Na semana decisiva da corrida presidencial, as palavras de ordem nas campanhas dos candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são euforia e confiança. O plano é trabalhar para abafar pontos fracos e amplificar as boas notícias, ainda que seja necessário criá-las. Nesse processo, cada militância se apega à sua própria versão sobre os temas que frequentam o debate público.
E essas versões costumam ser muito diferentes umas das outras. O caso Roberto Jefferson é um exemplo. Para os bolsonaristas, o presidente afastado do PTB deve responder pelos seus atos e se radicalizou contra a vontade de Bolsonaro e seus aliados, que até ensaiaram defendê-lo ao longo do domingo (23/10), mas o abandonaram após o candidato à reeleição classificá-lo como bandido.
Para os lulistas, o político preso após atirar contra policiais federais é um dos aliados mais próximos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e cumpria, com sua resistência à prisão, um plano da campanha bolsonarista para denunciar uma suposta perseguição judicial.
As campanhas e militâncias também travam uma guerra por Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país, com 16 milhões de eleitores, e o estado onde os eleitos para a presidência da República sempre venceram – o que o torna simbólico e estratégico.
O petista Luiz Inácio Lula da Silva ficou na frente de Bolsonaro em Minas no primeiro turno, mas por uma diferença pequena, de cerca de 500 mil votos. Desde então, o candidato à reeleição conseguiu um apoio engajado do governador reeleito do estado, Romeu Zema (Novo), e tem viajado para cidades mineiras mais de uma vez por semana (como Lula também tem feito, aliás).
Nessa disputa acirrada, as campanhas dos dois candidatos vazam para a imprensa e para influenciadores digitais supostos dados de suas pesquisas internas (que não são registradas no TSE e não deveriam ser levadas a público) sempre mostrando um cenário mais positivo para seus candidatos.
E mesmo as pesquisas registradas são motivo de discórdia entre as militâncias. Num cenário agravado pela desconfiança que foi jogada sobre os institutos de pesquisa após erros nas previsões de primeiro turno, cada militância se apega aos levantamentos que se mostram mais favoráveis para seus candidatos e tentam descredibilizar os demais.
Os apoiadores de Lula, por exemplo, começaram a semana celebrando os levantamentos Atlas e Ipec, que mostraram estabilidade na disputa, com o petista na frente, ou ligeiro aumento da vantagem do candidato sobre Bolsonaro.
Já os bolsonaristas preferem se apegar aos números da pesquisa Brasmarket, também divulgados na segunda, que mostram Bolsonaro liderando a disputa – e abrindo vantagem em relação à semana anterior.
A disputa de preferências continuou na terça (25/10), com os petistas celebrando a estabilidade com Lula na liderança na pesquisa Ipespe e os bolsonaristas comemorando Bolsonaro empatado tecnicamente com Lula no levantamento do Paraná Pesquisas.
O próprio Bolsonaro disse, em entrevista, na segunda (24/10), que segue sem acreditar nas pesquisas, mas disse que os trackings internos de seu partido já indicam um empate técnico entre ele e Lula. “Pessoal passa, meus técnicos, que a gente está num empate técnico. Mas eu sempre digo, não podemos confiar em pesquisas. Porque, coincidentemente, todas as pesquisas jogam contra mim desde 2018. E não foi diferente agora”, declarou em entrevista à diretora-executiva do portal, Lilian Tahan.
Visões econômicas distintas
Nos programas eleitorais obrigatórios e nas inserções da campanha de Bolsonaro no rádio e na TV, o Brasil é um país com economia decolando e perspectivas de melhoras ainda mais chamativas em caso de reeleição. No material de campanha de Lula, o país está quebrado, a inflação dos alimentos está fora de controle e as perspectivas são desastrosas, sobretudo para os mais pobres, se Bolsonaro seguir no poder.
A batalha do momento na economia está em torno do salário mínimo. O marketing petista já havia passado a campanha toda lembrando que o governo Bolsonaro não deu nenhum aumento real (acima da inflação) ao salário mínimo e ampliou a artilharia sobre o tema após o ministro da Economia, Paulo Guedes, falar sobre a possibilidade de mudar o cálculo para o reajuste.
Com a ajuda de Janones, que gravou vídeo acusando o governo Bolsonaro de buscar reduzir o valor real do salário mínimo, o assunto ganhou força e obrigou o próprio candidato à reeleição a reagir e prometer, como Lula, que dará aumentos reais caso vença a eleição.
E toda essa batalha de versões se dá sob o escrutínio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que tem sido intensamente acionado pelas campanhas para barrar falas do adversário, além de estar agindo por si próprio nas redes sociais (e irritando militantes dos dois lados).
Só neste início de semana, o TSE já determinou que Lula e seus aliados excluam vídeos em que acusam Bolsonaro de querer reduzir o salário mínimo e que a campanha de Bolsonaro remova do ar vídeos que ligam o petista à criminalidade, por uma visita dele ao Complexo do Alemão, no Rio.