15/07/2022 às 05h52min - Atualizada em 15/07/2022 às 05h52min

Gari que levou vassouradas: “A gente sai de casa às 4h para apanhar”

Garis prestaram depoimento e avaliam entrar na Justiça em busca de reparação após terem sido atacados enquanto trabalhavam

Francisco Dutra
METRÓPOLES

Após terem sido vítimas de socos e vassouradas, dois garis vivem divididos entre o medo e a revolta. Os dois profissionais responsáveis pela limpeza no Distrito Federal foram atacados, nessa quarta-feira (13/7), na Asa Norte.
 
O Metrópoles conversou com os garis Lucivaldo Rodrigues Paiva, 47 anos, e Fábio Cardozo de Souza, 43, após serem atacados por um militar enquanto faziam a varrição perto da 912 Norte. O suboficial da Marinha Alan da Silva Fonseca, 47, pensou que um dos profissionais da limpeza estariam filmando a esposa e a filha dele, além de mais duas mulheres, durante uma aula de ginástica — na verdade, um dos garis usava um aparelho de geolocalização para registrar os locais por onde eles haviam feito o serviço.
Veja os depoimentos:
 
“Ele pegou o cabo de vassoura e meteu nas minhas costas”, contou Lucivaldo. Para o gari, a situação é revoltante. “Rapaz, é difícil. A gente sai de casa às 4h para apanhar”, lamentou.
 
O gari foi atingido pelos golpes de vassoura nas costas. “Você fica apavorado. Doeu. O cabo de vassoura dói”, destacou. Lucivaldo trabalha há 2 anos na função e nunca passou por situação semelhante.
 
“Se o cara estivesse armado, ele tinha nos matado”, pontuou. Fábio encara o episódio da mesma forma. Ele recorda-se do começo do ataque, quando ambos foram fechados por um carro na rua.
 
Murro nas costas
“Chega um cara correndo e me dá um murro nas costas. E já vai agredindo o meu amigo”, relatou. Fábio tentou se esquivar dos ataques.
 
“Ele podia estar armado e alvejado a gente. Podia tirar duas vidas inocentes com família para criar”, queixou-se. Fábio enfatizou que, atualmente, parte da sociedade não respeita os garis. “A gente quer respeito, queremos ser vistos”, concluiu.
 
Lucivaldo e Fábio avaliam buscar uma reparação na Justiça após o ataque. Ambos registraram ocorrência e fizeram exames no Instituto Médico Legal (IML).
 
Apoio
Os dois garis trabalham para a Valor Ambiental, terceirizada do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). A empresa colocou à disposição deles serviço jurídico e apoio psicológico.
Segundo o gestor de recursos humanos e jurídicos da Valor Ambiental, Diego Duarte, a companhia prestará todo o amparo para os garis. No entanto, o episódio não é isolado. Frequentemente, os profissionais são hostilizados.
 
“Infelizmente, tem algumas pessoas que não conhecem a realidade. Acham que pelo fato de eles serem varredores seriam menos importantes. Mas, na verdade, são essenciais. Nós ficamos tristes, porque são pais de família”, disse.
 
A Valor Ambiental emprega 2,3 mil garis no SLU. O serviço, no total, conta com, aproximadamente, 6 mil desses profissionais.
 
O Sindicato dos Trabalhadores de Limpeza Urbana (Sindlurb) também colocou-se à disposição das vítimas. Atualmente, a categoria sofre com o desrespeito.
 
“Infelizmente, os casos de agressão e preconceito são frequentes. Tem pelo menos um por mês. Negam-nos um copo de água. Tem escola que não deixa o gari ir ao banheiro”, denunciou José Cláudio de Oliveira, dirigente do Sindlurb.
 
O caso
Um vídeo registrado por câmeras de segurança mostra o momento em que os garis são agredidos por um militar da Marinha do Brasil. O homem bateu nos trabalhadores de limpeza urbana por achar que ele estava filmando a esposa enquanto ela fazia ginástica.
 
O caso, investigado pela 5ª Delegacia de Polícia (Área central), ocorreu nesta quarta-feira (13/7). No vídeo, é possível ouvir o homem gritando e vê-lo empurrando uma das vítimas na calçada.
 
O militar perguntou o que os garis estavam filmando e pediu que mostrassem o celular. Um dos trabalhadores mostra o objeto que segurava, que, na verdade, era um aparelho de geolocalização usado para registrar os locais por onde o Serviço de Limpeza Urbana passou.
 
Segundo um dos garis agredidos, a mulher achou que estava sendo filmada porque os garis precisam marcar o percurso feito com um GPS. Para o equipamento funcionar, os trabalhadores precisam levantá-lo e apertar um botão. “Chegou um carro, e o homem abordou a gente, já batendo e pedindo para mostrar o celular’”, lembra.
 
Mas, mesmo mostrando o aparelho, ele foi agredido novamente pela vassoura que o gari usava para limpar a rua. Em seguida, o vídeo mostra que a vítima recupera o objeto. No entanto, o homem ainda vai atrás dele e dá um tapa nas costas do trabalhador.
 
Moradores viram as agressões e chamaram a polícia. Segundo testemunhas, em nenhum momento, o gari agrediu ou xingou o militar. Todos foram levados à 5ª DP.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »