09/12/2022 às 11h48min - Atualizada em 09/12/2022 às 11h48min

Nova presidente do Peru, Dina Boluarte pretende concluir mandato do antecessor

Dina, porém, não descartou explicitamente a convocação de eleições gerais antecipadas se a trégua política que pediu na quarta-feira fracassar

​(crédito: Jose Williams Zapata/Instagram)

No primeiro dia de trabalho efetivo como presidente do Peru, Dina Boluarte iniciou negociações para a composição de seu gabinete e deixou explícita a sua determinação em concluir o mandato do antecessor, Pedro Castillo, deposto e preso após uma tentativa frustrada de golpe de Estado para evitar o julgamento de seu impeachment. Porém, não descartou explicitamente a convocação de eleições gerais antecipadas se a trégua política que pediu na quarta-feira fracassar.

“Sei que há algumas vozes que pedem eleições antecipadas e isso, democraticamente, é respeitável”, disse a primeira mulher a governar o Peru. “Acredito que a ascensão à Presidência é para reorientar o que acontece. Posteriormente, em coordenação com outras organizações, iremos estudar alternativas de como melhor redirecionar os destinos do país", respondeu a presidente, ao ser perguntada sobre a possibilidade de convocar eleições no curto prazo.

Dina Boluarte foi empossada no fim da tarde de quarta-feira, horas depois da prisão de Castillo, ao fim de uma desastrada tentativa de golpe. Com preventiva decretada, o presidente deposto, inicialmente detido nas dependências da Prefeitura de Lima, foi transferido para o prédio da Direção de Operações Especiais (Diroes), mesmo local onde cumpre pena Alberto Fujimori, que governou o país de 1990 a 2000.
 
Trégua
Sem base de apoio parlamentar, Dina reconheceu que as circunstâncias que a levaram à Casa de Pizarro “não foram as ideais” e renovou o pedido de trégua às forças políticas. Para demover obstáculos e garantir um clima de governabilidade, Dina terá que construir coalizões cuidadosas com membros do Congresso, a instituição mais desacreditada no país, disseram analistas políticos.

Professor de Ciência Política da Universidade Antonio Ruiz de Montoya, no Peru, Alonso Cárdenas destaca que ela terá que escolher ministros com ampla experiência, capacidade moral e conhecimento do Estado para ter chances concretas.

A advogada de 60 anos assume o poder durante o período político mais turbulento das últimas duas décadas no Peru. É a sexta ocupante da Presidência em seis anos no país, abalado por uma forte seca que atinge os Andes, uma quinta onda de infecções por covid-19 e um surto de gripe que matou milhares de aves na costa do Pacífico.

O clima de instabilidade política vem se agravando desde a eleição de Pedro Pablo Kuczynski, em 2016, em meio aos impactos da operação Lava Jato no país. De lá para cá, ao menos quatro ex-presidentes do país foram presos acusados de corrupção: além do próprio Kuczynski, Alejandro Toledo, que vive refugiado nos Estados Unidos, Ollanta Humala e Alan Garcia, que cometeu suicídio quando a polícia apareceu para prendê-lo em sua residência em 2019.

Eleito em 2021 por uma pequena margem contra a conservadora Keiko Fujimori, Castillo apresentava uma plataforma de esquerda e com forte apoio das zonas rurais do país. A oposição tentou em outras duas oportunidades tirá-lo do cargo por meio de um impeachment, até então sem sucesso.

O Ministério Público do Peru acusa Castillo de corrupção relacionada ao superfaturamento de obras públicas em ao menos seis investigações preliminares. Ele se diz inocente e alvo de perseguição judicial. Nos próximos 15 dias, ele deve ficar incomunicável, sob investigação. Segundo especialistas, Castillo deve ser acusado pelo crime de sedição, por atentar contra a ordem democrática do país.


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