21/02/2023 às 07h10min - Atualizada em 21/02/2023 às 07h10min

A natureza devolve as agressões que recebe, e os pobres pagam a conta

Omissão e inépcia do poder público explicam tragédias como a de São Sebastião, no litoral paulista. Outras virão

Ricardo Noblat
Metrópoles

Sai barato para o poder público instalar sirenes que soam poucas horas antes de vendavais, socorrer depois os desabrigados e enterrar os mortos. Sai barato prometer que tomará providências para que tragédias como a de São Sebastião não mais se repitam.

Quando elas se repetem sob a mesma administração, prefeitos e governadores alegam que faltou dinheiro e jogam a culpa no governo federal. E caso se repitam em novas administrações, essas culpam as anteriores, e é vida que segue, cada vez pior.

Não há notícias sobre a morte de afortunados. Muitos, ilhados em suas casas, conseguiram ser resgatados por helicópteros e outros meios fora do alcance da maioria. O número de mortos deverá ultrapassar a casa dos 50, e há milhares de desabrigados.

Em alguns locais do litoral paulista, caíram em poucas horas mais de 600 mm. Dito de outra maneira: mais de 600 litros por metro quadrado, acima da média esperada para todo o mês de fevereiro. Culpa de São Pedro que abriu as comportas do céu?

Foi um evento extremo, concordo. Antigamente, só ocorriam de séculos em séculos, ou a intervalos maiores; amiudaram-se em consequência das mudanças do clima provocadas pelo aquecimento da atmosfera. Mas isso também era previsível.

Estima-se que 5% dos brasileiros moram em áreas sujeitas a inundações e deslizamentos de terras. Estima-se, porque o país não dispõe de dados confiáveis a respeito. E por não dispor, entra governo, sai governo e falta plano que informe sobre o que fazer.

Foi bonito ver três políticos de partidos adversários – Lula (PT), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito de São Sebastião, do PSDB -, somarem esforços no socorro às vítimas de mais uma tragédia anunciada. Foi bonito. Não basta, porém.

Por inépcia e omissão das autoridades até aqui, a natureza agredida devolveu e continuará a devolver as agressões que recebe.


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