A partir desta semana, os candidatos se movimentam rumo ao próximo passo na corrida eleitoral: o processo de campanha, que teve pontapé inicial nessa terça-feira (16/8) e dura até 1º de outubro. Ao longo do período, os nomes na disputa pelo Palácio do Planalto começam a rodar o país a partir das alianças estaduais firmadas.
Os dois líderes nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), iniciam as campanhas em meio à instabilidade nos acordos regionais e palanques duplos. Apesar do cenário turbulento, ambos os candidatos conseguiram apoio em praticamente todas as unidades federativas.
Outros nomes na disputa, como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), encontram entraves para consolidar acertos mais robustos, em meio às inclinações das legendas em direção a Bolsonaro e Lula e ao cenário de neutralidade das siglas.
O atual chefe do Executivo tem palanques em todos os 26 estados e no Distrito Federal, com 14 candidatos da sigla concorrendo a governos estaduais. O petista também consolidou alianças declaradas em quase todas as unidades federativas, à exceção do Pará; e tem 13 palanques próprios.
Tebet confirmou palanques em oito estados, enquanto a chapa pura do pedetista Ciro Gomes conseguiu 11 palanques regionais, todos candidatos do partido.
Questões pontuais
Em números absolutos, Bolsonaro sai à frente. Quando é adicionado o fator competitividade na equação, a balança passa a tender ao equilíbrio, de acordo com o cientista político Eduardo Grin, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ambas as campanhas têm obstáculos específicos.
“No caso do PL, há questões maiores no Maranhão, Rio Grande do Norte e Amapá, enquanto o PT conseguiu uma campanha mais organizada que a do opositor, mesmo sem apoio explícito no Pará”, frisa o especialista.
Candidato à reeleição, Bolsonaro tem apoio de candidatos em maior variedade de siglas, fora os 14 candidatos da legenda. Contudo, em alguns estados, o atual presidente não conseguiu consolidar palanques próprios competitivos.
No Piauí, o candidato Sílvio Mendes (União Brasil) recusa a se manifestar em apoio a Bolsonaro. O Maranhão, por sua vez, quebra a lógica polarizada, onde membros do PL aderiram à candidatura de Weverton Rocha (PDT), que também é apoiado pelo PT.
Situação similar é observada no Amapá, estado em que os apoiadores do presidente integram a mesma coligação que petistas, em apoio a Clécio Luís (Solidariedade), ex-prefeito de Macapá eleito em 2012 pelo PSol.
No caso do Rio Grande do Norte, o candidato Fábio Dantas (Solidariedade) destoa do rumo do partido, registrando apoio a Bolsonaro, apesar da sigla, a nível nacional, ser alinhada ao PT. Lula, por sua vez, é apoiado em palanque próprio pela governadora Fátima Bezerra (PT), que lidera a corrida no estado.
Embates nas siglas
A campanha do ex-presidente Lula teve as próprias questões, especialmente em razão de embates entre os dois maiores partidos da coligação, PT e PSB. O episódio mais recente, que causou instabilidade no palanque do Rio de Janeiro, colocou dúvidas sobre o apoio à candidatura de Marcelo Freixo (PSB) ao governo fluminense.
O PT ameaçou desfazer o palanque após uma quebra do acordo em que foi estabelecido, em que o PSB ocuparia a cabeça da chapa e o PT indicaria o candidato ao Senado — no caso, André Ceciliano (PT). Com o anúncio do nome de Alessandro Molon (PSB) à Casa, petistas fizeram pressão, mas acabaram cedendo e mantiveram o apoio.
Nos estados do Nordeste — como Pernambuco, Paraíba e Sergipe, Lula declarou apoio a um candidato ao governo, contudo, poderá subir em mais de um palanque. O partido definiu candidaturas próprias em 13 estados, dos quais os postulantes são mais competitivos estão em São Paulo, Ceará, Bahia, Piauí, Sergipe, Rio Grande do Norte e Acre.
Em quatro estados, o PT declarou apoio fora da coligação tradicional para candidatos do MDB. É o caso de Veneziano Vital do Rêgo (Paraíba), Paulo Dantas (Alagoas), Eduardo Braga (Amazonas) e Helder Barbalho (Pará).
No mês de julho, diretórios do partido declararam apoio à candidatura de Lula. Barbalho não esteve presente, mas enviou representantes. O candidato paranse, no entanto, resiste em declarar apoio aberto ao petista. Priorizando um arco de alianças plural — que também inclui bolsonaristas, a indefinição dele representa lacuna significativa no mapa de campanha petista.
Força dos partidos
O desenho da campanha política nos estados é etapa fundamental de campanha, como ressalta o professor Arnaldo Mauerberg, do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB). “Palanques estaduais garantem, de forma direta, o acesso aos candidatos nacionais em eventos regionais, implicando em visibilidade local”, frisa.
“De forma indireta (e mais importante em termos de resultados), as alianças locais garantem recursos valiosos para os candidatos nacionais, sendo o principal deles o engajamento da militância do candidato a governador ao candidato à presidência”, completa.
Na visão do especialista, a conjuntura marcada por uma eleição em que há tamanha rejeição entre opositores, declarar apoio em um dos nomes da disputa pode se transformar em um “teto de vidro” para um candidato ao governo local. A falta de posicionamento, no entanto, também traz custo de imagem relevantes.
“Ou seja, os candidatos a governador devem atuar com parcimônia no apoio oferecido. O apoio no papel é mais fácil de ser formalizado, justamente porque não exige grande engajamento, já o apoio na prática é mais difícil de conquistar e geralmente é observado entre candidatos que possuem longo histórico de atividade política conjunta”, afirma.