felipe Zilberman na peça em que o ex-vereador e seu filho viraram réus por tentativa de homicídio.
No depoimento, Maninho confessa os atos violentos contra Carlos Alberto e confirma que a vítima não reagiu às agressões físicas, só proferiu xingamentos.
“Consegui empurrá-lo algumas vezes, ele continuou xingando e eu segui empurrando ele. Cheguei a dar um chute na canela e, no final, ele se virou contra mim e eu dei um tapa com a mão aberta no rosto dele e ele caiu”, relatou o ex-vereador.
O Partido dos Trabalhadores não comentou a fala de Lula.