24/01/2023 às 09h06min - Atualizada em 24/01/2023 às 09h06min

Lula confirma que BNDES financiará obras de gasoduto argentino.

Após encontro com Alberto Fernández, presidente disse que “países maiores têm que auxiliar os países que têm menos condições”

​Foto: Após encontro com Alberto Fernández, presidente disse que “países maiores têm que auxiliar os países que têm menos condições”...

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou nesta 2ª feira (23.jan.2023) que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) financiará parte da obra estatal do gasoduto Néstor Kirchner. O chefe do Executivo classificou críticas ao apoio financeiro do Brasil ao empreendimento argentino como “pura ignorância”. 

“Eu tenho certeza que os empresários brasileiros têm interesse no gasoduto, nos fertilizantes, no conhecimento científico e tecnológico que a Argentina tem. E, se há interesse dos empresários e dos governos, e nós temos um banco de desenvolvimento para isso, vamos criar as condições para fazer o financiamento que gente puder fazer para ajudar no gasoduto argentino”, disse.

 Rede de gasodutos do Brasil está estagnada desde 2013.
Mesmo antes de Lula confirmar a decisão do Brasil, o governo da Argentina já havia se antecipado em 2022, depois da eleição do petista, dizendo que receberia dinheiro estatal brasileiro para o gasoduto de Vaca Muerta. A secretária de Energia da Argentina, Flavia Royón, anunciou em 12 de dezembro de 2022 que seu país já contava conta com US$ 689 milhões de financiamento do BNDES para concluir a construção do 2º trecho da obra.
Pela manhã, Lula visitou o presidente da Argentina, Alberto Fernández, em Buenos Aires. Ao saírem, deram uma declaração conjunta à mídia brasileira e argentina.

A 1ª fase do gasoduto foi concluída e, agora, os argentinos buscam ajuda financeira para continuar a obra. O 2º trecho terá cerca de 500 km e ligará os campos de óleo e gás da região de Vaca Muerta até San Jerónimo, na província de Santa Fé. Em uma fase futura, o gasoduto poderá chegar ao Brasil.

Lula não detalhou como o financiamento será feito e nem o valor. Em dezembro, a secretária de Energia da Argentina, Flavia Royón, anunciou que seu país contava com US$ 689 milhões em financiamento do BNDES para concluir a construção do 2º trecho do gasoduto.

Na época, o BNDES, ainda sob o comando do governo de Jair Bolsonaro (PL), emitiu nota em que dizia que não havia tal liberação.
“Com relação ao financiamento, os países maiores têm que auxiliar os países que tem menos condições em determinados momentos históricos. […] O jornalista [que fez a pergunta] sabe do orgulho que eu tinha quando a gente poderia financiar uma obra em um país da América do Sul, porque é isso que os países maiores têm que auxiliar os países menos condições em determinados momentos históricos”, disse.

Fernández agradeceu pelo anúncio feito por Lula e disse que as obras de continuidade do gasoduto precisam começar imediatamente para “aproveitar a inércia da construção da 1ª etapa e, rapidamente, chegar ao ponto de repassar o gás que o Brasil precisa”.

“Acho que nós 2 entendemos melhor a missão dos bancos públicos. Aqui na Argentina só temos inveja do BNDES, ferramenta de crescimento incrível”, disse.
 
Para Lula, críticas feitas a operações do BNDES no exterior, muito criticadas em seus mandatos anteriores, são fruto de “pura ignorância”.

“De vez em quando, no Brasil, somos criticados por pura ignorância, pessoas que acham que não pode haver financiamento para outros países. E eu acho que, não só pode, como é necessário que o Brasil ajude a todos os seus parceiros dentro das possibilidades econômicas do nosso país. O BNDES é muito grande”, disse.

GASODUTO DE VACA MUERTA
A reserva de Vaca Muerta, no oeste da Argentina, é uma formação geológica rica em gás e óleo de xisto. O xisto exige para sua extração um processo considerado muito danoso ao meio ambiente, porque é necessário quebrar o solo, num sistema conhecido em inglês como “fracking”, derivado “hydraulic fracturing”.

Nesse tipo de processo, é necessário fazer uma perfuração vertical no solo até uma determinada profundidade. Depois, a broca muda para a direção horizontal para ir fraturando o solo, inserindo água e produtos químicos e assim liberando gás e óleo que possa estar “preso” entre as rochas.

O gás de xisto é muito explorado nos Estados Unidos e foi fonte de energia barata nas últimas décadas para turbinar o crescimento econômico norte-americano. Mas há muitas preocupações com o efeito que isso causa ao meio ambiente. A Escola de Saúde Pública de Yale, uma universidade dos EUA, publicou um texto em março de 2022 dizendo que o “fracking” usado “extensivamente aumentou as preocupações sobre o impacto no meio ambiente e na saúde das pessoas”.

O gás de xisto é muito explorado nos Estados Unidos e foi fonte de energia barata nas últimas décadas para turbinar o crescimento econômico norte-americano. Mas há muitas preocupações com o efeito que isso causa ao meio ambiente. A Escola de Saúde Pública de Yale, uma universidade dos EUA, publicou um texto em março de 2022 dizendo que o “fracking” usado “extensivamente aumentou as preocupações sobre o impacto no meio ambiente e na saúde das pessoas”.

“O processo requer grande volume de água, emite gases que provocam o efeito estufa, como o metano, libera ar tóxico na atmosfera e produz barulho. Estudos indicam que esse tipo de operação para extrair óleo e gás podem levar a perda dos habitats de plantas e animais, declínio das espécies, disrupções migratórias e degradação da terra. Estudos também demonstraram haver uma associação entre os locais de extração de óleo e gás de xisto com gravidezes malsucedidas, incidência de câncer, hospitalizações e episódios de asma”, diz o texto da Yale University.

QUEM É ALBERTO FERNANDÉZ Alberto Ángel Fernández tem 63 anos e está em seu 1º mandato como presidente da Argentina. Tentará a reeleição em 29 de outubro, quando o país realizará eleições presidenciais e legislativas. O calendário oficial, porém, ainda pode ser alterado.

Nascido em Buenos Aires, Fernández é advogado e professor. Foi eleito presidente em 2019 pelo partido Justicialista, de esquerda, depois de derrotar o então presidente Maurício Macri, que tentava se reeleger. Sua vice-presidente é a ex-presidente Cristina Kirchner.

Entre 2003 e 2008, Fernández foi chefe de gabinete do ex-presidente Néstor Kirchner e de parte do governo de Cristina Kirchner. Os 2 romperam quando o atual chefe do Executivo tornou-se crítico do kirchnerismo. Em 2019, no entanto, voltaram a se aliar para formar a chapa presidencial. Atualmente, estão afastados novamente.


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