Um documento oficial da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) confirma que houve negligência da Polícia Militar (PMDF) durante os atos terroristas registrados em Brasília, no domingo (8/1).
O Protocolo de Ações Integradas nº 2/2023, obtido pela coluna Grande Angular, deixa explícito que cabia à PMDF manter a ordem e impedir que os extremistas entrassem na Praça dos Três Poderes.
A PMDF não agiu conforme o plano previsto pela SSP-DF, e o resultado foi a invasão e depredação de prédios considerados patrimônios públicos como Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF).
O Protocolo de Ações Integradas detalhou como cada órgão distrital e federal atuaria diante do ato violento convocado por bolsonaristas pelas redes sociais. A PMDF seria responsável por 11 ações com objetivo de manter a ordem, segundo o documento de preparação emitido dois dias antes dos atos terroristas, na sexta-feira (6/1).
O texto, assinado pela subsecretária de Operações Integradas, coronel Cíntia Queiroz de Castro, deixa claro que cabia à PMDF “não permitir acesso de pessoas e veículos à Praça dos Três Poderes” e “ficar em condições de empregar tropa especializada em controle de distúrbio, no caso de perturbação da ordem”.
O protocolo também previu que a PMDF deveria “planejar e executar ações de policiamento ostensivo, com objetivo de manter e preservar a ordem pública durante a realização do evento, empregando, para esse fim, efetivos e meios necessários”.
As cenas de guerra registradas na capital federal comprovam que a corporação não cumpriu o papel determinado explicitamente.
Veja todas as atribuições da PMDF previstas pela SSP-DF:
• Caso seja acionado, realizar o fechamento do trânsito de veículos na Esplanada dos Ministérios, nas vias S1 e N1, entre a Alça Leste e a Via L4 Norte;
• Planejar e executar ações de policiamento ostensivo, com objetivo de manter e preservar a ordem pública durante a realização do evento, empregando, para esse fim, efetivos e meios necessários, conforme planejamento próprio da instituição e
o acordado em reunião na SSP, no dia 6 de janeiro de 2023;
• Executar policiamento e monitoramento nas rodovias distritais e de acesso no DF, com objetivo de prevenir trânsito de veículos de manifestantes para a área central de Brasília, direcionando as caravanas identificadas para estacionamento na Granja do Torto;
• Reforçar o policiamento ostensivo nas imediações das centrais de distribuição de combustíveis no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA);
• Executar o policiamento ostensivo de trânsito no deslocamento dos manifestantes, conforme planejamento próprio;
• Acompanhar o ato durante todo o itinerário, com o objetivo de manter a ordem e a segurança pública, tanto dos participantes da manifestação como das pessoas da comunidade em geral, mantendo a incolumidade das pessoas e do patrimônio e evitando acidentes;
• Impedir que os manifestantes utilizem objetos, materiais ou substâncias capazes de produzir lesão ou causar dano durante a marcha;
• Ficar em condições de empregar tropa especializada em controle de distúrbio, no caso de perturbação da ordem;
• Não permitir acesso de pessoas e veículos à Praça dos Três Poderes, conforme tratado em reunião e Protocolo de Ações;
• Efetuar interdições parciais ou totais das vias públicas, quando necessárias para a preservação da segurança dos participantes da manifestação e dos demais usuários;
• Manter reforço de efetivo nas adjacências/perímetro interno dos prédios públicos de toda extensão da Esplanada dos
Ministérios, Congresso Nacional e Praça dos Três Poderes, bem como na Estação Rodoviária de Brasília.
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Bolsonaristas que não aceitam a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente da República não registraram o evento na SSP-DF, como de praxe em manifestações na capital federal.
Mesmo assim, o Governo do Distrito Federal (GDF) sabia do evento e preparou o protocolo de ações integradas com base “em levantamento de inteligência e divulgação em redes sociais”.
O dia seguinte
Trezentas pessoas foram presas após a invasão às sedes dos Três Poderes. Os detidos começaram a ser transferidos para o Complexo Penitenciário da Papuda e para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal na manhã desta segunda-feira (9/1).
O acampamento montado por bolsonaristas em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, começou a ser desmontado nesta manhã. Os extremistas deixam o local com malas e barracas.