01/12/2022 às 06h46min - Atualizada em 01/12/2022 às 06h46min

Acusada de corrupção, Kirchner compara tribunal a "pelotão de fuzilamento"

Ao apresentar suas alegações finais no julgamento em que é acusada por corrupção em seu governo, ex-presidente compara tribunal a "um verdadeiro pelotão de fuzilamento", com motivações políticas. Veredito deve ser anunciado na próxima terça-feira

(crédito: AFP)

Na reta final do processo em que é acusada de corrupção na licitação de obras públicas na época em que governou a Argentina (2007-2015), Cristina Kirchner, atual vice-presidente do país, comparou ontem o Tribunal Federal 2 de ser "um verdadeiro pelotão de fuzilamento". Ao apresentar sua defesa, ela acusou o Ministério Público de ter "inventado e deturpado" os fatos. "Difamaram, mentiram, insultaram a mim e ao nosso governo", insistiu, avaliando que o julgamento tem "um objetivo disciplinador da classe política", especialmente contra o seu "espaço político", ou seja, o peronismo de centro esquerda.

A expectativa é que o veredicto seja anunciado em 6 de dezembro — o processo foi iniciado em maio de 2019. "Mais do que um tribunal do 'lawfare', este tribunal foi um verdadeiro pelotão de fuzilamento que começou com a incrível diatribe dos promotores Diego Luciani e Sergio Mola, que se dedicaram a me irritar e a me insultar", afirmou a vice de Alberto Fernández.

Cogitada para ser novamente candidata à Presidência no próximo ano, Cristina Kirchner participou da audiência de forma virtual, direto de seu gabinete no Senado. Ela falou por 20 minutos. As chamadas "palavras finais" foram transmitidas por toda imprensa e também em sua conta no Twitter.

A ex-presidente, 69 anos, é acusada de conceder de forma fraudulenta contratos de obras públicas durante seus dois mandatos consecutivos. O Ministério Público pediu condenação a uma pena de 12 anos de prisão, além de inabilitação política permanente. "Ficou provado que eram (fatos) falsos, que nem sequer existiram", rebateu Cristina

O presidente Alberto Fernández manifestou apoio à vice. "Compartilho dos argumentos da vice-presidente na chamada 'Causa Vialidad'", tuitou, em referência ao processo. "Quando a política entra nos tribunais, a justiça sai pela janela", acrescentou.

Manifestações
Uma dezena de manifestantes se posicionou na entrada do tribunal federal com cartazes, pedindo prisão para a ex-presidente. Os seguidores da vice-presidente externaram apoio diante dos portões do Senado. "Seja qual for a decisão, para mim ela é inocente. Estarei apoiando minha candidata. Não vamos permitir que a coloquem na prisão", disse a funcionária administrativa Graciela Nadal à agência de notícias France Presse (AFP).

No processo, Cristina foi denunciada por favorecimento ao empresário Lázaro Báez, considerado próximo de sua família, na concessão de licitações de obras públicas na província de Santa Cruz, no sul do país. "Estamos aqui apoiando os promotores independentes e corajosos", declarou Carmen Terrero, em frente ao tribunal. "Faz muito tempo que estamos esperando uma condenação daqueles que roubaram nosso futuro", acrescentou.

Principal figura da política na Argentina, tão amada por seus seguidores como odiada pelos opositores, Cristina conta com foro privilegiado como vice-presidente e presidente do Senado até que haja uma sentença final na Suprema Corte.

Além dela, há 12 réus na ação. Entre eles, Julio de Vido, ex-ministro do Planejamento; José López, ex-secretário de Obras Públicas; e o próprio empresário Lázaro Báez. Nos mais de três anos de tramitação do processo, o tribunal ouviu 114 testemunhas em 117 audiências.

Atentado
Cristina Kirchner aproveitou a oportunidade para também criticar o tribunal que investiga o atentado fracassado que sofreu há três meses. "Quando se é vítima, a figura da associação ilícita não existe, (mas) sim quando se trata de um governo eleito democraticamente em três oportunidades", ironizou, ao fazer referência à figura jurídica da qual está sendo acusada.

O pedido de condenação apresentado pelos promotores Luciani e Mola em agosto provocou uma série de manifestações de apoio à vice-presidente, com vigílias de centenas de seus seguidores em frente à sua residência em Buenos Aires.
Em meio a esses atos, no dia 1º de setembro, um homem infiltrado entre os simpatizantes se aproximou da vice-presidente, apontou uma pistola contra sua cabeça e acionou o gatilho duas vezes, mas a arma não disparou.

Três pessoas estão presas pelo ataque, acusadas de tentativa de homicídio: o atirador, o brasileiro Fernando Sabag Montiel, 35 anos; a namorada dele, a argentina Brenda Uliarte, de 23 anos; e o também argentino Gabriel Nicolás Carrizo, 27, suposto líder da gangue. Cristina insiste em que também é preciso investigar as relações dessas pessoas com políticos.


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