Não são raros os pedidos de ajuda nas redes sociais. São histórias tristes, comoventes, de verdadeira dificuldade financeira e insegurança alimentar, que tendem a sensibilizar quem lê os pedidos de socorro. O que não se espera é que, por trás das postagens, estejam golpistas, utilizando as plataformas para fingir ser uma pessoa em situação de vulnerabilidade social para enganar, por meio das publicações, outros internautas.
A ideia é conseguir convencer as pessoas a transferir dinheiro para eles, por meio de uma chave Pix. O golpe chama a atenção pelo número de telefone utilizado ser o mesmo em várias postagens, feitas por perfis diferentes no Facebook, por exemplo.
Os criminosos entram em grupos compostos por moradores do Distrito Federal para captar vítimas que simpatizem com o relato deles.
Normalmente, as postagens são feitas por mulheres, que usam um discurso delicado sensibilizar os internautas. “Elas” falam que a família está passando fome e que não têm dinheiro para comprar comida ou pagar por um botijão de gás, por exemplo.
Em algumas publicações, os criminosos utilizam da fé para tentar convencer as vítimas: “Que Deus toque no seu coração para me ajudar”. Em outras, oferecem supostos serviços, como de diarista, em troca de dinheiro.
O Metrópoles optou por divulgar o número utilizado no golpe da doação para que os usuários da rede social possam identificar a prática fraudulenta. Ao entrarem em contato com o telefone divulgado, as vítimas acabam transferindo as quantias via Pix. Porém, quando falam em doar alimentos ou roupas são despistados pelos criminosos.
Em alguns grupos, os perfis já são conhecidos por aplicarem golpes. Por meio de posts, eles tentam alertar outros internautas sobre o crime. “Eles bloqueiam a pessoa que adverte a prática e continuam dando golpes”, comentou uma usuária da rede.
Segundo o perito em crimes digitais Wanderson Castilho, os golpistas começaram a utilizar a artimanha em decorrência da viabilidade de transferir dinheiro via Pix. “Eles começam com um valor pequeno para não criar desconfiança. Além disso, esse tipo de transferência facilita a prática e eles conseguem abranger mais pessoas ao pedirem a suposta doação em vários grupos”, comenta.
“O golpe sempre é dado em pessoas que estão com boas intenções. Porém, é preciso sempre investigar onde você está colocando o seu dinheiro, por menor que seja o valor, para identificar se você não está ajudando o crime organizado”, alerta Wanderson.
O especialista orienta, ainda, que uma maneira de identificar a prática é pesquisar nas buscas da própria rede social o telefone divulgado, de modo a reconhecer se o número está sendo utilizado por outras contas também.
Para o delegado Dário Taciano de Freitas, da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), apesar de o sistema de pagamentos instantâneos trazer praticidade e agilidade nas transações bancárias, a facilidade está na mira dos criminosos.
“Alguns desses perfis usam fotos de terceiros na tentativa de comover os potenciais contribuintes, como imagens de crianças pobres e de geladeiras vazias que não pertencem ao pedinte”, explica Dário.
De acordo com o policial, é necessário ter cautela ao fazer esse tipo de doação, caso a pessoa não tenha confiança. “Verifique junto à instituição ou pessoa e confirme o nome, o CNPJ e até se ela está realmente fazendo uma campanha de doação. Da mesma forma, é importante ficar atento às abordagens de quem pede doações. O golpista tem pressa. Em regra, ele não quer que você pense, tem que ser rápido”, orienta.
Estelionatos no DF
Dados do 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que os crimes de estelionato dispararam na capital do país nos últimos anos. Em 2021, foram 40.533 registros, um aumento de 61,6% comparado ao ano anterior, quando o número de ocorrências chegou a 25.078. Já em 2019, foram registrados 15.815 casos.
De acordo com a PCDF, entre os principais golpes aplicados no DF, em 2021, destacam-se os aplicados por meio do WhatsApp (612), além dos golpe do motoboy (583), do falso sequestro (142), extorsão (93), pirâmide em criptomoedas (50) e falsa promessa de emprego (27).
Conforme estatística produzidas pela PCDF, também houve um aumento no número de crimes de estelionato por meio da internet. Foram registradas 9.928 ocorrências desta natureza em 2021, o que representa alta de 31,9% em comparação com 2020, ano em que a quantidade de registros chegou a 7.524.
A pena para quem comete crime de estelionato varia de um a cinco ano de prisão, além do pagamento de multa.
Denuncie
A PCDF implementou a possibilidade de registro da ocorrência de crimes de estelionato, fraudes e apropriações pelo site da Delegacia Eletrônica. O comunicante é cientificado da necessidade de preservar as possíveis provas do crime, os quais deverão ser, oportunamente, apresentados à Autoridade Policial da Delegacia responsável pela apuração.