03/06/2017 às 10h51min - Atualizada em 03/06/2017 às 10h51min

Loures ganhou medalha do Planalto uma semana antes de receber mala com R$ 500 mil

A condecoração foi concedida em cerimônia no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, no dia 20 de abril

Por ediçãoms

Oito dias antes de ser flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil em dinheiro de um delator envolvido em corrupção, o deputado federal e ex-assessor do Planalto Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) foi homenageado pelo presidente Michel Temer (PMDB) com a insígnia da Ordem de Rio Branco.

 

A condecoração foi concedida em cerimônia no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, no dia 20 de abril. Outros políticos, como o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) e o ex-ministro da Justiça, deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), também receberam a comenda.

 

A definição dos agraciados com a insígnia é feita pelo Conselho da Ordem de Rio Branco, composto pelo presidente da República, que ocupa o cargo de grão-mestre da Ordem, o ministro de Relações Exteriores e outros três assessores do Planalto e do Itamaraty.

 

Quando recebeu a honraria, Rocha Loures já havia deixado o posto de assessor especial do Planalto e retornado ao mandato de deputado federal.

 

Dali a oito dias, numa sexta-feira, 28 de abril, Rocha Loures seria flagrado numa ação da Polícia Federal recebendo R$ 500 mil em uma mala do executivo da JBS Ricardo Saud, no estacionamento de uma pizzaria em São Paulo.

 

As circunstâncias que levaram Loures a sair da pizzaria com uma mala de dinheiro só foram tornados públicos em 19 de maio, quando o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin tornou público o inquérito contra Temer e Loures.

 

O presidente e o deputado passaram a ser investigados, junto com o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), por suspeita de envolvimento nos crimes de corrupção, obstrução à Justiça e organização criminosa.

 

Acesso direto ao Planalto

Conversas telefônicas de Rocha Loures interceptadas com autorização do STF revelam que o deputado mantinha proximidade com o Palácio do Planalto, segundo aponta relatório da Polícia Federal anexado ao processo.

 

A PF afirma no documento que o deputado "possui acesso direto ao Palácio do Planalto", e que algumas das ligações indicam que, na prática, ele continua atuando como assessor do presidente.

 

"Em algumas chamadas telefônicas é possível notar que Rodrigo Loures continua com livre acesso ao Palácio do Planalto e, por vezes, desempenhando atividades de assessoramento", diz trecho de relatório da PF. Como exemplo, a polícia cita a atuação de Loures para conseguir intermediar um encontro de Temer com um líder sindical.

 

Outros pontos ressaltados pela PF como indicativos da proximidade do deputado com o presidente está a participação de Loures de uma reunião entre Temer e governadores de Estado ou a viagem feita pelo deputado no avião do presidente, dois dias após ter recebido a mala de dinheiro sob suspeita.

 

Delação da JBS

Temer passou a ser investigado no STF a partir do pedido de abertura de inquérito feito pela PGR (Procuradoria-Geral da República) com base na delação premiada de executivos da JBS.

 

O inquérito aberto também tinha como investigados o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ambos afastados do mandato.

 

A PGR disse ver indícios do recebimento de propina paga pela JBS e da tentativa de interferir em investigações.

 

A partir de gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, e o presidente Temer, a Procuradoria afirmou que Temer indicou Rocha Loures como seu "homem de confiança" para tratar com o empresário dos interesses da JBS.

 

Outro trecho da gravação levou a PGR a investigar se o presidente deu aval para que o empresário comprasse o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso e condenado no curso da Operação Lava Jato.

 

O presidente tem afirmado que não participou de atos ilegais e que tem pressa na tramitação do inquérito para que os fatos sejam esclarecidos.

 

Temer também contesta a interpretação da conversa feita pela Procuradoria, e classificou a gravação como "fraudulenta", "clandestina" e "manipulada".

 

O advogado de Rocha Loures, Cezar Roberto Bitencourt, afirmou em entrevista à "Folha de S.Paulo" que as gravações de Joesley não podem ser utilizadas como prova, pois teriam induzido ao cometimento dos supostos crimes. "Isso é uma espécie de flagrante provocado, é nulo", disse.

 

Bitencourt também afirmou que fará uma "defesa técnica" do deputado e disse que "a princípio" está afastada a hipótese de fechar um acordo de delação premiada.

 

A reportagem não conseguiu entrar em contato com Bitencourt nesta quinta-feira.

 

A investigação contra Aécio Neves, gravado por Joesley pedindo R$ 2 milhões, foi posteriormente separada em outro inquérito diferente do de Temer.

 

Aécio Neves tem negado a participação em irregularidades e disse estar "absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos". Sobre os R$ 2 milhões, a defesa do senador afirmou ter se tratado de um pedido de empréstimo pessoal ao empresário.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »