Sob a sombra de uma nova tentativa de golpe, a Esplanada dos Ministérios recebeu, ontem, um forte aparato de segurança, com mobilização da Polícia Militar do Distrito Federal, da Força Nacional e do Exército, além de integrantes do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
O interventor, Ricardo Cappelli, — designado pelo governo federal para comandar a Segurança Pública do DF — vistoriou a pé o esquema de segurança. Ele saiu do Planalto, foi até o Museu Nacional e voltou, pelo outro lado do Eixo Monumental, até o centro de comando instalado ao lado do Congresso.
Cappelli foi acompanhado por membros das forças e representantes da Secretaria de Segurança Pública. Recebeu informes das equipes ao longo do trajeto. A revista teve início pouco antes do horário programado para novas manifestações antidemocráticas, marcadas pelas redes sociais.
"Houve um planejamento de segurança preventiva para garantir a tranquilidade, a normalidade de todos os servidores que trabalham aqui e, também, a segurança dos prédios da Esplanada", declarou Cappelli a jornalistas. "Para que não ocorra de novo o que aconteceu no domingo", completou.
Segundo o interventor, a iniciativa de montar o esquema de segurança partiu de um trabalho de inteligência, que identificou articulação para novos atos, possivelmente violentos, para as 18h de ontem. "Teve muita comunicação e muita convocação nas redes, e a gente, com base no que ocorreu no domingo, adotou uma medida preventiva", explicou.
Apesar do barulho feito por extremistas, no horário combinado para o protesto havia apenas dois bolsonaristas, vestidos com camisas do Brasil, em frente à linha de PMs montada no gramado da Avenida das Bandeiras.
Durante a vistoria, um motoqueiro com a bandeira do Brasil passou a poucos metros de Cappelli, que era escoltado por viaturas, bombeiros e policiais. Não houve, porém, hostilidade. De acordo com o interventor, o objetivo da operação era impedir novos casos de vandalismo. "Não há problema nenhum com manifestação. O Brasil é um país livre, democrático, o direito à manifestação está garantido", afirmou.
Contingente
O acesso à Esplanada foi fechado para carros durante o dia. A via N1 permaneceu aberta, com o objetivo de permitir a saída de veículos que já estavam no local. O fluxo de pessoas a pé não estava impedido, em nenhum sentido. Também não era possível ver pontos de revista para possíveis manifestantes.
Um grande contingente de segurança se posicionou a partir da Rodoviária do Plano Piloto. Grupos de policiais militares estavam dos dois lados do Eixo Monumental, e viaturas e motos patrulhavam as vias. Ônibus da PMDF permaneceram estacionados em vários pontos da Esplanada.
A Força Nacional também estava presente, com contingente reforçado pelos mais de 600 policiais cedidos por governadores para aumentar a segurança na capital após os ataques terroristas. "É um órgão auxiliar. Ela age como uma segunda linha", disse o secretário nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, que acompanhou Cappelli durante a caminhada.
Alencar destacou o papel da Força e da intervenção federal na desmobilização dos bolsonaristas após a depredação das sedes dos Três Poderes. "Cumprimos a tarefa que não foi cumprida pelos comandos que se ausentaram naquele dia", frisou o secretário.
Também estava no local o novo comandante da PMDF, Klepter Rosa, que assumiu após a exoneração do coronel Fábio Augusto Vieira, preso por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Questionado sobre a falta de atuação das forças de segurança no domingo, Cappelli voltou a responsabilizar Anderson Torres. "No domingo, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal estava nos Estados Unidos. Não estava aqui. Essa é uma diferença básica. A intervenção foi decretada no domingo, da tarde para a noite, e foi nesse momento que eu assumi. Do dia 2 para a frente, até o domingo, o secretário era outro, que, inclusive, teve sua prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes", respondeu o interventor.
Cappelli, que é secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, acusou Torres de sabotagem, por não agir para impedir a depredação. Até o momento, o interventor exonerou 14 pessoas, entre civis e militares, que integram a chefia da Secretaria de Segurança Pública do DF.
Torres, ex-ministro de Jair Bolsonaro, por sua vez, disse que vai voltar ao Brasil para se colocar à disposição da Justiça, mas fez, ontem, um pedido ao STF, redigido por um grupo de advogados, para que sua prisão seja reconsiderada. Ele nega responsabilidade pela falta de ação contra os atos do domingo.
Exemplar
A revista de Cappelli se encerrou no centro de comando da operação, montado ao lado do Congresso Nacional. Perto das sedes dos Três Poderes era onde se via o maior contingente policial. Uma linha de PMs estava posicionada em frente ao Congresso. Dois helicópteros, que sobrevoavam a Esplanada, pousaram no gramado. Drones pilotados por militares e bombeiros também faziam parte da vigilância.
Uma tropa de bombeiros aguardava, em formação, no centro de comando. Após o interventor chegar, eles marcharam rumo à Esplanada e ficaram no gramado central e nas laterais, em frente aos ministérios.
Mais tarde, em postagem no Twitter, Cappelli afirmou: "A operação de segurança realizada hoje (ontem) na Esplanada e na Praça dos Três Poderes foi exemplar. Tenho plena confiança nas forças de segurança do DF. Extremistas não apareceram, não tomaram o poder na marra e jamais tomarão. Não há hipótese de se repetir o que aconteceu no dia 8". Essa última frase, ele já tinha falado na entrevista coletiva de ontem.