12/06/2017 às 23h01min - Atualizada em 12/06/2017 às 23h01min

Advogado ostentação preso na Lava Jato é dono de patrimônio luxuoso

Dentre os bens acumulados por Willer Tomaz em nove anos de advocacia, há duas propriedades faraônicas em Planaltina de Goiás

Por CARLOS CARONE - Mtrópoles.com

O personagem brasiliense enredado na delação premiada do empresário Joesley Batista, dono da JBS, teve uma ascensão financeira meteórica – e um tanto quanto questionável. Willer Tomaz de Souza foi preso em 18 de maio pela Polícia Federal durante a Operação Patmos e, na terça-feira (6/6), acabou denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) por corrupção ativa, violação de sigilo funcional qualificada e obstrução à investigação de organização criminosa. O advogado é de origem humilde, mas acumulou, em apenas nove anos de exercício profissional, um notável patrimônio. E ele não faz questão alguma de esconder seus “brinquedos” de luxo.

 

Willer foi detido em São Luís (MA) durante a negociação do Sistema Difusora, maior conglomerado de comunicação no estado. De lá, acabou transferido para o DF. Ele está há mais de 20 dias no alojamento do Núcleo de Custódia da Polícia Militar, localizado Papuda: uma prisão de luxo para os parâmetros do complexo penitenciário, onde advogados e ex-policiais igualmente enrolados com a Justiça aguardam julgamento. Até ser pego pela PF, o brasiliense circulava por Brasília ao volante de carros importados.

 

Uma Ferrari e uma BMW X-6, cujos modelos mais completos giram em torno de R$ 600 mil, fazem parte da coleção do advogado. Ele também investiu em imóveis que impressionam pela ostentação. Duas das propriedades compradas por Willer Tomaz, há cerca de um ano, são faraônicas e estão localizadas em uma mesma rua, em Planaltina de Goiás, no Entorno do Distrito Federal.

 

Os imóveis ficam no chamado Balneário Santa Maria, uma região próspera que em tudo destoa da aridez habitual dos humildes bairros do Entorno. Trata-se de um oásis com casas suntuosas em propriedades à beira da Lagoa Formosa.

 

Nesse cenário bucólico e paradisíaco, perto do espelho d’água, Willer ergueu um complexo de lazer para familiares e amigos. No lote em frente, construiu seu recanto particular: uma mansão luxuosa, encravada no terreno com mais de 20 mil metros quadrados. Juntas, as duas propriedades custariam cerca de R$ 2,5 milhões, segundo funcionários de chácaras vizinhas e agentes imobiliários ouvidos pelo Metrópoles.

 

Parque de Diversões

A propriedade às margens da Lagoa Formosa é quase um parque de diversões (veja vídeo abaixo). Oferece aos visitantes, entre outros confortos, um campo de futebol cujo gramado não deve em nada às melhores arenas brasileiras construídas para a Copa do Mundo 2014. Para manter sua vitalidade, a grama é regada e aparada semanalmente, segundo os chacareiros que conversaram com a reportagem.

 

 

Apesar de contar com estruturas de alvenaria, a arquitetura da propriedade abusa das construções em madeira. O local chama atenção pelo belo paisagismo e por seus lagos artificiais ornamentados com moinhos hidráulicos. Varas de pescar ficam à disposição dos frequentadores amantes da pescaria.

 

Um redário climatizado, com cerca de 200m², foi construído para os momentos de descanso. Ao seu lado, há uma piscina infantil com escorregador. A propriedade tem vários playgrounds: destacam-se pelo capricho da construção duas casinhas suspensas, com muro de escalada e escorregadores. A chácara também tem quadra de vôlei de praia e um salão com churrasqueiras.

 

Nos fundos da propriedade, a ostentação continua. Uma espécie de garagem protege embarcações dos efeitos do tempo. Já dentro do reservatório que banha o sítio, foi construído um refeitório sobre palafitas. Quem faz as refeições no local desfruta de uma vista incrível da lagoa e da marina.

 

“É muito bonita, mas tem um bom tempo que ninguém aparece na chácara”, contou, em tom de lamento, um funcionário de uma das propriedades vizinhas.

