Para os colunistas do UOL, o debate chegou a ter "momentos de clima de briga de rua" e de "briga de boteco". Eles também opinaram sobre quem venceu o debate.
O destaque do encontro foi para a série de direitos de respostas motivados por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), líderes das pesquisas de intenção de voto, logo no início do programa.
O debate teve cerca três horas e vinte minutos de duração, terminando perto das 2h de sexta (30).
Além de Lula e Bolsonaro, também participaram do encontro Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil), Felipe D'Avila (Novo), e padre Kelmon (PTB).
Confira a opinião dos colunistas do UOL sobre o debate:
Chico Alves:
Mais uma vez, Simone Tebet se saiu muito bem no debate. Foi dura com Bolsonaro e com Lula, conseguiu citar algumas propostas de governo (algo raro nesse tipo de programa) e escapou da armadilha de discutir em tom de barraco. Fechou a campanha cumprindo com louvor o papel de incluir seu nome no seleto time de políticos de dimensão nacional, algo que será de grande valor nas próximas corridas eleitorais.
nfelizmente, tanto o bom desempenho de Simone quanto a eficiente performance de Soraya ficaram em segundo plano diante do show de grossura de Bolsonaro, que deu ao debate presidencial um clima de briga de rua, e do festival de sandices de Kelmon. Essa foi a triste marca do último encontro entre presidenciáveis. Lula, além das fake news e das ofensas por parte de Bolsonaro, recebeu críticas corretas de Simone e Soraya. Como era esperado, o petista foi o alvo preferencial —e deve ter sofrido algum desgaste por isso. Surpreendentemente, Ciro Gomes teve participação insípida.
José Roberto Toledo:
Simone Tebet foi a melhor. Lula teve muito tempo e bom desempenho no primeiro bloco (depois, bateu boca com o laranja [Kelmon], o que nunca é bom), Ciro demorou muito a engrenar e Bolsonaro falou só para convertidos.
Mesmo que Lula não tenha perdido eleitores, o debate deu grande visibilidade a candidatos nanicos e para Simone, que podem consolidar seus votos e até ganhar um pontinho. Isso pode fazer a diferença para a eleição ir para o segundo turno.
Josias de Souza:
Debate final foi briga de boteco de quinta categoria.
Estava previsto que William Bonner [jornalista que conduziu o debate] mediaria um debate presidencial. Comandou uma briga de botequim. Não um botequim qualquer, mas um boteco de quinta categoria. Com uma diferença. Nas mesas de um bar convencional, os bêbados pagam do próprio bolso a bebida que entorta a língua.
Na TV Globo, apresentaram-se presidenciáveis 100% financiados pelo fundo eleitoral. Afora escassas exceções, não entregaram boas frases, insultos mais elaborados, ironias finas... Nada que compensasse o custo. Não se viu uma bala de prata capaz de virar votos, apenas garrafadas.
“O grande vencedor do debate foi o telespectador que dormiu mais cedo”
Entre os candidatos, havia duas disputas em cena. Lula saiu-se menos pior do que Bolsonaro. Venceu por pontos, não por nocaute. Escorregou na maionese ao trocar insultos com o autoproclamado padre Kelmon, um traço nas pesquisas. Terá de contar com muita boa vontade dos indecisos para obter o "tiquinho" de votos que lhe faltam para encerrar o jogo neste domingo.
Simone Tebet venceu Ciro Gomes na disputa particular que trava com ele pela terceira colocação na corrida presidencial. A senadora injetou interesse público na confusão. Ciro exagerou nos números e na empáfia.
Alberto Bombig:
Não houve um vencedor disparado no debate da TV Globo. De qualquer forma, acho que Simone Tebet ficou acima da média, com boa desenvoltura no confronto direito com seus adversários. Para Lula, desde o início, foi um desafio de contenção de danos, porque ele sabia que seria o mais atacado. O petista, sem dúvida, esteve em posição desconfortável do começo ao fim.
No caso de Bolsonaro, entendo que foi o melhor desempenho dele em um debate nesta eleição, até por ter tido o candidato padre Kelmon como linha auxiliar para desestabilizar Lula.
Leonardo Sakamoto:
Num debate que ficará marcado pelo inédito direito de resposta do direito de resposta do direito de resposta, Simone Tebet e Lula saíram no lucro. Ela porque repetiu o bom desempenho dos últimos dois debates, lembrando que 2026 está logo ali. Ele porque sobreviveu com poucos arranhões dos ataques dos adversários. Ciro ficou devendo. Luiz Felipe D'Avila não empolgou.
Bolsonaro não disparou nenhuma bala de prata. E seu assistente, o candidato-padre de festa junina (nas palavras de Soraya Thronicke) até conseguiu tirar o petista do sério, mas não o bastante para exorcizar sua vantagem. Com isso, a tarefa de forçar um segundo turno vai ficar com o Gabinete do Ódio daqui até domingo.
“Em tempo: Bonner precisa receber adicional insalubridade. O telespectador também”
Tales Faria
Soraya foi quem brilhou, desconstruindo o "padre de festa junina". E polarizou com Bolsonaro que não podia bater boca com as duas candidatas do debate, já que está mal nas pesquisas junto às mulheres. Simone Tebet e Lula também venceram. Ela, porque manteve-se num nível minimamente elevado de discussão. E Lula, porque, sendo o mais atacado, aproveitou o tempo para divulgar os seus argumentos sobre as acusações contra o PT.
Bolsonaro e Ciro foram os grandes perdedores. O presidente, porque precisava vencer e não conseguiu. Ainda perdeu os duelos cara a cara com Lula e bateu boca com as duas candidatas mulheres. E Ciro foi desmontado por Lula logo no primeiro embate. Tornou-se um figurante no programa. Da mesma importância que D'Avila.
Madeleine Lacsko:
O excesso de direitos de resposta engessou o debate, que orbitou em torno das personalidades de Lula e Bolsonaro. Lula teve uma performance melhor que no último debate. Bolsonaro teve uma performance apagada. Os demais candidatos foram coadjuvantes. O horário não favoreceu a discussão. Praticamente nada muda.
Reinaldo Azevedo:
Quem venceu o debate? Não é um jogo em que as cestas ou os gols podem ser objetivamente contados. Lula deu as melhores respostas às questões que antigamente se chamavam "economia", "política" e "economia política". Mas haverá certamente quem considere, digamos, muito esperta a dobradinha entre o tal Kelmon, autointitulado "padre", e Jair Bolsonaro. O presidente começou o embate absolutamente descontrolado e depois baixou um tantinho o tom.
Se formos ler as respostas transcritas, excetuando-se os aspectos de mau espetáculo circense, o petista evidenciou por que tem condições de ser chefe do Executivo e por que o atual ocupante da cadeira a desmoraliza desde 2019.
Intuo —não mais do que isso porque não disponho de instrumentos para fazer a medição— que ninguém ganhou ou perdeu votos em razão do debate. Há um outro placar que é muito objetivo: "Todos contra Lula". Mesmo Simone Tebet e Soraya Thronicke aproveitaram para tirar uma casquinha do candidato petista, que evitou os ataques pessoais, a não ser quando revidou.
Os bolsonaristas certamente estão vibrando com as baixarias a que recorreu seu mito. Bem, nesse particular, convenham, ele não inovou. Se isso ganhasse eleição, seria eleito no primeiro turno. Arremato notando que é preciso pensar um modo de impedir que embusteiros e impostores enverguem vestes sacerdotais para tumultuar um encontro que poderia, efetivamente, ter debatido alguns temas importantes para o país.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.