12/11/2022 às 06h16min - Atualizada em 12/11/2022 às 06h16min

Economia impõe 1ª crise a Lula, e transição tenta segurar expectativa

Indefinição sobre a política econômica do governo Lula faz o mercado oscilar. Definições devem ficar para depois da COP27, no Egito

Os vencedores da eleição presidencial enfrentam a primeira turbulência mais séria na preparação do novo governo, e a causa é a economia. A semana inicial da transição terminou tensa com as reações ao discurso de defesa dos gastos sociais feito pelo presidente eleito, que irritou o mercado financeiro pela falta de uma mensagem de compromisso com o equilíbrio fiscal.

A interpretação do mercado, de que Lula (PT) dissociou os compromissos sociais dos fiscais, levou a um tombo na Bolsa e alta forte no dólar na quinta-feira (10/11). Desde então, a equipe de transição organizou uma operação para apagar o incêndio, lembrando o compromisso do petista com metas fiscais em seus governos anteriores e garantindo que haverá essa preocupação na gestão que começa em 2023.

A estratégia funcionou parcialmente na sexta (11/10), com a Bolsa se recuperando um pouco e o dólar caindo, mas não a ponto de equilibrar as perdas do dia anterior.

A instabilidade, porém, está contratada para os próximos dias, pois o que os donos do capital financeiro cobram a transição não está disposta a dar ainda: nomes e compromissos da equipe econômica que vai substituir o ministro da Economia, Paulo Guedes.

A ordem na equipe de Lula é declarar que haverá compromisso fiscal em equilíbrio com a necessidade de transferir renda para a população mais pobre. Quanto a nomes, a orientação é esperar, pois a montagem da equipe como um todo está ligada a negociações maiores, que incluem a busca por uma base parlamentar mais sólida.

O entendimento dentro da equipe é de que anunciar nomes muito cedo pode ampliar o descontentamento de setores que não se sentirem contemplados.

O máximo que os aliados de Lula estão oferercendo é dizer quem não vai ser ministro. Na sexta, o ex-ministro Guido Mantega, de quem o mercado não gosta por ter sido responsável pela Fazenda no governo de Dilma Rousseff (PT) em um momento turbulento, disse para a Glob News que não vai assumir nenhum cargo no terceiro governo Lula.

A nomeação dele para a transição foi um dos motivos para o nervosismo do mercado na quinta, mas outro discurso que os lulistas têm repetido é de que quem está na transição, em regra, não será ministro.

Questionado sobre as cobranças do mercado na mesma entrevista, Mantega foi fiel à tática de não detalhar os planos de metas do novo governo, mas atacou o teto de gastos criado pelo governo de Michel Temer (MDB) após o impeachment de Dilma.
“Tem de dar flexibilidade para o governo. O teto de gastos colocou uma camisa de força na economia brasileira, o que explica o crescimento pífio”, criticou ele, que falou sobre a possibilidade de diferentes regras fiscais para gastos sociais e para o salário mínimo.

PEC adiada foi sinalização positiva
Um dos motivos para a recuperação parcial do mercado nesta sexta foi a informação de que o envio para o Congresso da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição foi adiado para a próxima semana. A percepção dos analistas foi de que a equipe de transição não está fechada a críticas e pretende negociar.

Ainda na quinta, o relator-geral do Orçamento 2023, Marcelo Castro (MDB-PI), confirmou que o governo eleito vai retirar o pagamento do Auxílio Brasil — que voltará a ser Bolsa Família — do teto de gastos para torná-lo permanente. A expectativa, portanto, é de que o benefício seja mantido em R$ 600 mensais.

O senador eleito Wellington Dias (PT-PI), coordenador da área de Orçamento na equipe de transição, adiantou que, após as reuniões e sugestões recebidas ao longo da semana, o texto deve passar por revisões e será finalizado somente depois do aval de Lula.


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