 

Confira imagens do advogado Willer Tomaz e de seu complexo de lazer:

 

Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

 Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

 

 Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

 

 Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

 

 Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

 

 Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

 

 Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

 

 Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

 

 Foto: Valter Zica /OAB-DF

 

 

 Foto: Dolação premiada JBS/Reprodução

 

 

 

Fortaleza

De um lado da rua, a diversão. Do outro, a discrição. Se a chácara do lazer é praticamente toda aberta aos olhos de quem frequenta o Balneário Santa Maria, a mansão de Willer Tomaz, no terreno em frente, é uma fortaleza escondida por muros com 6m de altura. Uma cautela necessária para proteger a identidade de políticos e outras personalidades que costumavam frequentar o local durante reuniões e encontros promovidos pelo advogado. Segundo informações apuradas pelo Metrópoles, empresários poderosos e advogados de renome figuravam, ao lado de políticos do cenário nacional, dentre os “habitués”.

 

Do lado de fora, apenas uma placa de azulejos pintados com o nome da propriedade – Rancho do Tomaz – confirma a quem pertence o local. A chácara, com cerca de 20 mil metros quadrados, chama atenção pela altura dos muros, pela presença de várias câmeras de segurança e pelos pinos de metal instalados ao longo do topo da muralha.

 

Mas, mesmo na área externa, é possível visualizar postes com refletores usados para iluminar campos de futebol e grandes bambuzais que adornam a propriedade. A reportagem tocou o interfone do rancho, mas ninguém atendeu aos chamados.

 

Começo em Taguatinga

Antes de transitar com desenvoltura entre os poderosos dos mundos político, empresarial e do direito, Willer tocava um modesto empreendimento em Taguatinga, a Willer Informática, aberta em 1999, na comercial do Setor D Sul. Mas o negócio acabou quebrando e ele partiu para uma segunda opção: estudar direito e se formar advogado.

 

Enquanto estudava, passou a ter participação em mais duas empresas: a WT Administração de Imóveis, aberta em 2002 na QSF 15 de Taguatinga, e a Canal de Ideias Comunicação, Serviços e Participações Ltda, criada em 2007 no setor Octogonal. Todas as firmas seguem ativas na Receita Federal. Mas a maior aposta de Willer foi o escritório de advocacia que ele montou, o Willer Tomaz Advogados Associados, inaugurado após dois anos de exercício profissional.

 

Aberto em 2010, o escritório nasceu em berço de ouro. A sede funciona em luxuosa casa no Conjunto 4 da QI 1 do Lago Sul (fotos abaixo). É o mesmo imóvel que abrigou a “República de Ribeirão” – em referência ao ministro da Fazenda do primeiro governo Lula, Antônio Palocci, ex-prefeito do município paulista e hoje preso no âmbito da Lava Jato. Segundo as denúncias do Mensalão, seria ali que integrantes do governo negociavam e confraternizavam com lobistas em festas animadas por garotas de programa.

 

  Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

 Foto: Valter Zica /OAB-DF

 

Denunciado

O depoimento de Joesley Batista ao Ministério Público Federal, que ajudou a PF a prender Willer Tomaz, dá pistas de como ocorreu a ascensão profissional e patrimonial do advogado. Ele vendia influência e contatos com figuras proeminentes na política e no meio jurídico. Para a JBS, alardeou proximidade com o juiz substituto da 10ª Vara Federal de Brasília Ricardo Soares Leite, onde tramitam ações da Operação Greenfield, um dos braços da Lava Jato e que tem a JBS entre os alvos.

 

Também teria pedido mesada de R$ 50 mil para o procurador da República Ângelo Goulart Vilela, igualmente preso pela PF e suposto contato usado por Willer para obter informações privilegiadas da Lava Jato e repassá-las à JBS. Na mesma denúncia à Justiça contra o advogado brasiliense, a PRG denunciou o procurador pelos crimes de corrupção passiva com causa de aumento de pena, violação de sigilo funcional qualificada e obstrução à investigação de organização criminosa.

 

Para o MPF, não restou “sombra de dúvida de que Ângelo e Willer deixaram clara sua atuação em favor dos interesses da J&F (holding controladora da JBS), funcionando como verdadeiros defensores dos interesses do grupo econômico, valendo-se” da condição de Ângelo, procurador da República e então membro da força-tarefa da Operação Greenfield (desdobramento da Lava Jato), que ‘praticou e deixou de praticar atos de ofício.'”

 

Outro lado

Acionada pela reportagem, a defesa do advogado Willer Tomaz disse que, por enquanto, vai se pronunciar apenas nos autos do processo. Até a última atualização desta matéria, a defesa de Ângelo Vilela não havia sido localizada.

 

(Colaborou Pedro Alves)


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