Lisboa — Dentro do projeto de tornar Lisboa uma cidade comprometida com o meio ambiente e mais inclusiva, a prefeitura local passou a pagar planos de saúde para cidadãos com mais de 65 anos e deixou de cobrar deles e de jovens de até 23 anos passagens em transportes públicos. Segundo o prefeito Carlos Moedas, do PSD, que rompeu um reinado de 14 anos do Partido Socialista (PS) no comando da capital portuguesa, essas medidas estão em linha com as missões às quais ele se propôs quando assumiu o cargo, há um ano.
“Sempre sonhei que Lisboa fosse uma cidade moderna, mas que, ao mesmo tempo, cuidasse das pessoas, com a prefeitura atuando onde o Estado central não chega”, diz. “Falo muito do conceito do Estado social local. Estão inscritas, até o momento, no plano de saúde ‘65 Mais’, um total de 10.440 pessoas”, acrescenta. Pelos convênios, o médico faz a consulta por telefone ou vai à casa do paciente. Os mais vulneráveis têm direito a óculos e próteses dentárias gratuitas. “Com os Estados centrais mais frágeis, os governos locais devem atuar”, acredita.
No caso dos transportes públicos gratuitos, Moedas, que carrega o título de presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o equivalente a prefeito no Brasil, ressalta que seu objetivo é que a cidade lidere, na Europa, a isenção dos serviços. “São mais de 70 mil pessoas, ou quase 10% da população de Lisboa, que não pagam transportes públicos. Há poucas cidades, capitais, que têm gratuitidade dos transportes. Temos o caso, por exemplo, da cidade de Luxemburgo, menor que Lisboa. Com isso, podemos dizer ao mundo que lideramos na área ambiental com algo muito simples: os transportes públicos, para atrairmos as pessoas, são gratuitos”, acrescenta.
A aposta dele é de que, com o sucesso das medidas, cidades do entorno de Lisboa repliquem o modelo de gratuidade dos transportes públicos. Em Cascais, cidade preferida dos milionários, sobretudo os brasileiros, ninguém paga passagem de ônibus. As empresas que prestam os serviços são ressarcidas por meio do excesso de arrecadação. Para a prefeitura local, nada mais justo do que transferir parte das sobras de caixa para subsidiar os mais pobres e os trabalhadores que circulam pelo município.
Consumo de água
Ainda dentro da pegada ambiental, Lisboa quer reduzir o consumo e os gastos com água potável. Segundo Moedas, a prefeitura arca, por ano, com uma fatura de 4 milhões de euros (R$ 22,4 milhões). “Essa água, muitas vezes, é utilizada para lavar as ruas ou para regar jardins. Não tem lógica. Pelo projeto ‘Agua Mais’, vamos buscar água usada nas estações de tratamento e não água de beber. Isso resultará numa economia enorme na conta de água da Câmara Municipal e também fará diferença em termos de sustentabilidade”, explica.
O mesmo projeto prevê a construção de dois túneis, com 70 metros de profundidade, para drenagem e escoamento de água em períodos chuvosos. Esses empreendimentos estavam parados há mais de 20 anos. “Lisboa foi construída sobre sete colinas, nos tempos dos romanos. A ideia era fazer cidades em cima dos rios, nos leitos de cheia, para que houvesse água para a agricultura. Obviamente, com o desenvolvimento urbanístico, os terrenos foram sendo impermeabilizadas e, portanto, a água desce dos pontos altos para os mais baixos, provocando alagamentos”, explica.
No início do ano, Lisboa ficou debaixo d’água, com mortes e perdas matérias enormes. “Tivemos duas cheias com as chuvas de 100 anos no espaço de uma semana. Temos de mitigar os efeitos climáticos e perseguir a meta de carbono neutro nas emissões”, frisa. “Com os dois túneis e um reservatório de 17 mil metros cúbicos, vamos levar a água das chuvas diretamente para os rios e reutilizar o que for necessário”, complementa.