Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o Palácio do Planalto, a América Latina terá, a partir de 2023, suas cinco principais economias lideradas por presidentes de esquerda. Andrés Manuel López Obrador, no México; Alberto Fernandez, na Argentina; Gabriel Boric, no Chile; e Gustavo Petro, na Colômbia.
O avanço de uma “nova onda rosa” no continente, principalmente na América do Sul, faz o mercado levantar os riscos fiscais de um eventual aumento dos gastos públicos.
Reestatização
O economista-chefe da agência classificadora de riscos Austin Raiting, Alex Agostini, declarou que Lula não representa um risco de ruptura democrática, mas fiscal. “Sua eleição é chamada de ‘redemocratização’, mas existe a questão da estatização e da reestatização de empresas de capital aberto e os riscos fiscais envolvendo isso”, disse.
Agostini reiterou que o Brasil tem um rumo próprio diante de suas dificuldades. “O Brasil não vai virar uma Argentina, mas também não virará uma Suíça. Vai continuar sendo o Brasil. Com todas as suas dificuldades, e que precisa de uma política econômica que compense suas diferenças regionais”, destacou.
Preocupação
A professora de Relações Internacionais da Fespsp, Flavia Loss Araújo, explicou ainda que governos de centro-esquerda são sempre um motivo de preocupação do mercado, “pois há a crença do descuido da responsabilidade fiscal. Ou seja, criando um endividamento que pode se converter em aumento de impostos e inflação”.
Para ela, a discussão entre os governos locais, a universidade e sociedade deveria ser outra. “A América Latina precisa se debruçar agora na discussão sobre a qualidade da democracia, pois isso garante a integridade dos bons negócios e segurança jurídica”.
“Confortáveis”
Já o economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, André Galhardo, explicou que a eleição de Lula traz de volta os riscos relacionados aos governos Dilma Rousseff, mas que a questão fiscal nos governos Lula em si, “foram muito confortáveis”.
“O que o mercado teme em relação ao Brasil e à América Latina já acontece desde esse governo. Estamos em um estado de emergência e com muitas mudanças na Constituição promoveram aumentos de gastos extra teto. O quadro fiscal desfavorável de 2023 é por causa deste governo não de Lula”, afirmou.
Para o economista, o Brasil precisa retomar o diálogo com os outros países do bloco, incluindo a Venezuela. “Não precisa apoiar o regime, o governo não precisa endossar a postura do presidente [Nicolás Maduro], mas precisa olhar a Venezuela como potencial mercado consumidor”.Veja a divisão de governos na América Latina: