Pouco – se algo – resta ao presidente Michel Temer. Para todos os fins práticos, seu governo acabou. O Congresso não passará reformas, a economia não sairá do atoleiro, e as ruas não ficarão quietas enquanto a crise política não estiver resolvida. A cada dia que prolongar sua própria agonia, Temer só contribuirá para a ruína do país.
Ninguém lhe nega o direito de se defender das acusações. Ele pode argumentar que houve uma conspiração, que as gravações foram cortadas, adulteradas ou o que o valha. Pode se sentir vítima de uma injustiça e bradar sua inocência. Mas essa é uma questão a ser decidida nos tribunais. O país não pode esperar parado, ante a indecisão de mais um julgamento provocado pela teimosia.
Temer tem personalidade distinta de Dilma Rousseff. Sempre foi um político mais hábil, capaz de ler com inteligência as condições do gramado antes de entrar em campo. Ele sabe que não tem chance de sobrevivência política. Se resistir em nome de sua versão mirabolante para os fatos, pode adiar a queda, mas não a evitará. Tornará apenas mais alto o preço que o país tem a pagar, enquanto assiste atônito aos estertores de seu governo.
O principal argumento de Temer para defender sua permanência no governo nem é criminal – é a noção de que, sem ele, as reformas econômicas sairão dos trilhos. Há duas falácias nesse argumento. A primeira, óbvia, é que já saíram – e com ele. É patente sua cumplicidade e inação recorrente diante das pútridas práticas políticas de Brasília. Enquanto ele estiver lá, não haverá reformas, repito – para parafrase-á-lo –, não haverá reformas.
A segunda falácia é mais insidiosa, pois sustenta paradoxalmente a visão oposicionista, propagada sobretudo por petistas, segundo a qual as reformas econômicas são apenas uma trama maligna de uma “elite malvada” para expropriar direitos do “povo bonzinho”. Não são.
A necessidade de reformar o Estado brasileiro – e de acabar com os privilégios embutidos nas legislações trabalhista, previdenciária e tributária – é maior que Temer, maior que Meirelles e maior que qualquer governo. É uma necessidade do Brasil. Enquanto o país não enfrentar seu maior desafio, tal necessidade persistirá quem quer que seja este ou o próximo presidente.
Temer foi perspicaz o bastante para perceber a oportunidade política que existe em tentar atendê-la. Mas não para perceber que o clamor por mudança no Brasil é bem mais profundo, embora talvez demore a chegar aos ouvidos de quem respira apenas o ar rarefeito dos gabinetes de Brasília.
Para nossa felicidade, o país atravessa uma crise política histórica com um arcabouço institucional sólido, capaz de – para empregar a expressão cara ao compadre Joesley Batista – dar conta de todos os desafios que têm sido apresentados. Basta seguir à risca o que está na Constituição. Julgar quem precisa ser julgado, condenar quem precisa ser condenado e prender quem precisa ser preso – sem reservas nem exceções.
O Congresso tem plena condição de pôr em marcha a eleição indireta, necessária para o cumprimento deste mandato. E também de, vencida a crise com a saída de Temer, aprovar as reformas necessárias para destravar o crescimento econômico. O país não pode ficar parado aguardando o desfecho de um caso policial. Temer é inteligente o bastante para saber disso. Precisa sair da frente e deixar o Brasil andar.